Pare de emular o Vale do Silício: duas regiões empreendedoras das quais você talvez nunca ouviu falar.
Pare de emular o Vale do Silício: duas regiões empreendedoras das quais você talvez nunca ouviu falar.
Já falamos em posts anteriores, há um risco muito grande em se ficar monotematicamente dizendo que o Brasil precisa aprender com o Vale do Silício — isso pois o processo histórico de formação do Vale tem suas características únicas, a infra-estrutura regional é diferente e diversos outros pontos são questionáveis, todos eles falamos nesse post aqui. Partindo disso, resolvemos apresentar dois casos legais que aprendemos com práticas em lugares do mundo que temos contato e que quase ninguém conhece.
Estônia
A Estônia, também conhecida como e-Stonia, é um país que se encontra próximo a uma região (países nórdicos) altamente privilegiada: região com maior concentração de “billion dollar companies” fora do Vale do Silício, contando com uma Finlândia e seus grandes cases (Rovio, Supercell, Nokia etc.) e uma Suécia, com sua concentração de 6.3 “billion dollar companies” a cada milhão de habitantes e tendo sido berço de Skype, Spotify, Linux, Mojang etc.
A região, como sempre defendemos, sempre ajuda. O resultado? A Estônia hoje é um dos países mais avançados quando o assunto é relação da população com o universo digital, fato que influencia diretamente na inovação do país. Disso, alguns fatores interessantes surgiram:
1. Em 2000, foi instaurada uma lei que constitui a internet como um direito básico humano no país — o acesso wi-fi, que é uma das mais rápidas do mundo, desde então é norma.
2. Primeiro país a ter votos online nas eleições, e os impostos são todos declarados via app mobile. Além disso, o registro de saúde de todo cidadão é registrado na nuvem e você pode acessar a qualquer momento, de qualquer lugar. Abrir uma empresa? Também é desse jeito por lá.
3. O projeto educacional mais relevante atual é o ProgeTiiger, focado em ensinar programação para crianças a partir dos 5 anos em todas as escolas.
E assim surgiu um país, fruto de um caos da União Soviética, que precisou se rearranjar e correr atrás do prejuízo de maneira criativa e tecnológica. E aí a pergunta: qual o real impacto disso tudo em inovação além de um contato profundo com o universo digital? Duas palavras: Skype (o software foi criado na Estônia) e Kazaa — e possivelmente muita coisa vem por aí.
Singapura
Singapura pode não ser tão conhecida por suas startups, apesar de ter algumas que valem mais de um bilhão de dólares, como Garena e VNG (assim como uma das pioneiras na atuação com MP3, a Creative Labs), porém, se destaca por ter construído um ecossistema promissor e que tem se tornado mundialmente reconhecido por sua infra-estrutura diferenciada para a criação de startups de tecnologia.
E como se organizou essa infra-estrutura? Em primeiro lugar: o ambiente legal é super simplificado e com poucos atritos, sendo uma cidade-estado que respeita questões de propriedade intelectual, que tem mínimas barreiras para processos de transferência de tecnologia vindos de pesquisa acadêmica, que possui um processo de abertura de empresas ágil (há quem diga que em menos de uma hora você consegue abrir uma empresa na região) etc.
Mas mais que isso, alguns pontos são interessantes quando se fala em promoção das startups da região:
(i) Hubs de inovação: Há o Block 71 — um prédio feito para as startups bem próximo da Universidade Nacional de Singapura, além de outros hubs de startups curiosamente chamados de “Fusionopolis”, “Biopolis” — onde são feitos, por parte do governo, esforços bem maduros de aquecimento do ecossistema. A fusionopolis, por exemplo, tem como lema — “onde a ciência encontra os negócios e as artes”.
(ii) Esforços para fomento financeiro: A construção de uma atmosfera saudável para a criação de startups naturalmente têm atraído investimentos, a indústria de venture-capital cresceu de US$ 30 mi em 2011 para US$1bi em 2013. Em 2014, ocorreram no mínimo 10 exits locais de startups na região, o que a tornou mais atrativa para investidores. E mesmo assim — com o cenário aquecido e bem movimentado — o governo não poupa esforços para melhorar o ecossistema — recentemente, dia 21 de Setembro de 2015 (esse post foi feito no dia 23), o governo anunciou que irá investir mais 28 milhões de dólares em startups.
(iii) Investimento em cultura: o ambiente de Singapura vive um momento de alto crescimento (embora o último trimestre tenha sido influenciado por problemas com o mercado Chinês), o que influencia na estabilidade e na oferta de empregos do país — fator muitas vezes considerado como nocivo para a geração de negócios. Para lidar com isso, o governo reforça a importância do empreendedorismo através de discursos — até postagens no facebook sobre o tema, por parte do primeiro ministro, ocorrem — e estímulos à conscientização por parte da mídia (o que já ocorreu em outros países, como Porto Rico).
Bom, ecossistemas de empreendedorismo é um tema que nós da Wylinka somos bastante dedicados — e talvez por isso fomos a organização executora do SEED-MG, fazemos trabalhos de desenvolvimento de incubadoras e empresas incubadas do Estado de MG como no programa BloomBTech, atuamos com o SEBRAE-MG no desenvolvimento das startups da região através do Go Minas e fazemos diversos outros trabalhos, sempre carregando a consciência de uma instituição com fins não econômicos e a paixão de quem acredita que empreendedorismo pode melhorar o Brasil. Poderíamos passar dias escrevendo sobre modelos que estudamos no mundo inteiro, mas o post ia ficar longo demais, portanto, deixamos esses dois como um gostinho de tudo que já aprofundamos, e se quiser aprofundar também, fique com esses links:
Financial Times: Watch out Silicon Valley, here comes Europe
Tech Republic: From Angry Birds to Nokia castaways, Finland’s startup scene has huge ambitions
Telegraph: How Sweden became the startup capital of Europe
Harvard Business Review: How Singapore became an Entrepreneurial Hub
Esperamos ter sido úteis! 🙂