Deep Techs e Startups

Como avaliar uma Deep Tech? Conheça o modelo Cloverleaf

05/setembro/2023

Deep Tech – Nos últimos 10 anos, uma das nossas principais funções como Wylinka foi a avaliação do potencial de deep techs – seja por meio de programas de aceleração de deep techs, como a parceria com o Sebrae for Startups no Atômica, seja em programas de capacitação de cientistas, como o StartupTech, ou seja na avaliação de portfólios de tecnologia, como fizemos com a Fiocruz.

O processo de avaliação de uma deep tech tem natureza bem mais complexa do que a avaliação de uma startup baseada em software, pois abrange a maturidade da inovação tecnológica, a profundidade técnica requerida por parte dos inventores, questões ligadas à propriedade intelectual da invenção e muito mais elementos. E é por esse motivo que sempre destacamos o risco de replicar modelos tradicionais de startups para o contexto de tecnologias intensivas, o que acaba sendo um caminho.

Diante desta complexidade, métodos de avaliação para deep techs passam a ser fundamentais – apesar disso, esses métodos ainda são escassos e pouco difundidos. Aqui, já discutimos alguns processos, tais como o modelo do Biodesign de Stanford, ou um modelo de filtros para deep techs baseado no trágico caso da Theranos

E é esse o motivo do texto de hoje: apresentar uma ferramenta nova que temos começado a utilizar na Wylinka para avaliação de deep techs, o Cloverleaf – ferramenta que uma ex-colaboradora da Wylinka encontrou em um curso de Harvard chamado ‘From Lab to Market’. Vamos lá então?

A origem do Cloverleaf

O modelo Cloverleaf foi originalmente publicado em 2001 no Journal of Technology Transfer por pesquisadores da Universidade de Ottawa, Canadá. Esse foi um período de bastante efervescência no debate sobre avaliação de tecnologias, e um dos elementos centrais era o período de implementação da ideia de ‘Technology Readiness Level’ (TRL), que começava a ser implementado pela NASA e pelo governo americano em seus processos de avaliação de tecnologias com uso intensivo de conhecimento. 

O TRL surge como uma maneira fácil de diferenciar o ‘estágio de maturidade’ de uma invenção, organizando-a em níveis distintos, como ‘somente uma ideia’, ‘pesquisa básica’, ‘teste em escala reduzida’ e ‘fase pré-comercial’. Como sabemos, e ficou mais claro durante a pandemia com as vacinas, em ciência as coisas precisam passar por diversas fases de teste para se provarem viáveis para uso irrestrito, e, por isso, é necessário ter clareza sobre em qual estágio a tecnologia se encontra. Para saber mais sobre o TRL, o pessoal da FAPESP escreveu um excelente texto sobre o tema, e você pode ver a escala resumida na imagem abaixo.

Além do Technology Readiness Level, outros debates sobre o ‘Readiness’ começaram a surgir. Alguns autores entenderam que não era necessária somente a maturidade da tecnologia, mas também a maturidade do negócio, do mercado, do time fundador e muito mais. Aqui surgiram debates e discussões envolvendo o conceito de Investment Readiness, como no famoso estudo de Wright e outros sobre Venture Capital, Spin-offs Universitárias e outros elementos.

E é nesse emaranhado de discussões que surge o modelo do Cloverleaf. Como diz o nome, que vem do nome da planta Trevo (a famosa de 4 folhas que dá sorte), o Cloverleaf busca analisar uma deep tech a partir de 4 pilares distintos: maturidade de mercado, maturidade tecnológica, maturidade comercial e maturidade de gestão. 

Ao ir além da maturidade tecnológica, o modelo consegue cobrir uma série de aspectos relevantes que detalharemos abaixo.

Folha 1: A Maturidade de Mercado 

Sobre a maturidade de mercado, o modelo do Cloverleaf cobre diversos aspectos importantes. O primeiro deles é a existência de um mercado bem definido, grande, crescente e com aplicações de curto prazo claramente definidas, bem como com aplicações futuras e planos de desenvolvimento claramente definidos.

Aqui também entram questões como a existência de benefícios quantificados – algo que sempre enfatizamos em nossos programas. Este é um pilar central no desenho de qualquer oportunidade de mercado: quantificar a dor do usuário. É importante que os inventores saibam o impacto da tecnologia em termos quantificáveis (horas reduzidas, custos melhores, ganhos de receita, vidas salvas etc). 

Além disso, como esses benefícios se comparam às soluções atuais? Eles são relevantes o suficiente para superar qualquer custo de mudança envolvido em sua implementação? Entender o mercado é chave, e é uma das folhas mais importantes deste trevo.

Folha 2: A Maturidade da Tecnologia 

Esta é a folha mais fácil, pois geralmente se refere a análises que os inventores fazem em seu dia a dia, até mesmo para projetos de pesquisa. No modelo Cloverleaf, busca-se identificar o grau de novidade da tecnologia, a diferenciação em relação ao resultado de uma busca completa por patentes, o quão “breakthrough” ela é dentro de um mercado e o quanto ela pode se desdobrar para novas tecnologias.

Folha 3: A Maturidade Comercial 

A maturidade comercial é um dos calcanhares de Aquiles de muitos cientistas, pois versa bastante sobre questões de networking com parceiros de mercado, algo não muito desenvolvido na carreira acadêmica. Sobre os relacionamentos, o modelo avalia se a deep tech já tem potenciais parceiros comerciais identificados, se os inventores têm contatos na indústria e se há acesso ao mercado de capital de risco.

Esses três elementos se baseiam em confiança e relacionamento prévio, sendo mais difícil de resolver por simples conexões – inclusive, alguns modelos de avaliação tratam como fator-chave a experiência prévia comprovada em projetos aplicados na indústria. Além dos elementos de networking, alguns aspectos comerciais práticos são analisados, como a existência de suporte financeiro para o avanço da tecnologia e um positivo retorno sobre o investimento projetado.

Folha 4: A Maturidade de Gestão 

Além das habilidades de relacionamento requeridas na maturidade comercial, as lideranças de uma deep tech precisam possuir uma série de outras competências de gestão – e esse é o ponto-chave da nossa última folha. Aqui entram questões ligadas aos inventores, como o inventor se tornando um líder da empresa, possuindo expectativas realísticas de sucesso/retorno e sendo uma figura reconhecida no campo do conhecimento. 

Complementar às demandas para os inventores, há também uma demanda para o time fundador de maneira mais ampla, que se traduz na expectativa de competências ligadas à comercialização da tecnologia e à gestão da empresa como um todo.

Implementando o Cloverleaf

O modelo do Cloverleaf pode ser implementado de várias formas, como:

  • Por meio de capacitação, visando trazer as competências requeridas nas 4 folhas para os inventores envolvidos;
  • Por meio de diagnóstico e planejamento prévio, visando organizar instituições de pesquisa de modo a possuir capital humano e recursos que preencham as expectativas;
  • Por meio de avaliação direta de projetos, visando avaliar e filtrar projetos com maior potencial de acordo com a filtragem do modelo.

Para o contexto da avaliação direta, os autores disponibilizam uma ficha que permite uma avaliação critério-a-critério considerando o quanto cada critério atinge as expectativas e o quanto o avaliador está confiante em relação ao projeto no determinado critério. Com isso, chega-se a um peso para cada tópico e uma soma final permite uma análise objetiva e comparável entre projetos. A ficha dos autores do artigo original se encontra no paper, mas também a copiamos aqui embaixo para facilitar (use com os devidos créditos, dado que o modelo conta inclusive com Trademark):

E aí, interessado em implementar essa ferramenta no seu contexto de Deep Techs? É só entrar em contato com o Ricardo Bueno (ricardo.bueno@wylinka.org.br), nosso Gestor de Relacionamentos e Captação. Também não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Linkedin e Instagram – para saber quando tem texto novo no ar! Because when you rock, #wyrock!

Clique aqui e conheça o estudo da Wylinka sobre Investimento em Deep Techs!

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