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Conheça o pesquisador que quer construir um ecossistema de inovação no interior de Pernambuco

04/abril/2023

O ecossistema nordestino de startups tem vivido um processo intenso de evolução. Para se ter uma ideia, um mapeamento da ABStartups aponta que existem 1.171 startups no Nordeste. A maioria delas se concentra nos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará.

Nesse contexto, surgem diferentes agentes de inovação que ajudam a desenvolver e a sustentar o ecossistema na região. Em Salgueiro, município brasileiro do interior do estado de Pernambuco, por exemplo, Marcelo Santos é um desses agentes de inovação. 

Por muito tempo, o pesquisador do Instituto Federal do Sertão de Pernambuco (IF Sertão PE), se dedicou à produção científica. Porém, sentia a necessidade de ver uma ponte mais clara entre o que produzia nos laboratórios com as demandas da sociedade. A possibilidade de fazer isso veio com o programa Catalisa ICT, projeto do Sebrae que conta com o apoio da Wylinka, onde foi despertado para o empreendedorismo e, desde então, busca mudar a sua realidade e a de seus estudantes no interior do Nordeste. 

Quer saber mais sobre essa história? Pegue um café e um bloquinho de notas e venha com a gente! 

Os primeiros passos para uma mudança cultural

Marcelo Santos é de Maceió, porém fez mestrado em São Paulo. Já o seu doutorado foi feito em Recife, período em que ele resolveu ir para Salgueiro, no interior do Nordeste. O pesquisador já está na cidade há quase sete anos e conta que acabou se apaixonando pelo município que abriga 60 mil habitantes e que tem como atividades econômicas, predominantes a agricultura e o comércio varejista. “É uma qualidade de vida muito grande. Porém, por outro lado, temos alguns problemas sociais como, por exemplo, a falta de ônibus na cidade – só há ônibus da prefeitura”, conta.  

Outro ponto marcante na trajetória do professor foi sua participação no programa Catalisa ICT. Segundo Marcelo, ele já tinha trabalhado em projetos de inovação com instituições internacionais, mas a visão acadêmica é muito diferente da de empreendedorismo, o que o deixou maravilhado. “Eu achei fantástico, porque antes eu fazia projetos na academia, mas não tinha a ideia de que alguém iria usar aquele conhecimento de forma prática. Na minha visão, era mais no sentido de que ‘algum dia, um pesquisador pode pegar esse estudo e melhorar alguma parte dele’”, lembra.

No Catalisa ICT, Marcelo e sua equipe começaram a fazer capacitações que mudaram suas visões sobre o fazer científico. Segundo o pesquisador, por meio do projeto, eles começaram a questionar o produto que estavam desenvolvendo. “Era todo um conjunto de conceitos que eu nunca tinha ouvido falar, mesmo fazendo doutorado internacional e participando de eventos por vários países. Nunca tínhamos parado para refletir sobre a necessidade de pensarmos de uma forma mais objetiva”, destaca. 

A partir dessa mudança de chave, começaram a pipocar ideias no grupo, funcionando como um efeito cascata para começar a construir uma cultura empreendedora no grupo A primeira mudança foi, justamente, na forma como Marcelo Santos administrava suas aulas. 

O professor conta que agora ele pede que os estudantes produzam um canvas de modelagem de negócios e identifique quais serão os seus canais de venda, o público-alvo de suas soluções e métodos de validação. O que, segundo ele, faz com que os estudantes vejam mais sentido no que estão fazendo. 

“Quando comecei as capacitações pensei: meus alunos têm de pensar desse jeito também. O que me impactou muito, porque como docentes, podemos ser um pouco teimosos. Pensamos  ‘eu sei como dar aula’, mas sempre há coisas que podemos aprender”, conta. 

Além disso, o conhecimento aprendido no programa mudou a percepção de Marcelo sobre como ele desenvolve seus projetos, acendendo uma  luz para o pesquisador sobre a importância da inovação e do empreendedorismo. Tudo isso, gerou uma vontade de proporcionar mais oportunidades para os estudantes da sua região. 

Construindo possibilidades

Segundo Santos, ao olhar para o cenário local, eles precisavam de muitas coisas para criar um ecossistema de inovação no município. O pesquisador conta que, ainda hoje, quando se fala sobre startup no Instituto, muitos não entendem bem o que é. “Sabem só de ouvir que a Uber era uma, mas não entendem a jornada, o que é investimento anjo. Tudo isso ainda fica muito distante”, comenta. 

Outro desafio era a estrutura disponível, que era muito antiga ou, até mesmo, inexistente. “Quando cheguei aqui, senti falta de uma estrutura para podermos trabalhar melhor. Não tinha um laboratório para inovação”, lembra. Então, Marcelo e sua equipe resolveram focar nesse problema e entraram em ação para mobilizar pessoas para construir essas estruturas. 

A ação deu frutos e, a partir de chamadas e editais, a equipe implantou um laboratório maker no Instituto.

“Estamos no Sertão, em uma cidade pequena e, de certa forma, ainda estamos engatinhando. Ter hoje um espaço de mais de um milhão de reais para usarmos para desenvolver projetos é uma grande conquista”, destaca. 

Além do Laboratório, outro passo importante que a equipe deu foi a fundação de uma incubadora, que hoje conta com 16 empresas incubadas. Segundo o pesquisador, tudo isso pode ajudar a formar profissionais melhores. “No empreendedorismo, a cobrança é diferente, então conseguimos preparar melhor os estudante para o mercado de trabalho, além de trabalhar uma forma de pensar diferente, que os leva a desenvolver soluções para um problema e não só pensar na tecnologia. Além disso, por termos uma estrutura melhor, iremos conseguir formar estudantes melhores”, ressalta. 

O pesquisador também acredita que todas essas ações poderão ajudar a desenvolver uma cultura empreendedora, impactando, inclusive, a economia local com a  criação de startups – o que irá gerar renda e empregos no município. “A construção de tudo isso está permitindo mudar a cultura na academia e isso só está sendo possível graças ao Catalisa ICT”, conta Marcelo Santos. 

Os desafios de empreender

Contudo, esse caminho nem sempre é fácil. Segundo Marcelo Santos, um desafio grande é a própria conscientização dos pesquisadores sobre a importância da inovação e do empreendedorismo. O pesquisador conta que quando se está em um cenário acadêmico, virar a chave é muito difícil. 

Para isso, o grupo já está planejando os seus próximos passos e estratégias, inclusive, para manter as estruturas construídas funcionando, uma vez que eles se encontram dentro de uma instituição federal e que o recurso não é imediato. “Precisamos de estagiário, bolsista, técnico, então vamos mobilizar muita gente ainda para tudo rodar. Para isso, iremos tentar nos filiar à Lei da Informática, para fechar parcerias com empresas, tentaremos formar um polo Embrapii, tirar a certificação Cerne”, exemplifica algumas das ações. 

Como nasce um ecossistema de inovação?

Há uma década a Wylinka fomenta os ecossistemas de inovação! Por aqui, já executamos diversos programas de apoio à inovação de base tecnológica, como o Catalisa ICT (mencionado acima), o Bloom Innovation Spaces (BIS), que capacita e desenvolve profissionais de incubadoras e ambientes de inovação, e o programa Atômica: Aceleração para Startups Científicas que está com inscrições abertas até o dia 17 de abril.

Por isso, também sempre estamos produzindo conteúdos sobre o tema aqui na DEEP. Um deles, por exemplo, fala sobre quatro indicadores chaves para medir um ecossistema de empreendedorismo, assim como guiar a sua construção. São eles densidade, fluidez, conectividade e diversidade. 

Para densidade,por exemplo, podem ser medidos o número de novas empresas por habitante e empregos gerados. Já a fluidez é avaliada por meio de fluxos populacionais, dados de realocação empresarial e número de empresas de alto crescimento. A conectividade é medida pelo volume de programas de conexão, taxa de spin offs e número de pessoas conectadas na região e a diversidade leva em conta a participação de imigrantes e a mobilidade econômica do ecossistema. 

É importante lembrar que esses indicadores podem variar de acordo com a região geográfica, cultura local e outros fatores contextuais. Assim como é possível que alguns indicadores sejam mais relevantes para algumas regiões do que para outras. Além disso, outros fatores, como infraestrutura e recursos locais (abordados na jornada do Marcelo), também desempenham um papel fundamental no sucesso de um ecossistema empreendedor. Saiba mais aqui!

Quer saber mais sobre ecossistemas de inovação e empreendedorismo? Não deixe de nos seguir nas redes sociais — Instagram e Linkedin — para ver as novidades e as oportunidades! 

Tuany Alves  –  jornalista especializada em divulgação científica e analista de comunicação pela Wylinka.

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Camila
Camila
11 meses atrás

Acabei de ler seu artigo e achei o blog muito interessante, tem muita informação que eu estava procurando. Contemplados !

Naiara
Naiara
1 ano atrás

Gostei do seu poste, existe muitos artigos em seu blog relacionado a este que acebei de ler gostei de seu blog. Meu blog: Veja aqui

ENIR andrade
ENIR andrade
1 ano atrás

Deus abençoe
Extremamente interessante para os jovens estudantes e futuros empreendedores e cidadoes do amanhã

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