Deep Techs e Startups

Programas de startups por si só não salvam um ecossistema/organização.

12/agosto/2018

Programas de startups por si só não salvam um ecossistema/organização.

Um dos tópicos que mais trabalhamos na Wylinka é desenvolvimento de ecossistemas de empreendedorismo/inovação. Somos constantemente procurados para fazer projetos envolvendo estudos, desenho estratégico ou execução de programas ligados ao desenvolvimento de um ecossistema ou um setor específico — e uma das mensagens que mais reforçamos é que o modelo clássico de “aposte em startups” se tornou uma resposta fácil utilizada por aqueles que não fazem ideia sobre o que dizer.

“A lot of problems in retail would be solved by better staff, less stock out and all staff being able to take your money. But we always think it’s about fancy tech.” Tom Goodwin (autor do livro “Digital Darwinism”)

Photo by Nathan Dumlao on Unsplash

A pergunta central é: o que se busca com um programa de startups? Especificamente para programas relacionados a melhorar setores/empresas, os motivos podem ser (i) ganho em eficiência por meio de sofisticação tecnológica, (ii) melhoria no portfólio de produtos; (iii) melhoria no portfólio de fornecedores, (iv) estar a par, e se proteger, de potenciais modelos disruptivos. Mas o que muitos estão percebendo é que esses programas estão gerando resultados muito distantes dessas expectativas: havendo uma grande distância entre as startups criadas e sua absorção de modo a modernizar empresas ou setores. O próprio Steve Blank escreveu um excelente texto sobre como esse acoplamento não ocorre de maneira eficaz nas organizações. Na sua crítica, ele defende que as organizações estão cheias de Hackathons, Shark Tanks, Incubadoras e outros programas de inovação, mas nada disso muda a trajetória estratégica das mesmas. Para o professor, o ideal é construir uma estrutura maior que permita a absorção das soluções da melhor maneira.

A crítica dialoga também com os pontos trazidos pelo pessoal da aceleradora 500startups em seu ebook 500corporations. Segundo eles, o relacionamento com startups deve seguir 5 regras: 1. É importante que startups ajudem a desenhar o processo; 2. Você pode engajar com startups de maneiras diferentes e diversas, não só criando programas de aceleração; 3. Comece pequeno e vá aprendendo; 4. O que quer que venha a fazer, esteja preparado para a velocidade de uma startup — baixa responsividade é um tiro no pé; 5. Não internalize tudo, parceiros experientes fazem diferença. Eles apresentam uma estrutura visual muito rica para pensar em estratégias de se relacionar com startups baseando-se no objetivo da organização:

Fonte: 500Corporations (link no fim do post)

E o que aprendemos? O Programa Varejo Inteligente.

Há alguns anos atrás fomos procurados pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) com esse tipo de demanda: um setor tradicional buscando alguma maneira de se reinventar por meio das startups. Na reunião de ideação lá na Wylinka, o argumento principal era: nós não podemos oferecer um modelo clássico de aceleração de startups, isso todo mundo faz, e a gente não é todo mundo.

E o que fizemos? Primeiro, atenção ao dilema inicial: setores tradicionais buscando apoio das startups geralmente enfrentam o dilema de verem seus negócios não conseguindo se modernizar. Com a demanda “modernização do setor” em mente, começamos a pensar em caminhos diferentes, e assim chegamos a um modelo que consideramos legal: e se, em um programa de startups, desenhássemos um modelo de mentoria invertida? Em vez de somente as startups receberem mentoria, por que não utilizar o conhecimento de novas tecnologias e boas práticas que os fundadores de startups têm para dar aconselhamento aos negócios tradicionais? A premissa era que, além de entender melhor a realidade do varejo, empreendedores do varejo ajudariam na melhoria operacional com dicas de gestão e novas ferramentas. E ainda tinha capacitação externa com especialistas, que servia tanto para empreendedores aprenderem mais sobre gestão, vendas e operações, quanto para varejistas. Win-win.

É claro que o modelo não rodou 100%. Tivemos dificuldades nas aproximações, às vezes surgiam complicações para contato com os varejistas, mas fomos aperfeiçoando até chegar na edição do ano passado, que apoiou 20 startups e ofereceu, para as 5 melhores, um prêmio de R$10.000,00 junto a um acompanhamento periódico pós-programa com mentorias contínuas.

Em detalhes, buscamos nos concentrar nesse elemento de capacitação com uma estrutura que tinha os seguintes elementos:

  • 10 semanas de aceleração, seguindo o modelo do Customer Development (com alguma personalização de acordo com o estágio de maturidade da startup);
  • Sessões de feedback: ao longo do programa, as startups tiveram 4 grandes momentos em que podiam apresentar suas soluções e receber feedbacks dos varejistas, especialistas e gestores da CDL. Além de todo o processo de validação pelo qual eles tinham que passar, entendíamos que esse momento auxiliava ainda mais o processo de product-market fit.
  • Reuniões coletivas: aproveitando o conhecimento de todas as startups, fazíamos momentos específicos para troca entre times diferentes, de modo a aumentar a polinização de boas estratégias;
  • Leitura semanal: dado que um dos nossos maiores ativos é curadoria de conteúdo, separávamos leituras específicas para cada momento do programa, elemento apontado bom diferencial;
  • Treine seu pitch: em 2016, em parceria com a UNA, de Belo Horizonte, conseguimos que as startups tivessem momentos para fazer pitchs para os estudantes universitários. Nessa atividade, aproveitávamos mais um elemento do nosso ecossistema para acrescentar em forma de outras visões e maneira de enxergar tecnologia e modelagem de negócios, além de ser um constante elemento de aperfeiçoamento das apresentações.
  • Fase de absorção: além do modelo clássico de aceleração, os melhores projetos passaram para uma fase 2, onde ficaram incubados dentro da CDL, imersos na realidade de modo a garantir melhor aderência no mercado e absorção por potenciais clientes.

Conclusões

Apesar de seus muitos desafios, o Programa Varejo Inteligente buscou sair do clichê de ser um programa de aceleração — e foi modelado muito mais pensando no ecossistema e nas dores iniciais do que em “criar fancy tech”. Fazer programas de startups só por que todos estão fazendo é um tiro no pé; fazer por que tecnologia é interessante também. Deve-se sempre atentar às motivações originais e pensar em cada elemento dos programas buscando alinhar com a cadeia de inovação do setor ou da organização. Sem isso, as organizações vão continuar cheias de hackathons, startups e outras hypes sem alterar nada o curso dos seus negócios. Não é sobre apostar em startups, mas sim buscar modernização dos negócios, e isso vai muito além.

Leituras que recomendamos:

Esperamos que a história do nosso Varejo Inteligente, realizado pela CDL-BH junto com o Sebrae e executado pela Wylinka, tenha inspirado você a sair um pouco da caixa em vez de só replicar programas de startups. A absorção focada em modernizar os negócios que estão investindo no programa é tão importante, e difícil, quanto a aceleração em si — então fique de olho!

Se tiver interesse em rodar algum programa diferente com a gente, é só mandar um email para comercial@wylinka.org.br. Temos desenhado muitas coisas e é sempre um prazer pensar em maneiras de melhorar o país por meio do empreendedorismo e da inovação! Você também pode conhecer mais nossos trabalhos em www.wylinka.org.br 🙂

Because when you rock, #wyrock!

Autor: Artur Vilas Boas

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