O que a maior feira de tecnologia do mundo nos mostrou sobre o futuro?
O que a maior feira de tecnologia do mundo nos mostrou sobre o futuro?
Zeitgeist. Do alemão, o espírito do tempo: o conjunto de pensamentos, hábitos, crenças e ideias de um determinado período. Quando colocado sob a ótica da inovação tecnológica, Zeitgeist diz muito sobre como invenções iguais ocorrem em diferentes regiões, na mesma época, sem que sequer tenham tido algum contato. Por trás desse fenômeno, pesquisadores compreenderam: as invenções são, em grande parte, fruto dos encontros naturais de tecnologias e conhecimentos disponíveis em um determinado período — e menos da inventividade exclusiva de algum brilhantismo individual. Zeitgeist, deste modo, embasa os argumentos sobre a necessidade da exposição a novas ideias, da divulgação das próprias ideias e da concentração de cérebros em ambientes que permitam um maior número de colisões de conhecimentos.
Sobre esse tema, o autor Steven Johnson traz excelentes reflexões com o conceito do “Possível Adjacente” — que pode ser definido como as potenciais novas ideias/tecnologias que podem surgir a partir da combinação de ideias/tecnologias existentes.
“Ambientes inovadores são melhores para ajudar seus habitantes a explorar o possível adjacente, isto porque apresentam uma amostra ampla e diversa de elementos existentes, estimulando novos modos de recombiná-los. Ambientes que bloqueiam ou limitam essas novas combinações – punindo a experimentação, obscurecendo certas áreas de possibilidade, tornando o estado atual tão confortável que ninguém se dá o trabalho de explorar suas bordas – irão, em geral, originar e difundir menos inovações que aqueles que estimulam a exploração.”
E foi por isso que nós, da Wylinka, resolvemos trazer este post: expôr o que vimos estudando a CES2018 de modo a apresentar as tecnologias de fronteira e o que elas apontam para startups e empresas de base tecnológica. Mas primeiro de tudo — o que é a CES?
Todo começo de ano ocorre a Consumer Eletronics Show (CES), uma em Las Vegas onde empresas apresentam suas apostas em termos de fronteiras de tecnologia. É um ambiente físico de centenas de quilômetros quadrados com cerca de 4.000 empresas expondo o que estão desenvolvendo — e cujo impacto atingiu, em 2017, mais de 100 milhões de visualizações no Snapchat e cerca de um milhão de menções no twitter. É realmente o melhor ambiente para ampliar os horizontes e imergir no Zeitgeist dos mercados de tecnologia. Então, sem mais delongas, é hora de trazer algumas percepções!
Tendência #1: Tecnologias residenciais e a ameaça à Google
2018 foi o ano dos assistentes inteligentes por voz (voice smart assistants) na CES, sendo a Alexa, da Amazon, quem tem aberto a fronteira há alguns anos. A tecnologia é simples: uma caixa de som com microfone ativo que promete facilitar a rotina diária com comandos diversos (controle da luz, temperatura e outros dispositivos), além de permitir buscas e outras tarefas. Junto aos assistentes, muitas tecnologias residenciais foram apresentadas, tais como:
- Geladeiras inteligentes — com poderosas touchscreens e câmeras internas para visualizar organização, disponibilidade e validade de alimentos. Também foi possível ver uma grande aposta em cozinhas sem fios.
- O futuro da televisão caminhando para estruturas discretas — LG trouxe uma tela dobrável com recolhimento similar a uma persiana que desaparece no ambiente, bem como projetores de curta distância, que eliminam a necessidade de telas físicas e garante qualidade de imagem.
- Sleep Tech — sofás e assentos com maior nível de inteligência para relaxamento e correção de postura, havendo também colchões que se adaptam à sua postura para evitar problemas na coluna (além de coletar dados sobre seu sono e recomendar melhorias).
Poderíamos ficar bastante tempo discutindo a ênfase dada ao futuro dos ambientes domésticos, mas o tópico mais importante é sobre a ameaça à Google. Com o surgimento das novas interfaces, em especial o crescimento da presença da Alexa e suas variantes que usam seu sistema em muitos outros pequenos gadgets, surge uma grande ameaça à estrutura de monetização por ads visuais. Pense que as propagandas hoje ocorrem pela exposição visual enquanto você realiza uma busca ou consome um conteúdo em uma tela, agora pense no impacto da eliminação dessa interface a partir de assistentes de voz e afins (é claro que ainda há a possibilidade de propagandas ocorrerem em áudio, mas não parece ser o caminho que a Amazon escolherá). E qual foi a reação da Google? A sua presença na CES2018 com sua assistente de voz foi insana. A feira inteira estava coberta por anúncios “Hey Google”, brincadeiras com brindes e produtos utilizando o Google Assistant como tecnologia central — mas caminhando para estrutura de Smart Displays (assistente de voz + uma tela para elementos complementares). Essa guerra, que gira em torno da ameaça da Amazon à estrutura de monetização da Google, será super interessante em 2018.
Tendência #2: a robotização humanitária
Embora estejamos acostumados a acompanhar as discussões sobre robotização sempre envolvendo os debates sobre os riscos e uma possível dominação mundial, a CES2018 trouxe o lado otimista da coisa. Alguns robôs eram esperados, como o Aeolus Robot, que ajudou na limpeza da feira e carregava objetos de participantes, ou também a eterna promessa que sempre surge na CES: algum cachorro robô que ganha mil pontos pela fofura, mas edição após edição não emplaca no mercado.
Além dos clássicos, um grande tema foi a robotização para apoio à saúde. Um dos vencedores do Innovation Awards da CES, por exemplo, foi o Aflac — um patinho de pelúcia robotizado cujo objetivo é aliviar a angústia de crianças em tratamentos de câncer. Outros avanços na robotização apontam para maior precisão e controle — que oferece suporte a cirurgiões e trabalhos de precisão, bem como a minimização de acidentes de trânsito com veículos mais confiáveis (vide a moto da Yamaha quase impossível de ser derrubada).
Tendência #3: a dissolução do conceito de propriedade em diversas escalas
Desde que Elon Musk lançou a segunda parte de seu Master Plan, em 2016, muito se discutiu sobre o futuro da mobilidade. Em seu plano, o visionário apresenta um futuro no qual os carros autônomos deixarão de ser de propriedade de indivíduos e passarão para gestores de frotas. A ideia é que frotas de carros autônomos possam trabalhar durante todo o dia, não mais ocupando espaços em estacionamentos, e de maneira mais distribuída (exigindo bem menos carros) — imagine você descendo do seu carro em casa e ele saindo para buscar outra pessoa de modo autônomo. Essa é a ideia.
E 2018 também foi um ano com bastante presença dos carros autônomos, mas, mais que isso, foi um ano sobre discussão sobre o pertencimento de hardwares em geral. Em grande escala, a Toyota trouxe o E-Pallete, uma grande van autônoma que permite ser adotada de diversas formas — podendo ser uma banca de jornal em um ponto da cidade de manhã, mas à tarde se tornar um food truck para uma região de escritórios e no fim do dia transportar diversas crianças do colégio para casa. A dissolução desse conceito de propriedade traz um horizonte enorme em termos de aplicações e novos negócios físicos.
Não se limitando aos veículos, pequenos hardwares também entraram na pauta da portabilidade, com destaque ao Project Linda da Razer, que trouxe uma carcaça capaz de transformar seu celular (no caso, um Razer Phone) em um notebook. A carcaça não traz nada mais que um teclado, tela, portas e bateria — o que reduz o custo a algo ínfimo e provoca redesenhos na maneira de se comercializar um computador. Em discussão aqui na Wylinka (com o pessoal do Wylinka Experience), uma das fronteiras foi vislumbrar uma vending machine em aeroportos no qual você somente retira a carcaça ao desembarcar em outro lugar e a utiliza junto ao seu celular durante a estadia, minimizando dores de cabeça, como carregar peso, riscos de viajar com computador, burocracias em checagem de segurança etc. A dissolução da propriedade até mesmo de um grande notebook é uma fronteira interessante, que também foi estressada pela Huawei com o novo Mate 10 — que pode ser conectado em qualquer monitor e, com um teclado e mouse sem fio, se tornar um computador portátil.
Conclusão
Como dissemos, a exposição às tecnologias acompanhada de reflexão sobre o futuro possível é um exercício importante para a inovação. Startups precisam estar constantemente atentas a essas movimentações para vislumbrar o futuro das interfaces, das dinâmicas sociais e dos elementos à disposição para construir novas tecnologias, e foi por isso que escrevemos este post. Para mergulhar mais na CES, recomendamos dar uma pesquisada no youtube (nenhum youtuber cobriu 100%, mas existem boas coberturas, como a do MKBHD) e conferir portais que fizeram coberturas oficiais (The Verge, TechCrunch e até mesmo os brazucas do TecMundo).
Se quiser saber mais sobre nosso trabalho com empreendedorismo e criação de negócios de tecnologia, confira mais no nosso site: www.wylinka.org.br
Esperamos que tenham gostado, because when you rock, #wyrock!
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