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Bioeconomia e inovação, juntas por uma Amazônia sustentável

04/abril/2022

O Brasil possui cerca de 50 mil espécies de plantas, o que lhe dá o posto de detentor da maior biodiversidade vegetal do mundo. Nessa imensidão a Amazônia Legal se destaca ao abrigar cerca de um terço das florestas tropicais do planeta (Imazon 2018). 

Porém, a região não é ícone apenas por sua beleza e diversidade. Acontece que a Amazônia também desempenha um papel muito importante na manutenção de serviços ecológicos, como garantir a qualidade do solo, dos estoques de água doce e proteger a biodiversidade. 

Diante disso, especialistas falam cada vez mais em Bioeconomia, área de estudo que propõe um novo modelo de produção baseado na oferta de soluções sustentáveis. Mas como a inovação entra nessa cama de gato? É sobre isso que vamos conversar nesse texto, confira! 

Primeiro, o que é Bioeconomia?

Já pensou em ser possível criar relações mais harmônicas entre o desenvolvimento econômico e a preservação do meio ambiente. Esse é o objetivo da bioeconomia!

Em entrevista ao jornal Estadão, o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), explicou que o conceito aborda a promoção de sistemas de produção baseados no uso e na conservação dos recursos biológicos da floresta em pé. 

Na prática a ideia é aliar os recursos naturais e os sistemas biológicos a novas tecnologias, para criar soluções mais sustentáveis que gerem impactos positivos não apenas na natureza, como para as comunidades envolvidas e a sociedade.  

Já a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Joice Ferreira, comentou em um evento online do Observatório de Comércio e Ambiente na Amazônia (OCAA), que a bioeconomia é muito plural e se adequa a diversas realidades que existem, inclusive, na Amazônia devido ao seu grande tamanho. Contudo, uma coisa é certa: a importância de desenvolvermos soluções que agreguem valor direto para as comunidades e contribuam para a conservação do bioma. “Uma industrialização a partir dos produtos da floresta de forma sustentável”, como destacou Nobre em um outro evento online do OCAA que abordou a viabilidade da bioeconomia na Amazônia

Foto por USAID de Pixnio

Idealizador do projeto Amazônia 4.0, Nobre destacou em entrevista ao Estadão que atividades extrativistas realizadas na região, apesar da pequena escala, já são mais lucrativas do que desmatar. O valor anual da produção de carne e soja, por exemplo, é de R$ 604 por hectare; no caso do açaí, cacau e castanha, chega a R$ 12,3 mil. 

E o potencial da região é ainda maior! Um estudo realizado pelo projeto Amazônia 2030, identificou que entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019, empresas sediadas na Amazônia exportaram 955 produtos diferentes. Desse total, pelo menos 64 podem ser considerados “compatíveis com a floresta”. A pesquisa aponta que à primeira vista, esse montante parece considerável, porém uma análise mais criteriosa revela que esse desempenho ainda é residual. 

O Brasil é um país relativamente fechado ao comércio exterior e manteve uma participação média no mercado global de 1,3%. Se a Amazônia conseguisse alcançar esse mesmo patamar na exportação de produtos compatíveis com a floresta, as suas receitas alcançariam cerca de US $2,3 bilhões. 

Oportunidades para Exportação de Produtos Compatíveis com a Floresta na Amazônia Brasileira, Projeto Amazônia 2030, 2021, página 09
Brigada Amazônia – Rota Cerrado Amazônica 25 a 27/09/2019 • Mato Grosso / Foto: Mídia Ninja

Amazônia, bioeconomia e inovação 

Como esse cenário pode ser mudado? É aí que a inovação entra nesse trio de campeões! 

O Brasil é líder mundial na produção de conhecimento científico no tema de biocompostos amazônicos. Segundo o estudo O potencial da inovação com base em ciência a partir da biodiversidade amazônica, realizado pela Emerge, esse volume cresce anualmente desde 2012. 

As publicações abordam principalmente saúde, cosméticos e alimentos e geram tecnologias que têm como mote o uso de novos insumos amazônicos ou o reposicionamento dos já existentes para outros fins em detrimento de novos processos. 

O mapeamento também chegou à conclusão de que há mais riqueza econômica, social e ambiental na floresta amazônica de pé do que deitada. Iniciativa também defendida pelo pesquisador Carlos Nobre destaca que devemos pensar sempre na agregação de valor dos produtos da floresta.

“Estudos mostram que sistemas agroflorestais em toda a Amazônia trazem renda cinco vezes maior do que a pecuária, duas vezes maior do que a soja, e beneficiam um número muito maior de pessoas”, Carlos Nobre em evento da OCAA

A ciência, tecnologia e inovação têm um papel fundamental nessa jornada! Por meio delas será possível promover o desenvolvimento econômico a partir de insumos amazônicos, gerando riqueza, resolvendo grandes problemas da sociedade e das indústrias, geração de novos produtos e processos e, sobretudo, preservando a floresta.

Nesse cenário, a Amazônia tem visto nascer startups com foco em atividades sustentáveis, baseadas em produtos e projetos locais. Um exemplo é a startup Biozer que usa óleos extraídos de árvores e plantas da Amazônia na produção de óleos fitoterápicos, cremes e, em breve, gel, espuma para limpeza facial e suplemento alimentar de frutas da região – todos com a marca Simbioze Amazônica, criada pela empresa.

Com cosméticos 100% naturais produzidos em Manaus (AM), a startup foi criada há três anos por Danniel Pinheiro, que é formado em biotecnologia, em parceria com o administrador Domingos Amaral. O empreendimento começará a exportar para EUA, Dubai e Europa ainda este ano.

Já  César de Mendes, da startup De Mendes, apostou na parceria com vários povos tradicionais da floresta – quilombolas, ribeirinhos e indígenas -, aos quais ensinou a fermentar a polpa com sementes, secar e macerar para obter o pó usado para fazer chocolate. O produtor, que teve seu chocolate premiado em festivais de Paris, vê nessa parceria uma forma de preservar a Amazônia.

A expectativa é que a economia verde, ou de baixo carbono, como essas ajudem a Região a dar um salto em sua participação no Produto Interno Bruto (PIB). 

Quando os saberes locais se unem a inovação

Foto: Pixabay

Tudo isso mostra que a Amazônia já abriga empreendimentos que produzem produtos compatíveis com a floresta com alta qualidade. Segundo Maria Nice Machado, representante do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), o problema são as diversas invasões da Amazônia. 

Ela ressaltou – em evento on-line do OCAA – que a comunidade está cansada das invasões: de búfalos, soja, grandes empreendedores,etc. Para a presidente da Associação de Comunidades Negras Quilombolas do Maranhão, o que falta é a comunicação e investimento. 

Demanda já mapeada e abordada em programas da Wylinka, como o Circuito StartupTech – Desafios da Amazônia. Programa de formação empreendedora, com foco na transformação do conhecimento acadêmico em novos empreendimentos de base tecnológica, que teve sua última edição em 2021, em parceria com a Fundação Cargill, nas cidades de Santarém (Pará) e Porto Velho (Rondônia).

Para se ter uma ideia, a equipe Tarutech – que ficou em segundo lugar na edição de Santarém – propôs a utilização de tecnologias que dão qualidade e segurança na fabricação de produtos à base de Tarubá (bebida leitosa tradicional dos povos indígenas da Amazônia, preparada à base de mandioca). Seu portfólio irá conectar o paladar do consumidor à região Norte, por meio do oferecimento de produtos desenvolvidos a partir desse ingrediente.  A ideia é que parte da venda do produto retornará para as aldeias envolvidas. 

Já na edição de Porto Velho a equipe Vale do Silício, primeira colocada, propôs o oferecimento da acessibilidade tecnológica a pequenos empreendimentos familiares por meio do projeto Consulagrotech. A ideia é utilizar drones para tornar mais eficiente o processo de gerenciamento da safra e, assim, atingir melhores resultados a partir de decisões mais assertivas de manejo embasadas em informações. 

Também tivemos propostas que abordaram a comunicação. Um exemplo foi a equipe Diamantes, na edição de Porto Velho, que abordou o desenvolvimento do aplicativo Foodagro que busca conectar o pequeno produtor rural aos mercados, hipermercados, feirantes, mercadinhos de bairros e ao consumidor final. A ideia é que a plataforma mostre os produtos oferecidos pelo produtor como frutas, legumes, verduras e cereais frescos.

Quer conhecer mais iniciativas que buscam enfrentar os desafios da alimentação sustentável na Amazônia? Baixe o ebook do Circuito StartupTech – Desafios da Amazônia!

Foto: Pixabay

Juntos somos mais fortes

Conheça iniciativas que abordam a bioeconomia e a sustentabilidade da Amazônia:  

  • Amazônia 4.0

Iniciativa, liderada por pesquisadores, que buscará promover novas oportunidades de pesquisa, tecnologia e aprendizado para valorizar e proteger os ecossistemas amazônicos e para servir igualmente aos interesses das populações locais, povos indígenas e tradicionais. A ideia é aproveitar o valor da natureza por meio das oportunidades de mercado para produtos e serviços sustentáveis. Saiba mais aqui.

  • Bioeconomia e o desenvolvimento sustentável da Amazônia

A ABio tem por objetivo estatutário promover a pesquisa científica e tecnológica, a inovação, o empreendedorismo, a educação, voltados à bioeconomia e o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Por meio do CBA, a ABio pretende criar um ecossistema de PDI&E (Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e Empreendedorismo) voltado para a biotecnologia, contribuindo de forma significativa para viabilizar a bioeconomia enquanto protagonista do PIB da Amazônia. Saiba mais aqui

  • Amazônia 2030

O projeto Amazônia 2030 é uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de ações para a Amazônia brasileira. Nosso objetivo é que a região tenha condições de alcançar um patamar maior de desenvolvimento econômico e humano e atingir o uso sustentável dos recursos naturais em 2030.  Saiba mais aqui.

  • Chapter 30 In Brief 

The new bioeconomy in the Amazon: Opportunities and challenges for a healthy standing forest and flowing rivers. Saiba mais aqui.

Fontes

https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/08/23/baseadas-em-ativos-da-floresta-startups-da-amazonia-impulsionam-a-bioeconomia.htm

https://www.estadao.com.br/infograficos/economia,startups-da-amazonia-impulsionam-a-bioeconomia,1114482

https://pagina22.com.br/2021/02/01/o-valor-da-diversidade-para-a-bioeconomia/

AutoraTuany Alves (jornalista e analista de comunicação pela Wylinka)

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