Futuros Melhores

Uma luz no fim do túnel para uma Ciência que dialoga com o Mercado no Brasil.

15/abril/2018

Uma luz no fim do túnel para uma Ciência que dialoga com o Mercado no Brasil.

Mesmo com todos os desafios do país, algumas coisas estão melhorando. E é sobre melhorias no empreendedorismo acadêmico que iremos falar hoje.

Nos dias 22 e 23 de Março, a Wylinka esteve presente no evento “SciBiz: Science meets Business”, que aconteceu na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP). O evento, coordenado pelo Prof. Dr. Moacir de Miranda, teve como principal objetivo promover integração de diversos agentes que compõem um ecossistema de inovação. Mas mais que isso, nas palavras do professor, o SciBiz é o começo de um movimento de provocação e incentivo a melhores relações entre mercado e universidade, entre empreendedorismo e pesquisa, entre inovação e ciência.

Estiveram presentes convidados de peso, como o pesquisador Henry Etzkowitz (de Stanford, que propôs o modelo da Hélice Tripla na relação Empresa-Universidade-Governo) e também empreendedores das gigantes Nubank, 99 e iFood. Além disso, pesquisadores, agentes de fomento, professores, grandes empresas e pequenos empreendedores se envolveram em dois dias de atividades com centenas de participantes. Nós da Wylinka pudemos acompanhar tudo de perto, e aproveitamos para mostrar 3 horizontes legais que dão um gás de motivação para melhorarmos o Brasil.

Photo by Yaoqi LAI on Unsplash

#1: O novo papel da universidade

Nosso primeiro destaque se apoia na visão do prof. Etzkowitz sobre a importância das Universidades e como esse tipo de instituição passa por processos de metamorfose.

Historicamente as universidades foram agregando papéis em sua missão. De preservar e disseminar o conhecimento por meio do ensino, de gerar novos conhecimentos pelas atividades de pesquisa, passou a buscar um transbordamento para externalidade pelas atividades de extensão. O que vemos hoje é a emergência do modelo de Universidades Empreendedoras, modelo com um papel mais complexo. Esse novo papel faz com que o desenvolvimento sócio-econômico permeie as missões de ensino, pesquisa e extensão.

Tudo bem, na teoria é lindo, mas como isso se materializa em prática? Já falamos aqui de alguns mecanismos importantes para a construção de uma universidade mais empreendedora, como NITs, Incubadoras, Parques Tecnológicos e até mesmo modelos de fronteira, como Proof of Concept Centers e Translational Programs (colocaremos links dos nossos textos no fim desse artigo). Todos esses mecanismos têm uma missão: ajudar o transbordamento do conhecimento gerado nas universidades. O transbordamento não é fácil, pelo contrário, é fruto de esforço contínuo na mudança organizacional.

Destacamos como exemplo a própria USP, que, em alguns espaços, tem se esforçado para (i) criar disciplinas inovadoras; (ii) provocar sua pesquisa a ser mais empreendedora com eventos como o SciBiz, além de oferecer um programa stricto sensu de Mestrado Profissional em Empreendedorismo; e (iii) permitir o fortalecimento de atividades de extensão, como o Núcleo de Empreendedorismo da USP, que hoje oferece diversos cursos gratuitos sobre empreendedorismo tecnológico.

#2: Uma mudança necessária na mentalidade de grupos de pesquisa

O SciBiz nos estimulou a olhar um outro importante agente da universidade: os grupos de pesquisa. Porém, trazendo a ótica de “Research Groups as quasi-firms”. Os “grupos de pesquisa como quase-empresas” é um formato de grupo de pesquisa muito mais orientado à resolução de problemas reais da sociedade, e seu grande diferencial está na mentalidade. Esses grupos de pesquisa desenvolvem uma cultura de operação muito parecida com empresas, dando atenção à velocidade, ao impacto gerado, a um bom relacionamento com potenciais patrocinadores, à criação de empresas a partir da pesquisa etc.

Não que todos os grupos devam ter essa orientação, mas a existência desses grupos com formato híbrido permite uma nova camada na universidade que se volta a transbordamentos — e essa nova camada muitas vezes pode atrair recursos para todo o departamento, criando um formato ótimo para todos. A pesquisa aqui é focada na resolução de problemas ou construída a partir de análise de mercado, como acontece no modelo da UFABC de doutorado acadêmico-industrial:

“Antes de montar o projeto, o aluno recebe uma bolsa CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisas) para passar seis meses em empresas conveniadas, buscando desafios científicos e tecnológicos dignos do doutorado. Se identificar o projeto, ingressa no doutorado e o desenvolve em colaboração com a universidade inteira. O financiamento será integralmente bancado pelo CNPQ, sem desembolso por parte da empresa.”

Luis Nassif — A revolução da Federal do ABC

Um outro exemplo nacional é o caso do Departamento de Ciência da Computação da UFMG (DCC- UFMG), com ênfase nos grupos de pesquisa do Prof. Dr. Nívio Ziviani. O professor de 68 anos, que é uma referência acadêmica em Ciência da Computação, também é uma referência empreendedora: nos últimos anos já fundou quatro startups de sucesso. Dos seus grupos de pesquisa, surgiram as empresas Miner (vendida para a Uol), Akwan (vendida para a Google) e Neemu (vendida para a Linx por 55 milhões). O professor hoje está com uma nova empresa, a Kunumi, que pretende brigar diretamente com a Google em vez de ser comprada.

Além do impacto na atração de recursos para a UFMG, a força do modelo empreendedor-acadêmico de Ziviani gerou um enorme impacto em Belo Horizonte: devido à compra da Akwan, boa parte do desenvolvimento tecnológico da Google Brasil ocorre no escritório de Belo Horizonte. Mais ainda — a atração de talentos da área e o engajamento das empresas com o ecossistema foi um dos motores no fortalecimento do San Pedro Valley, ecossistema de startups de BH.

#3: Ciência de fronteira, inovação de fronteira.

Muitos sabem que o Brasil é uma grande potência acadêmica, mas também sabemos que a conversão dos artigos publicados em melhores produtos e serviços para a nossa sociedade não acontece. E aí surgem diversos mecanismos de suporte, como já falamos acima. Outro mecanismo importante são os INCT’s (Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia). Esse modelo tem como objetivo o desenvolvimento de pesquisa científica e tecnológica de ponta associada a aplicações para a promoção de inovação e melhoria nacional. Um dos grandes focos é realmente transformar pesquisas de fronteira em patentes e aplicações. Existem bons avanços no país com INCT’s se tornando elementos fundamentais na melhoria nacional, tais como INCT’s de doenças negligenciadas, de mudanças climáticas e outros.

Na pauta de inovação e empreendedorismo, temos um excelente exemplo na UFMG: o INCT Midas. Liderado pelo Prof. Dr. Rochel Lago, o grupo de pesquisa busca solucionar problemas ambientais reais por meio de desenvolvimento de tecnologias e geração de empresas. Com um esforço pioneiro no Brasil, o Midas criou programas de pré-aceleração e aceleração de tecnologias e pesquisadores pertencentes ao INCT. Além disso, o Instituto leva cursos de empreendedorismo a outras universidades de Minas Gerais para ampliar o impacto da pesquisa e atrair mais pesquisadores interessados. Um exemplo, não é mesmo?

Próximos passos e leituras recomendadas

A dose de otimismo é importante, mas sabemos que ainda é preciso muito esforço para que esses movimentos não sejam pontos isolados e se tornem práticas comuns nas universidades brasileiras. A mudança é difícil, mas, como na frase do Einstein que postamos no nosso Instagram:

“Great spirits have always encountered violent opposition from mediocre minds. The mediocre mind is incapable of understanding the man who refuses to bow blindly to conventional prejudices and chooses instead to express his opinions courageously and honestly.”

Nós, da Wylinka, já estamos há alguns anos vendo tudo isso se materializar e é incrível fazer parte da construção de muitas coisas aqui citadas, mas queremos mais. Atualmente, para linha de Universidades Empreendedoras, estamos desenhando alguns projetos de programas, tais como um modelo de Proof of Concept Center no Brasil e um programa de relacionamento universidade-empresa para inovação baseada em ciência. Tem interesse em executar algo assim ou tem planos relacionados a isso? Mande uma mensagem para a Anna (anna.bolivar@wylinka.org.br), que é a nossa cabeça na organização dos parceiros desses projetos 🙂
Você também pode conhecer tudo que já fizemos em: www.wylinka.org.br/cases

Agora, uma dose de links para você se aprofundar! Because when you rock, #wyrock! É só clicar nos títulos e mergulhar:

A Revolução da Federal do ABC

Mobilizando Conhecimento para Geração de Riqueza por Meio da Inovação — Prof. Nivio Ziviani.

A história de Ziviani e sua nova empreitada em Machine Learning

Cursos gratuitos em empreendedorismo tecnológico do Núcleo de Empreendedorismo da USP

As boas práticas do INCT Midas, pela Liga Empreendedora UFMG.

Wylinka: Translational Programs para inovação nas universidades

Wylinka: Proof of Concept Centers e o empreendedorismo acadêmico

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