Grandes empresas e deep techs: como incorporar essa tendência na inovação aberta
Recentemente, lançamos um estudo inédito em parceria com o especialista Erik Cavalcante, falando sobre como viabilizar investimentos em deep techs. Um ponto levantado pela pesquisa foi a importância das grandes empresas no ecossistema de inovação.
O report mostrou que a grande empresa é uma peça essencial no quebra-cabeça do desenvolvimento de deep techs com apelo de mercado e potencial de escala, uma vez que oferecem diversos recursos – financeiros ou não – para a maturação desses negócios. Hoje vemos um ecossistema que apresenta inúmeros cases de inovação aberta e grandes corporações que se destacam em suas iniciativas como AmBev, Suzano e ArcelorMittal, as top três da lista de 100 empresas que mais fazem inovação aberta com startups no Brasil do Ranking 100 Open Startups 2022. Essa maturidade permite a abertura de novas frentes de inovação.
Nessa pegada, a bola da vez são os Corporates Venture Capital (CVCs), setor de capital de risco dentro da estratégia de inovação aberta, que busca investir visando objetivos não apenas financeiros, mas também estratégicos. Por retornos estratégicos, entendemos, por exemplo, acesso a especialistas, desenvolvimento de novos produtos, testes de novos mercados, evolução em processos e na cadeia de valor, entre outros.
Cabe observar que a grande empresa tem amadurecido suas ações e estratégias de inovação aberta muito pautadas em um modelo focado nas startups digitais e o diálogo com centros de pesquisa e academia ainda é uma caixa preta para muitas delas. Entendemos que o relacionamento com as startups deep tech é um dos caminhos para a aplicação da ciência e tecnologia na realidade da grande empresa, porém vai exigir adaptações e revisões nas ações as estratégias que têm sido observadas até então na lógica mais comum da inovação aberta.
Ou seja, a grande empresa vai ter que aprender a lidar com as deep techs. Então, abre o seu bloco de notas ou agenda digital, pois vamos dar algumas dicas de como isso pode acontecer!
O que são as deep techs? Onde vivem e do que se alimentam?
As deep techs são iniciativas de inovação que baseiam suas soluções em conhecimentos científicos que apresentam alta complexidade de desenvolvimento. Muitas delas endereçam suas soluções a desafios fundamentais da sociedade como combate à fome, energias renováveis, tratamento de doenças e acesso à saneamento básico.
Graças aos avanços tecnológicos, hoje em dia, desenvolver deep techs é mais barato e mais rápido, o que impacta significativamente os desafios de investimento nesse tipo de ativo para todos os atores da cadeia. Além disso, o custo de equipamentos e acesso à infraestrutura também está caindo devido ao aumento do uso de kits de ferramentas, estruturas laboratoriais compartilhadas e modelos de inovação aberta.
Tudo isso, mais a capacidade das deep techs de alcançar novos níveis de sucesso científico e comercial, tem encorajado investidores a injetar centenas de bilhões de dólares nessas empresas.
Contudo, as deep techs têm um desenvolvimento complexo e para fazer a startup evoluir na jornada ela precisa de apoio especializado, como expertise técnica, de mercado, de produto e jurídica; infraestrutura para desenvolvimento da tecnologia da bancada à escala; alinhamento do time de founders com pegada empreendedora, sem falar é claro, no capital inteligente para que possam se desenvolver de forma mais ágil e alinhada com demandas do mercado.
Como as empresas podem ajudar nesse processo de maturação?
As deep techs são uma tendência crescente no Brasil e no mundo e, após conhecer os desafios que os empreendedores de startups de base tecnológica enfrentam para transformar a ciência em produtos e soluções viáveis para o mercado, você pode se perguntar: como as empresas podem ajudar nesse processo? Aqui vamos destacar duas:
1º) Apoio estratégico
Já sabemos que o processo de maturação das deep techs precisa de apoio, mas o que isso significa na prática?
- Oferecer recursos.
- Oferecer mentorias, informações e troca de conhecimento com time de negócios e P&D de forma a estimular a visão de mercado do empreendedor e o seu desenvolvimento tecnológico.
- Oferecer ambientes de testes em larga escala e base de dados para geração de resultados mais acelerados para a startup.
- Possibilitar que as startups desenvolvam novas provas de conceito – startup e empresa testando aplicações viáveis para o mercado juntas.
Além de ser bom para as deep techs, esse apoio estratégico permite que as empresas acelerem seus processos de inovação, tendo acesso à mentes brilhantes dentro de ICTs em todo o Brasil. As grandes empresas também conseguem fomentar o desenvolvimento tecnológico da cadeia de valor do seu setor, podem ter acesso à infraestrutura laboratorial das universidades, assim como explorar novos mercados e novas tecnologias.
Além disso, quem investe em deep techs está garantindo a atuação na fronteira da inovação, de olho nos resultados sociais e ambientais que estas empresas podem agregar. O potencial de disrupção de mercados e o impacto positivo estão entre os pontos que mais motivam os investidores a aportar nas deep techs. Confira no gráfico abaixo outros motivadores:
2) Investimento de CVC com foco estratégico
Diferente do mercado dos investidores de capitais tradicionais, o CVC – que considera de forma proeminente o retorno estratégico – permite a absorção de mais riscos. Por isso, quando uma grande empresa investe em startups deep tech do seu setor de atuação, ela tem mais capacidade técnica e vivência de mercado para avaliar o potencial do empreendimento, mesmo que ele ainda não esteja tão maduro. Esse capital é smart, e vem acompanhado da expertise da grande empresa para ajudar o empreendedor a se desenvolver.
Outro ponto a ser levado em conta é a maior resiliência da grande empresa com relação ao tempo de retorno do investimento. Isso ocorre porque mesmo que o retorno demore mais para acontecer, como é o caso da maioria das deep techs – uma vez que elas têm tempos mais longos de maturação -, a corporação já consegue absorver os retornos estratégicos acompanhando de perto o seu portfólio de investidas.
Além disso, mesmo que a rentabilidade desse investimento seja abaixo do mercado, nula (ou até mesmo negativa), a empresa pode medir os retornos estratégicos, avaliando, por exemplo, o aumento de eficiência operacional, desenvolvimento de novos produtos, aumento de faturamento, entre outros.
Confira os tipos de suportes que as grandes empresas podem oferecer em cada estágio de maturidade das deep techs:
O match está claro! Dicas para fazer essa relação funcionar
Com base nesse artigo da Hello Tomorrow, em parceria com a Boston Consulting Group, vamos dar alguns conselhos para que as grandes empresas comecem a surfar nessa tendência enquanto isso ainda é uma novidade e aproveitem os benefícios desse tipo de parceria.
- Defina o seu mandato: apesar do grande avanço que observamos na última década em relação à inovação aberta, quando olhamos de perto, ainda vemos com frequência desalinhamentos estratégicos como:
- construção de um ambiente de inovação high tech e descolado (no sentido figurado e literal), que fica longe da planta e dos departamentos estratégicos da grande empresa;
- o mito do “pessoal da inovação” – um departamento diferente e distante da corporação, que enfrenta dificuldades para dialogar com outros setores setores ou, às vezes, até compete com o P&D interno das áreas;
- desalinhamentos estratégicos em que o time de inovação não sabe se deve “desruptar” o setor da empresa ou oferecer vantagens competitivas dentro do que já é senso comum.
Por isso, é importante que esteja bem claro o que a empresa quer com sua estratégia de inovação, que a alta liderança esteja envolvida e engajada e que essa visão esteja devidamente disseminada e sinérgica entre as diversas áreas da empresa.
- Cuidado antes de mergulhar de cabeça: para esse namoro dar certo, a empresa e a deep tech precisam gastar o tempo necessário para se conhecer melhor, entender o que cada um ganha com esse relacionamento, para que assim se chegue a um acordo sobre a viabilidade da parceria. São comuns os relatos de falta de transparência e desalinhamento estratégico ao longo da parceria, que poderiam ter sido evitados se o matchmaking tivesse considerado os principais fatores estratégicos antes de firmar a parceria.
- Crie um ambiente amigável para as trocas: como a grande empresa é um gigante (a famosa analogia do navio de cruzeiro), é comum haver burocracia e morosidade nos diálogos com as startups. É preciso promover o acesso à informação e aos departamentos envolvidos para que as trocas sejam mais fluidas, sem prejudicar o timing do desenvolvimento da prova de conceito. Para isso, a governança sobre a estratégia de inovação e o papel de cada departamento (ou partes envolvidas) deve ser clara e as startups precisam ter “acesso livre” aos recursos necessários para que a parceria se desenvolva agilmente.
Todos os pontos acima devem vir acompanhados do desenvolvimento de uma cultura que aceite as trocas internas e externas que a inovação aberta promove e que tenha os resultados medidos para o bom acompanhamento do portfólio de parcerias.
- Encontre o modelo ideal: Fazer modelos de parceria, fazer CVC ou os dois? A tabela abaixo compara diferentes objetivos da corporação de acordo com a fase de maturidade da startup deep tech. É possível ver os formatos de parceria indicados para cada situação e um ótimo checklist do que a empresa deve considerar como sucesso em termos de resultado para as ações em cada uma das fases de maturidade das deep techs.
Se identificou com os desafios mostrados no texto e quer entender um pouco mais sobre como investir em startups deep techs? Baixe agora o novo estudo produzido pela Wylinka e Erik Cavalcante sobre ‘Investimento em Deep Techs’.
Clique aqui!
Autoras:
Maristela Meireles – Gestora de Marketing na Wylinka, já atuou na capacitação de empreendedores e no desenvolvimento de metodologias para os nossos programas de inovação e aceleração de soluções e coordenou o estudo sobre investimento em deep techs.
Tuany Alves – jornalista especializada em divulgação científica e analista de comunicação pela Wylinka, atua na tradução e difusão do conhecimento gerado nos projetos para o público interno e externo da organização.