Deep Techs e Startups

Investimento em Deep Tech: a nova onda da inovação

05/maio/2022

Investir em deep tech ou não, eis a questão! Veja porque o mercado tem apontado que esse é um bom negócio, mas que precisa ser feito com uma lógica adequada.

Fusion, o primeiro avião supersônico após o Tupolev, a revolução do biodesign, táxis voadores e uma vacina desenvolvida em tempo recorde: o que essas inovações têm em comum? Todas só foram possíveis por causa das Deep Techs.

Já falamos por aqui como as deep techs são um novo capítulo da história da inovação. Afinal, estima-se que, só na Europa, essas empresas tenham recebido US$ 8,4 bilhões em investimentos, em 2019. O que indica um aumento de mais de 25% em relação a 2018, quando os investimentos chegaram a US$ 6,4 bilhões na região.

Uma pesquisa da Hello Tomorrow confirmou um aumento nos valores de investimento de US$ 360 mil para US$ 2 milhões entre 2016 e 2019. Segundo o relatório, as estimativas preliminares indicam que os investimentos privados divulgados em deep tech por “Investidores Inteligentes” aumentaram de US$ 0,9 bilhão para US$ 5,2 bilhões entre 2016 e 2020, passando de 20 para 44 negócios. 

Fonte: relatório Deep Tech – The Great Wave of Innovation

Tudo isso escancara uma verdade: agora é hora dos líderes empresariais, assim como os cientistas e empreendedores, reconhecerem essa oportunidade e entender as regras do jogo das deep techs! Esse texto é baseado no artigo, original em inglês, Deep Tech: The Great Wave of Innovation da Hello Tomorrow 🙂

Direcionadas por propósito

Quando falamos sobre deep tech, normalmente, a primeira pergunta é: quais tecnologias são consideradas deep techs? Para a Hello Tomorrow a resposta é que não existe uma “tecnologia profunda”.

O que há então? Uma nova abordagem de inovação que, assim como o Design Thinking e o Lean Startup, revolucionou a inovação e a criação das startups digitais. Nesse sentido, a Deep Technology é a abordagem que molda a quarta grande onda da inovação – que estamos iniciando neste momento – caracterizada pela participação da ciência e pela criação de startups que integram bytes e átomos. 

O relatório destaca que a abordagem deep tech atende aos seguintes critérios:

  • Direcionada por propósito – a chave para que desafios complexos e sistêmicos, do campo social e ambiental, sejam corretamente endereçados é o mergulho profundo na compreensão desses problemas. Isso demanda a tradução deles em oportunidades e o desenho de soluções orientadas por resultados.
  • Design, conhecimento científico e expertise em engenharia – é preciso o olhar de design para ganhar profundidade na compreensão do problema; profundo conhecimento científico em mais de uma área para saber empregar tecnologias de fronteira para tornar novas realidades possíveis e uma visão de engenharia para desenhar um produto que seja viável e amigável ao público consumidor.
  • Convergência de tecnologias e saberes científicos – para solucionar problemas complexos e gerar soluções revolucionárias é importante usar a visão de futuro (outcome driven) como norte e manter o foco aberto no que se refere ao emprego de tecnologias. As grandes startups deep tech contam com parcerias entre diversas universidades e centros de pesquisa que trabalham em colaboração para gerar resultados concretos dentro do propósito escolhido.
  • Obedecer ao ciclo DBTL (Design – Build – Test – Learn) – ele já é usado pelas startups, porém, no caso das deep techs, esse ciclo apresenta peculiaridades e pode trazer muito mais impacto como, por exemplo, reduzir o ciclo de desenvolvimento de anos para meses.

Para Maristela Meireles, nossa gestora de Marketing, no caso da inovação Deep Tech, é muito importante que os empreendedores de base acadêmica e as instituições que aceleram a inovação se atenham ao ciclo DBTL e utilizem essa dinâmica para formular as perguntas e hipóteses corretas para a inserção da tecnologia no mercado.  

“Escolher a aplicação errada ou negligenciar a validação da necessidade do usuário e depois do mercado pode ser letal para a startup!”, destaca.

O gráfico abaixo demonstra a visão da Hello Tomorrow para ampliar horizontes e gerar inovações bem sucedidas nas startups Deep Tech. Primeiro: o foco no problema e a visão de resultados é o vetor que norteia as decisões de desenvolvimento (seja desenvolvimento de mercado ou tecnológico); em segundo lugar, a convergência de abordagens – design, engenharia e ciência – e de tecnologias permitem o desenho de um produto com alto grau de inovação e disrupção; em terceiro, o ciclo DBTL dá ao time empreendedor um processo para desenvolvimento de soluções com alta eficiência.

Confira como a abordagem deep tech, proposta pelos autores, expande o potencial de inovação das startups

Fazer ciência está ficando mais barato! 

A difusão e o barateamento das tecnologias da informação, somados ao avanço da biotecnologia, aumentaram a viabilidade de algumas verticais tecnológicas como impressão de tecidos vivos, nanotecnologia, telemedicina e inteligência médica artificial. Para se ter uma ideia, esse report produzido pela Wylinka mostrou como a convergência de tecnologias está aumentando o acesso a soluções de diagnósticos e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis.

Além disso, a evolução de algumas tecnologias de informação tem quebrado barreiras da inovação. A computação de dados está mais eficiente, o que facilita outros processos, como por exemplo, a descoberta de medicamentos, com auxílio de algoritmos. Equipamentos, acesso à infraestrutura e outros processos tecnológicos, como sequenciamento de DNA estão mais baratos também.

Outros fatores que têm contribuído significativamente para remover essas barreiras são a inovação aberta, o uso de frames, metodologias e ferramentas juntamente com o crescimento do acesso à informação. Segundo o artigo, mesmo o capital, que apesar de ainda não ser suficiente, tem aumentado significativamente nos últimos anos, sendo mais um facilitador para o surgimento das deep techs.

A crescente confiança dos investidores em tecnologia profunda, assim como as grandes empresas, confirma esse potencial.

Cabe destacar que as áreas tecnológicas, que recebem aportes, também estão se diversificando 😀

Fonte: relatório Deep Tech – The Great Wave of Innovation

Investir em Deep Tech é investir em impacto!

O relatório da Hello Tomorrow corrobora a visão da Wylinka sobre impacto socioambiental por meio da aplicação de ciência e tecnologia nas inovações. Acreditamos que os grandes problemas da sociedade demandam soluções de fronteira, que rompam com o status quo e viabilizem o que pode parecer impossível. 

A ciência e a tecnologia podem ser essa ponte para um mundo totalmente novo, como aponta a tendência nesse gráfico em que a maioria das startups deep tech endereçam grandes problemas e se relacionam com os 17 ODS da ONU.

Investir em deep tech ou não, eis a questão! Lemos o relatório da Hello Tomorrow e vamos te mostrar porque esse é um bom negócio.
Fonte: relatório Deep Tech – The Great Wave of Innovation

No Brasil, o investimento em startups, que unem ciência e tecnologia, vem sendo impulsionado por hubs de inovação e gestores de venture capital especializados em diferentes áreas do mercado. Porém, esse potencial pode ser ainda maior, por exemplo, quando pensamos que o Brasil é líder mundial na produção de conhecimento científico no tema de biocompostos amazônicos.  

Porém, Maristela destaca que para manter preservada a motivação de utilidade é preciso focar no problema a ser resolvido, como propõe o relatório. “Por que concordamos com isso? Na realização dos programas de inovação da Wylinka percebemos que empreendedores de base científica têm uma tendência a desenhar seus produtos orientados pela tecnologia, o que pode levar a startup a desenhar soluções com propostas de valor fracas”, conta. 

“Minha opinião é que se estamos falando de mudar o mundo e resolver grandes problemas, esse rigor na orientação pelo problema é essencial para levar as startups ao sucesso na disrupção de fronteiras. O que observamos é que muitos pesquisadores e cientistas participam de programas de inovação com interesse em transferências de tecnologias e desenvolvimento de parcerias com startups e grandes empresas”, conta Maristela.

Para contornar essa situação aqui na Wylinka, dedicamos uma boa parte das nossas atividades com essas startups no trabalho de design e entendimento do problema. A ferramenta de desafio estratégico é um passo crucial para que esses empreendedores encontrem a pergunta certa e determinem um escopo estratégico de pesquisa, ou seja, nem muito amplo – que não possa ser gerenciável -, nem muito fechado que não deixe espaço para inovação no desenho de produto.

O Paradoxo da Orientação pelo Problema

Para a criação de uma solução viável e escalável, o correto endereçamento do problema de mercado é o ponto central, isso é dado como fato. Isso faz com que empreendedores motivados a mudar o mundo criem soluções sensacionais dirigidos pelo seu propósito de transformação.

Na visão da Wylinka, o problema, quando falamos em ciência, é que na maioria das vezes os empreendedores acadêmicos compartilham de um propósito de geração de conhecimento e avanço tecnológico per se. Nesse sentido, chegam aos programas de pré-aceleração e aceleração tecnologias incríveis, muitas vezes em TRLs avançadas, com aplicações pouco viáveis.

“Se o propósito desse time empreendedor é transferir tecnologia, muitas vezes o direcionamento de negócio se baseia na pivotagem de problema e não na pivotagem de solução. Se para a primeira aplicação não há mercado, vamos achar uma oportunidade com melhor fit para essa base tecnológica. De certa forma, esse tipo de pivotagem mantém o foco na tecnologia (e consequentemente na solução), o que é contra intuitivo quando pensamos no ciclo DBTL.”, compara Maristela. 

Observamos esse paradoxo diariamente nos programas da Wylinka e a nossa opinião é que esses caminhos não se excluem. O time responsável pela solução precisa tomar uma decisão que se conecte com o seu propósito e os mantenha motivados. 

Seu objetivo é fazer ciência e transferir? Segundo a gestora, talvez você vá usar seu talento empreendedor para trabalhar em parceria com uma startup ou empresa que puxa a visão de orientação para o problema. “Se você receber investimentos ou fechar parcerias, precisará estar disposto a direcionar seus novos ciclos de desenvolvimento para os resultados desses parceiros. Agora, se a sua tecnologia ainda é embrionária e/ou se você tem vontade de abrir a sua empresa, mergulha no problema, aproveita o que for possível do seu ativo tecnológico e abraça o ciclo DBTL para focar numa jornada mais orientada ao usuário, buscando inclusive parcerias com outros pesquisadores para materializar a transformação que você propõe”, recomenda. 

Como alcançar isso?

O report da Hello Tomorrow mostra alguns desafios das deep techs que temos constantemente abordado por aqui. Os principais são:

  • A necessidade de mudar o mindset dos empreendedores/cientistas com o objetivo de criar uma cultura que foca no problema e não na tecnologia, assim como promover a soma de esforços tecnológicos para executar uma visão de resultados.
  • A necessidade de mudar o mindset das empresas e investidores. As grandes empresas às vezes têm o know-how de engenharia para desenvolver as soluções, mas carecem de visão de problema; já os investidores têm o foco na oportunidade de mercado, mas carecem de conhecimento técnico para avaliar a viabilidade desses investimentos. 

É preciso entender que os modelos atuais de investimento, com parâmetros já testados em startups digitais, não atendem a lógica da abordagem deep tech. O que faz com que a maior parte do investimento acabe caindo em áreas tecnológicas com ciclos mais validados como ciências da vida e inteligência artificial. É hora de entendermos esse cenário e as oportunidades que se abrem nessa nova onda, usar um modelo adequado é o primeiro passo! 

E se você gosta de tecnologia e inovação, não deixe de nos seguir nas redes sociais — Instagram e Linkedin — para ver as novidades! Aqui na Wylinka não só acompanhamos tecnologias de fronteira como auxiliamos pesquisadores e inventores a transformar tudo isso em negócios e impacto para o Brasil, então talvez algum de nossos programas funcione para você. 😉


Acesse o report da Hello Tomorrow na íntegra aqui!

AutorasMaristela Meireles – Gestora de Marketing na Wylinka, ja atuou na capacitação de empreendedores e no desenvolvimento de metodologias para nossos programas de inovação e aceleração de soluções. / Tuany Alves – Jornalista e analista de comunicação na Wylinka.

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