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Como promover diversidade de gênero no ensino superior e CT&I?

23/maio/2023

Gênero e diversidade: educação superior pode quebrar ciclos de desvantagem de gênero, porém instituições precisam estar atentas e intencionais para fazerem a diferença

A educação superior traz benefícios significativos tanto para as mulheres como indivíduos, quanto para a sociedade como um todo. Um estudo realizado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) mostrou que um aumento de 10% na diversidade de gênero nas instituições leva a um aumento de quase 5% em sua produtividade. Além disso, o acesso à educação superior possibilita a independência econômica das mulheres, promovendo a igualdade e rompendo com desigualdades de gênero.

No entanto, as instituições de ensino superior também podem perpetuar a discriminação de gênero. Apesar de mais brasileiras concluírem o ensino superior em comparação aos homens, elas enfrentam ainda desafios na progressão de suas carreiras. A sub-representação das mulheres em posições de poder e liderança é evidente em diversas áreas do conhecimento.

Por isso, vamos falar sobre a importância de incluir mais mulheres no ensino superior e na área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Afinal, a participação feminina nesses campos não apenas promove igualdade, mas também interrompe ciclos de desvantagem de gênero. 

Promovendo lideranças femininas  

As mulheres estão significativamente sub-representadas em posições de poder e liderança no ensino superior em todo o mundo. No Brasil, isso pode ser observado no levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da UERJ, que mostra uma diminuição da presença de mulheres à medida que as carreiras progridem.

De acordo com a pesquisa, na maioria dos campos do conhecimento, é possível identificar uma queda na participação das mulheres conforme avançam nas etapas profissionais. Já em relação à docência, uma comparação feita pelo Laboratório de Estudos sobre Educação Superior (LEES) da Unicamp mostra que, enquanto 51% dos títulos de doutorado entre 1996 e 2014 foram obtidos por mulheres, o número de mulheres docentes nas universidades aumentou apenas 1%, passando de 44,5% para 45,5%.

O relatório “Gender equality in higher education: maximising impacts”, produzido pelo British Council, também aborda a questão do ambiente de ensino e aprendizagem para meninas e mulheres no ensino superior, afirmando que há pouca evidência de ações para melhorar esses contextos. Nesse sentido, é de suma importância promover ações que visem a mudança desse paradigma.

A Wylinka, por exemplo, foi parceira do British Council no programa “Treinamento Mulheres em Tech – Lideranças Inclusivas”. O objetivo da capacitação era alcançar mulheres pesquisadoras, profissionais ou empreendedoras das áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (“STEM” em inglês) que buscam desenvolver suas habilidades interpessoais e avançar em suas carreiras. Ao todo, 23 mulheres foram capacitadas por meio de uma jornada que incluiu conteúdos exclusivos e encontros virtuais.

O programa trouxe como aprendizado que a construção de um ambiente seguro para que mulheres com diferentes vivências possam se conectar traz como principal benefício a própria conexão entre elas. Por exemplo, para a sócia proprietária da Diagnóstico Funcional Bucal, Denise Barbosa, que participou do treinamento, a iniciativa lhe trouxe a oportunidade de conhecer mulheres incríveis. “Enriqueceu meus pensamentos e modo de agir”, conta.

Já a Gestora Técnica da Wylinka, Inaiara Cóser, destaca que os encontros lhe permitiram perceber como nós, mulheres, nos cobramos e nos culpamos demais. “Isso me fez refletir e ficar mais atenta sobre o que é prioridade e que está tudo bem não dar conta de tudo”, lembra.

Por que ações são necessárias?

Há uma disparidade significativa e persistente de gênero em uma série de áreas de estudo no ensino superior. A área de STEM, comentada acima, por exemplo, apresenta persistentes desafios de sub-representação e marginalização das mulheres. 

Questões de gênero em pesquisa e inovação incluem barreiras estruturais e preconceitos que impedem as mulheres de progredir, incluindo, inclusive, a distribuição de responsabilidades e liberdades fora do local de trabalho que impactam o progresso no ambiente acadêmico. Nas equipes de pesquisa os estereótipos de gênero contribuem também para um tratamento diferente e para diferentes chances de reconhecimento ou financiamento. 

Por exemplo, em países da UE em 2014, mulheres empregadas em pesquisa e desenvolvimento ganharam 17% menos do que seus colegas do sexo masculino, e essa diferença salarial aumentou com a idade (clique aqui). Além disso, em 2017, as mulheres constituíam apenas 27% dos membros do conselho de organizações de pesquisa na UE. 

No Brasil, o cenário não é muito diferente e as pesquisadoras tendem a ter carreiras mais curtas e remuneração inferior. Um estudo brasileiro, publicado em 2017, indicou que, em geral, as pesquisadoras recebem bolsas mais baixas do CNPq, se comparadas aos pesquisadores homens. 

Porém, esse problema vem desde a educação primária e secundária, onde uma combinação de estereótipos de gênero, currículos e modelos de papéis de gênero e outras barreiras ao engajamento igualitário são evidentes. Nesse sentido, acreditamos que é necessário abordar a questão da desigualdade de gênero desde a educação primária até a vida acadêmica. 

Além disso, é importante que as ações de apoio ao acesso ao ensino superior sejam direcionadas às áreas de estudo em que as mulheres são sub-representadas, ao invés de focar apenas nas áreas dominadas por homens. Estudos e ações no ensino superior são ferramentas importantes para legitimar e incorporar o aprimoramento da compreensão social da desigualdade de gênero, ao mesmo tempo em que produzem graduados capacitados com a motivação e as habilidades para trabalhar rumo a uma sociedade mais igualitária. 

Recomendações para promover a diversidade de gênero

É preciso enfrentar as barreiras estruturais e os preconceitos que impedem o progresso das mulheres, como a desigualdade salarial e a subvalorização do trabalho feminino. Diante desse cenário, algumas recomendações podem ser seguidas para promover a diversidade e igualdade de gênero no ensino superior e na CT&I:

#1. Priorize a integração de gênero e demonstre intencionalidade

  • Avalie sistematicamente como as questões de gênero são refletidas nos projetos.
  • Inclua recursos para especialistas em gênero no planejamento.
  • Realize treinamentos em igualdade de gênero.
  • Estabeleça objetivos e resultados explícitos de igualdade de gênero em todas as fases dos projetos.
  • Refine indicadores para analisar a desigualdade de gênero e progresso rumo à igualdade.

#2. Fortaleça o compromisso da liderança com a igualdade de gênero

  • Garanta que a liderança esteja comprometida com a igualdade de gênero.
  • Tome ações decisivas para enfrentar as desigualdades de gênero.
  • Comunique de forma clara e inequívoca o compromisso com a igualdade de gênero.
  • Considere o treinamento em “Liderança para a igualdade de gênero” para gestores.

#3. Afirme a centralidade do tema para a definição de qualidade e excelência

  • Defina padrões de igualdade de gênero como base para a definição de qualidade e excelência.
  • Garanta que os currículos sejam sensíveis ao gênero e transformativos.
  • Considere os benefícios e prejuízos para as mulheres nas decisões sobre modos de aprendizagem e colaboração.

#4. Aborde a sub-representação das mulheres na liderança no ensino superior

  • Comprometa-se com ações de longo prazo para eliminar obstáculos à liderança igualitária de mulheres.
  • Trabalhe práticas e políticas de recrutamento, promoção e normas institucionais.
  • Reconheça e recompense a excelência em liderança inclusiva.

#5. Adote uma abordagem integrada de longo prazo

  • Estabeleça ligações entre o ensino primário, secundário, o ensino superior e a carreira.
  • Busque sinergia entre programas e áreas complementares.
  • Planeje, monitore e avalie ações de longo prazo.
  • Utilize indicadores que vão além do sucesso individual, considerando o impacto nas comunidades e o papel dos participantes como embaixadores da igualdade de gênero.

Conclusão

O que queremos transmitir com este texto? A importância da representatividade! As mulheres devem se beneficiar, em número, pelo menos igual ao dos homens, dos programas que desenvolvem suas habilidades individuais. 

Os programas no ensino superior têm um impacto significativo na vida das mulheres, capacitando-as e tornando-as fonte de inspiração para outras, em um movimento onde uma puxa a outra. No entanto, para alcançar esse objetivo, as instituições e as pessoas devem estar atentas e agir intencionalmente para abordar o problema.

Saiba mais sobre como trabalhar juntas pode ajudar as mulheres a vencer a desigualdade de gênero! 

Fonte: Relatório Gender equality in higher education: maximising impacts

Autoras: 

Ana Calçado – CEO da Wylinka

Tuany Alves  – Analista de comunicação pela Wylinka

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