Deep Techs e Startups

Um novo capítulo na história da inovação: entenda o que são as deep techs

10/dezembro/2021

As deep techs são um novo capítulo da história da inovação! Para se ter uma ideia, estima-se que, só na Europa, essas empresas tenham recebido US$ 8,4 bilhões em investimentos, em 2019. O que indica um aumento de mais de 25% em relação a 2018, quando os investimentos chegaram a US$ 6,4 bilhões na região.

Além disso, as deep techs foram as meninas dos olhos na pandemia. Uma das aplicações mais conhecidas, nesse período, foi o desenvolvimento da vacina Pfizer-BioNTech contra a Covid-19. O imunizante ficou pronto em menos de um ano, empregando uma técnica que está sendo pesquisada há mais de 25 anos e que nunca havia sido utilizada na produção de vacinas. ‘Tá passada?’

Mas afinal, o que é deep tech? E por que você precisa saber disso?

Criado pela CEO da plataforma de investimento-anjo Propel (X), Swati Chaturvedi, o termo refere-se as empresas baseadas em conhecimento científico mais avançado e complexo. Assim, as deep techs, ou em tradução livre “tecnologia profunda”, são startups com base tecnológica ancorada em pesquisa científica para tentar resolver grandes problemas que afetam o mundo ao seu redor.

O termo surgiu a partir da necessidade de diferenciar as startups que criam soluções a partir de tecnologias já existentes no mercado, como a Uber por exemplo, daquelas que, propriamente, desenvolvem novas tecnologias por meio de ciências e pesquisa em áreas como medicina, engenharia, química, biologia, física e matemática.

Em março de 2020, Joshua Siegel e Sriram Krishnan, ambos do Departamento de Ciência da Computação e Engenharia do MIT, escreveram uma carta aberta para a academia estadunidense propondo uma nova abordagem de definição do termo. Em resumo, os especialistas definem a deep tech como “uma tecnologia difícil de ser desenvolvida no presente, mas com potencial de se tornar uma necessidade básica, difusa e fácil de ser implementada no futuro”.

Já para Antoine Gourévitch, especialista que lidera o trabalho do BCG em tecnologia profunda, dados e plataformas digitais, as deep techs nunca foram tão necessárias, uma vez que mudam a forma como produzimos, unindo ciência, engenharia e design thinking. Segundo ele, há um potencial muito grande nessas tecnologias emergentes que possibilita combinações antes impensáveis, ou seja, não é uma forma de competição, mas uma maneira de colaborar.

O especialista também destaca que, para ele, há quatro regras para que a inovação seja vista como tecnologia profunda: (1) devem orientar-se pelo problema; (2) levar o ecossistema em consideração, inclusive a natureza; ser baseada em (3) design thinking; e no, que ele chama de, (4) ‘design to cost’, onde se tem em mente a economia o tempo todo.

Deep Techs na Wylinka

Pela perspectiva do trabalho da Wylinka — de desenvolvimento de soluções com base na ciência — as deep techs são aquelas soluções, de desenvolvimento complexo, cuja jornada para o mercado envolve investimentos e infraestrutura mais robusta, como o acesso a laboratórios e especialistas em segurança e regulação.

As inovações de base científica e tecnológica também passam por um ciclo que obedece a algumas fases, caracterizadas por especialistas como: pesquisa básica (trabalho experimental ou teórico), pesquisa aplicada (tem um problema e um objetivo claro, mas ainda não é possível testar), protótipo (fase de direcionamento para produção de produtos ou serviços), escalonamento (tem demonstrações bem sucedidas) e mercado (produto ou serviço validado e em funcionamento).

Nosso trabalho, entre outras frentes, foca na criação de metodologias para apoiar o desenvolvimento dessas soluções de base científica que possuem ciclos complexos e envolvem maiores riscos, tanto para quem empreende quanto para quem investe.

As Deep Techs no Brasil

No Brasil, o investimento em startups, que unem ciência e tecnologia, vem sendo impulsionado por hubs de inovação e gestores de venture capital especializados em diferentes áreas do mercado. Atualmente, a área de saúde é uma das mais aderentes a criação das soluções de deep tech no país.

Segundo o relatório Deep Tech, realizado pela Wylinka, as transformações no setor são impulsionadas, entre outros fatores, pelo envelhecimento, aumento da população, crescimento nos custos com saúde e o avanço de doenças crônicas, como a obesidade e hipertensão, assim como de doenças psíquicas, como ansiedade e depressão.

A difusão e o barateamento das tecnologias da informação, somados ao avanço da biotecnologia, destacaram algumas verticais tecnológicas como impressão de tecidos vivos, nanotecnologia, telemedicina e inteligência médica artificial, para citar algumas das tendências apresentadas no report que mapeou 63 tecnologias brasileiras promissoras na área de diagnósticos e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis.

Outro setor promissor para as deep techs, nos solos brasileiros, é a economia de baixo carbono. No relatório Deep Tech Clima, também da Wylinka, foram mapeadas 94 tecnologias e pesquisas acadêmicas promissoras para melhorar a operação do setor energético por meio de soluções para a economia de baixo carbono.

Foto de RF._.studio no Pexels

Conclusão

Como podemos ver, os negócios de base científica nunca estiveram tão em evidência como nos últimos anos, e a tendência é que eles despertem, ainda mais, o interesse do mercado: seja, ainda, no combate à pandemia ou possibilitando a transformação digital de inúmeros negócios e segmentos. Assim, é preciso pensar em como tornar viável esse investimento de risco e como proporcionar a interrelação entre as áreas do conhecimento, ação tão necessária para a produção de tecnologia profunda, mas, que cada vez mais, tem se tornado complexa.

Outro ponto a se pensar, é em ‘como as pessoas que empreendem e querem gerar soluções, para os desafios de hoje, podem se movimentar nesse campo’. Indo além, ‘como podemos diminuir o risco nesse novo capítulo?’. Para nós, o caminho começa quando entendemos as fases de desenvolvimento das deep techs e depois apoiamos essa transposição da ciência de fronteira para o nosso dia a dia.

Concorda com a nossa definição de deep tech ou conhece startups brasileiras que se baseiam nessa metodologia? Conta para a gente!

Para aprofundar esse entendimento, separamos alguns materiais que podem auxiliar a pensar e entender a deep techs no universo brasileiro. Caso tenha interesse em usar essa metodologia — é só mandar um e-mail para o novosnegocios@wylinka.org.br que a gente pensa juntos! 🙂

Materiais complementares:

Vídeo: What is deep tech? A look at how it could shape the future. Antoine Gourévitch responde o que é deep tech.

Site: BCG. Saiba mais sobre o trabalho de Antoine Gourévitch no site da empresa em que ele trabalha.

Entrevista: Guy Perelmuter, Fundador e CEO da GRIDS Capital. O fundador da Grids, empresa brasileira de capital de risco especializada em deep tech, fala sobre as oportunidades e desafios desse setor.

Relatório: Deep tech investments: realising the potential. Relatório interessante da SGInnovate Insights com várias, informações, dados e cases de deep tech pelo mundo.

AutoraTuany Alves (jornalista e analista de comunicação pela Wylinka)

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