Futuros Melhores

Por que mulheres patenteiam menos?

19/junho/2023

Mulheres na Ciência – Em um famoso estudo para o National Bureau of Economic Research dos Estados Unidos, autores destacaram um fato bem preocupante: apenas 5,5% dos detentores de patentes eram mulheres. É um dado de 2012, mas, de lá para cá, a mudança não foi tão drástica assim – hoje as mulheres representam cerca de 12%.

Para a Wylinka, essa é uma estatística muito importante a ser mudada. Sabemos que ciência melhora o mundo e, como falamos no nosso último texto – “Como promover diversidade de gênero no ensino superior e CT&I?” -, também sabemos que mais mulheres em posições empreendedoras significa aumento na produtividade nacional. E é por isso que escolhemos o texto de hoje para debater algumas discussões e fatores por trás dessa triste estatística.

A resposta fácil: é um problema de pipeline

A resposta mais comum – e não 100% errada – é a do problema de pipeline. Nessa resposta, o argumento defende que o fato de menos mulheres entrando em cursos de engenharia e ciências é a principal causa do problema. Porém, o famoso estudo de Hunt et al. (2012) destaca que não é tanto sobre isso – olhando para o universo somente de pessoas formadas em engenharia e ciências, foi identificado que a estatística não mudava tanto.

Uma das principais causas nesse sentido é a distribuição em campos de estudo “patent-intensive” (onde mais surgem patentes), como engenharia elétrica e mecânica, bem como em funções ligadas a desenvolvimento e design de produtos (considerados como “patent-intensive” jobs). Ou seja, precisamos de mais mulheres nesses espaços.

Complementar à questão do pipeline, temos também as causas que impactam nesse pipeline, como a falta de pessoas referências nessas áreas que servem de inspiração para futuras inventoras. Nesse argumento das figuras de referência, Couch et al. (2018) destacam, por exemplo, dois estudos que apontam a figura de pais inventores na formação de filhas que patenteiam mais.

Mas agora é hora de pensar em outros fatores, e seguimos com nossa lista…

Os vieses de quem deveria apoiar

Todo processo de invenção passa por uma série de filtros e é parte de uma jornada longa que depende de muitas figuras de apoio – orientadores(as), mentores(as), investidores(as) etc. Em uma sociedade cheia de vieses que prejudicam as mulheres, esse acaba sendo um grande problema.

Um exemplo está em um dos papers que mais admiramos aqui na Wylinka, o We Ask Men to Win and Women Not to Lose: Closing the Gender Gap in Startup Funding, publicado no renomado Academy of Management. Nessa pesquisa, foi demonstrado como as perguntas de investidores(as) diferem para apresentações masculinas vs femininas.

Enquanto homens recebem questões de “promoção” (por exemplo: qual a sua visão de marca/crescimento?), mulheres recebem questões de “prevenção” (por exemplo: quais as barreiras contra outros concorrentes?). Isso, obviamente, tem relação direta com o sucesso da captação de investimentos – prejudicando de maneira inconsciente empreendedoras e inventoras buscando apoio.

Entende-se que esse é um dos muitos possíveis desdobramentos. Outros exemplos podem ocorrer na expectativa de resultados de uma tese, na avaliação de projetos de pesquisa e até mesmo na relação com fornecedores de equipamentos para invenções.

Uma outra consequência desses vieses é o chamado “Network Friction” – além de percepções diferentes entre homens e mulheres, os espaços frequentados e até mesmo alguns agrupamentos podem diminuir a rede de contatos de uma mulher. A ideia de “grupo de amigos homens” que frequentam espaços específicos é algo comum que, quando somado aos vieses acima, reduzem as possibilidades, serendipidades e aberturas que geralmente marcam o surgimento/crescimento de inovações (ver Howell e Nanda, 2019).

Uma política (pública ou não) bastante defendida nesse espaço, por exemplo, é o fortalecimento de redes de mulheres engenheiras e criação de programas específicos direcionados a esse contexto. Confira o texto que fizemos sobre a importância do fortalecimento das redes de mulheres!

Por fim, os desafios financeiros

Um último limitador são os impeditivos financeiros envolvendo mulheres e patentes. Em geral, as disparidades salariais e, consequentemente, financeiras possuem dois desdobramentos para esse contexto. 

O primeiro é o custo de patente como um impeditivo, como aponta Milli et al. (2016), que é agravado por disparidades de renda. O segundo, mais específico, é que o cenário de “pay/promotion gap” (mulheres recebendo menos que homens no mesmo cargo, bem como sendo menos alvo de promoções) é apontado como um fator que afasta mulheres das carreiras patent-intensive que citamos acima (ver Hunt et al., 2010). Consequentemente, menos patentes para elas.

Como podem ver…

A resposta para a pergunta “por que mulheres patenteiam menos?” é complexa e multifatorial. Para melhorar esses indicadores, são necessárias mudanças sofisticadas e sistêmicas, porém quanto mais clareza temos do problema, mais perto estamos das soluções. 

Como Wylinka, temos envidado diversos esforços para aprimorar esses indicadores no Brasil. Um exemplo notável foi a parceria estabelecida com o British Council no programa “Treinamento Mulheres em Tech – Lideranças Inclusivas”. O objetivo dessa capacitação era alcançar mulheres envolvidas nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática que desejavam desenvolver suas habilidades interpessoais e progredir em suas carreiras. Além disso, no Programa de Ideação, uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima em colaboração com o PNUD, realizado pela Wylinka e Idesam, reservamos 30% das vagas exclusivamente para mulheres.

Se você tem interesse em fazer um programa desse conosco, é só entrar em contato com o Ricardo Bueno (ricardo.bueno@wylinka.org.br), nosso Gestor de Relacionamentos e Captação. E não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Linkedin e Instagram – para saber quando tem texto novo no ar!

Because when she rocks, #wyrock!

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