O programa que sacudiu as raízes empreendedoras da UFMG
O programa que sacudiu as raízes empreendedoras da UFMG
Quando se pensa em universidades empreendedoras no país, alguns nomes se destacam — Unicamp, USP, UFSC…mas um dos principais, e com um emblemático caso, é o da UFMG, que carrega consigo a história da Akwan e do grande nome Nivio Ziviani. O prof. Ziviani, de 68 anos, é uma das principais cabeças acadêmicas no país quando o assunto são Algoritmos — porém, sua fama vai além disso. Nos últimos 18 anos já criou 3 companhias, sendo uma delas a Akwan, nascida em 1999 e especializada em buscas específicas na internet, vendida para a Google em 2005 , fazendo com que a gigante se estabelecesse no Brasil a partir de um escritório de tecnologia em Belo Horizonte. Os desafios de tornar a universidade mais voltada para empreendedorismo são comuns em todo o país, com a UFMG não é diferente, mas o DNA e a inspiração trazida dentro de casa ajuda bastante as coisas a se movimentarem por lá.
E assim nasceu o Startup Tech: com o time da Wylinka pensando — “por que não aproveitar todo o potencial empreendedor da Federal e fazer ali algo que estimule essas raízes na geração de mais impacto?”. A resposta veio em uma parceria com o Núcleo UFMG Jr. e com o SEBRAE, e assim desenhamos o Startup Tech, com uma missão clara de aproveitar o potencial acadêmico e direcionar por meio de uma mentalidade empreendedora.
O Brasil precisa entender, como compreendem Estados Unidos, Israel, Finlândia, Suécia e tantos outros, que as grandes soluções vão ter como berço, seja no campo da ideia ou na produção científica, dentro da universidade. E foi com essa mentalidade que desenhamos o programa, aproveitar e valorizar o potencial que existe dentro da UFMG de maneira completa, sem oba-oba e com muito pé no chão — é assim que estudantes precisam ser tratados se quisermos transformar, através do nascimento de startups de ponta, a realidade do ecossistema em que uma universidade se insere. O escopo era claro: não se esperavam aplicativos superficiais, não se esperavam soluções de baixo valor tecnológico — queríamos disrupção de alto nível. E conseguimos.
Conseguimos também graças ao apoio de patrocinadores incríveis (Enacom e Fundação Cristiano Ottoni) e de agentes da universidade essenciais (Inova UFMG, CTIT Empreender, Fundepar, Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Programa ENG-200), aos quais devemos nossa completa gratidão. E o que conseguimos gerar? Projetos com base em grupos de robótica, em iniciações científicas internacionais, em espírito maker altamente focado em hardware e em muita criatividade para dar vazão ao que se desenvolve na universidade voltando-se para criação de um negócio de alto impacto. O programa teve 3 etapas: bootcamp (um final de semana focado em formação de times e amadurecimento de ideias) + sprint de inovação (melhores projetos do bootcamp receberam aceleração com mentorias semanais, cursos diversos e um padrinho específico de alguma empresa madura relacionada ao projeto) + evento final, ocorrido nessa sexta-feira, 12/06, com pitchs, feedbacks e premiações.
Os 4 grupos selecionados no Bootcamp para participar do sprint de inovação foram Untrash (utilização de hardware para controle de volume de lixos e otimização de rotas nos recolhimentos etc.), Brailer (novo modelo de interface para a leitura em braile), Viqua (processo mais eficaz na produção de vidros de alta precisão) e Mobtech (estrutura complementar para a locomoção de cadeirantes em relevos irregulares). Até o momento, menos de 1 mês depois de tudo começar, alguns destes projetos já tiveram a aproximação de investidores e aprofundamento na relação com clientes potenciais — o que para nós é um dos principais indicadores de sucesso do programa. O evento final contou com a presença, no júri, de Mariana Santos (BH Tec), Mariana Berteli (Myleus), Liliane Alves (SEBRAE) e Felipe Mariani (Fundepar) — e a startup vencedora, que recebeu como prêmio a aprovação no programa de aceleração Lemonade, uma vaga no Empretec, 3 cursos do SEBRAE e uma imersão no Enacom, foi a Viqua, que busca trazer muito mais eficácia em processos produtivos de vidros de alta precisão e nasce de uma iniciação científica realizada com bases na UFMG em parceria com a Alemanha, em um dos centros de pesquisa mais avançados do mundo. Novamente, pesquisa de alto nível, disrupção de alto nível. E conseguimos.
Um dos feedbacks que mais nos marcou foi de um dos mentores do programa: “Me surpreendi como um programa feito pela primeira vez sai do chão de forma tão assertiva. Me surpreendi como ideias nascidas tão nebulosas se transformaram em arco-íris no horizonte. Agora, não me surpreenderei com a vida longa que terá esse belo programa.” (Douglas Vieira, diretor executivo da Enacom Handcrafted Technologies)
Poderíamos, e gostaríamos, de nos estender nessa leitura, mas não queremos torná-la impalatável para os que acompanham a DEEP. O objetivo aqui foi mostrar que muito se pode fazer aproveitando o potencial das universidades na geração de empresas de tecnologia de ponta, e é para isso que desenhamos nossas diversas metodologias. O grande diferencial aqui era apostar nesse potencial e desenhar uma metodologia que se concentrasse nos desafios do desenvolvimento tecnológico, e na consciência dos esforços necessários para uma boa interface com o mercado. Carregamos, não só a missão, mas a certeza de que é a partir da universidade que o Brasil irá melhorar, e vamos dar o nosso melhor para sermos como ponte entre conhecimento e inovação. Fica aqui o convite ao ecossistema de empreendedorismo brasileiro: atentem-se às universidades, pois é delas que irão surgir as grandes transformações.
“O desenvolvimento progressivo do homem é vitalmente dependente da invenção. Ela é o produto mais importante de seu cérebro criativo. Seu propósito final é o domínio completo da mente sobre o mundo material, a subordinação das forças da natureza às necessidades humanas. Esta é a difícil tarefa do inventor, que geralmente é incompreendido e não recebe recompensa. Porém, ele encontra ampla compensação no agradável exercício de suas capacidades e por saber que pertence à classe excepcionalmente privilegiada sem a qual a raça teria perecido há muito na dura luta contra impiedosos elementos.” (TESLA, Nikola. Minhas invenções — a autobiografia.)