Startups de hardware e hard science: o futuro mora aqui.
Startups de hardware e hard science: o futuro mora aqui.
Recentemente, em um evento nacional envolvendo grandes nomes internacionais de tecnologia, uma referência do MIT destacou um ponto comum nos EUA: hardware is the new black. Concordamos, enxergamos e vamos além — é preciso olhar não só para hardware em si, mas também enxergar o potencial das hard science startups, startups que desenvolvem tecnologias baseadas em ciência avançada, como tecnologias para saúde humana, avanços em produção e tratamento de materiais complexos, soluções para área da genética etc. E aí entra o maior desafio dessa realidade: como apoiar esse tipo de startup?
A solução ainda é nebulosa no mundo inteiro — sabemos pois temos acompanhado e estudado modelos que vão dos Estados Unidos à China nesse tipo de suporte. O ciclo de amadurecimento do produto é diferente, a capacitação da mão de obra é mais delicada e o perfil dos empreendedores é geralmente mais distante da realidade convencional de startups que estamos habituados no Brasil.
Os desafios brasileiros
No Brasil, já não há dúvidas que startup é algo comum, que muitos querem criar e o nível da hype chega a prejudicar, porém, quando se fala em hard science based, existem alguns problemas. O principal deles, como já dito, está ligado ao ciclo de amadurecimento do produto — é preciso compreender que são projetos de longo prazo de desenvolvimento, com ciclos de venda demorados e de barreiras complexas diversas. Por resolverem problemas complexos (saúde, alimentação, processos químicos etc.), há um maior nível de regulação e controle para gerar soluções à prova de erros — e isso leva tempo. Quando se vive um mercado que busca retornos em curto/médio prazo, acaba-se por construir um ecossistema de investidores que não compreendem como agir em situações complexas como as que envolvem hardwares e hard science — e isso é bastante problemático para o desenvolvimento tecnológico regional. Outro grande problema está ligado à cadeia produtiva desse tipo de negócio: (i) Há uma cadeia de manufatura madura o suficiente para dar abertura a empreendimentos inovadores? (ii) O processo de compra/importação de equipamentos é fluido e acessível o suficiente? (iii) Há mecanismos capazes de auxiliar na fragilidade dos estágios iniciais?
O desenvolvimento de uma hard core startup
Na Wylinka estudamos modelos no mundo inteiro para buscar identificar padrões interessantes e adaptá-los à estrutura brasileira, visando propor um modelo de desenvolvimento de “hard core startups” (hardware or hard science based startups) que seja capaz de minimizar os gaps e as dificuldades nacionais. Nos concentramos aqui em abordar um pouco dos processos identificados como interessantes nesse desenvolvimento, visto que se diferenciam muito da realidade de startups mais centradas em software/apps.
O primeiro ponto é relativo ao fluxo de desenvolvimento — geralmente os padrões carregados se estruturam em “caminhos paralelos”, tais como business track X technology track X design track, como ocorre na HAXLR8R, uma das principais aceleradoras de hardware based do mundo, localizada na China. Em algumas outras, como a Bolt, americana de grande renome, traçam caminhos paralelos dentro de um fluxo contínuo — e talvez esse seja o modelo que consideramos como o mais adequado ao Brasil, que enxergamos da seguinte maneira:
Primeiro momento: imersão no mercado e no usuário
Neste momento, consideramos importante compreender como funciona a lógica do mercado em questão — quais os principais players, quais os grandes gargalos produtivos, quais os centros de pesquisa diretamente relacionados e tudo que envolve a dinâmica do mercado em que se pretende inserir. A complexidade desse tipo de negócio faz com que seja necessária a compreensão de suas engrenagens e lógicas de funcionamento, pois permite ao empreendedor se proteger ou se articular de modo a evitar grandes entraves. Além disso a comum compreensão do usuário, centrando-se na dor do mesmo (don’t pitch!) e na compreensão de como ele se relaciona com as soluções existentes — isso auxiliará no desenho da solução e na percepção dos principais limitadores.
Segundo momento (fluxo paralelo): modelagem do design e da tecnologia
O momento de modelagem é crucial para se proteger de alguns problemas: a construção avançada de algo que ninguém quer, bem como a seleção correta de características e funcionalidades (que, nesse tipo de produção, geram consequências de longo prazo bastante delicadas). É o momento de pensar em como o produto pode funcionar, em como será sentido e na experiência do “usuário” (seja b2b ou b2c) — também sendo o momento de definir a “bills of materials (BOM)” e identificar os pontos em que se pode minimizar por substituição (se um drone precisa de um controlador remoto bluetooth, em vez de construir o controlador, hoje é possível minimizar com o uso de smartphones e outras plataformas que barateiam a conta final do produto a ser construído).
“Develop visual concepts of software, hardware and people coming together in several use case scenarios. Define your product and experience architecture: Design is nice, but what happens under the hood is more important, and as why people would bother to use it and how it translates to everyday use.”
“Hardware, being naturally very operational, the ten Haxlr8r mentors need to be extremely hands on with deep industry experience across the whole value chain, from design, engineering, manufacturing and marketing. To teach teams how to leverage resources in a hardware startup world, the program runs a school like-curriculum.”
Terceiro momento: imersão em processos de manufatura
O processo de manufatura é mostrado como um grande gargalo por gestores de aceleradoras internacionais — a compreensão desses processos, bem como a existência de cadeias de produção próximas, é uma grande dificuldade. Muitas aceleradoras atuam levando os empreendedores até a China (ou outros locais com cadeia produtiva acessível) para os mesmos compreenderem a dinâmica e amadurecerem as relações com as fábricas que podem vir a ser potenciais produtores. Existe até mesmo um mercado dos que fazem esse tipo de atravessamento, ainda não muito forte no Brasil, mas já estabelecido nos Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, especialmente para hard science, as incubadoras tecnológicas podem vir a atuar de maneira bastante útil nesse sentido, visto que possuem boa interface com centros de pesquisa e — muitas vezes — até infra-estrutura para produção com aprovação de órgãos reguladores.
E a Wylinka, como tem desenhado seus modelos para estimular esse ecossistema?
É do histórico da organização a atuação com desenvolvimento de negócios de alta tecnologia, inclusive falamos de um recente programa, o Startup Tech, há alguns posts atrás — O programa que sacudiu as raízes empreendedoras da UFMG. Enxergamos uma necessidade fundamental em organizar os agentes de ecossistemas “hard core based” buscando orquestrar e construir interfaces capazes de estimular o desenvolvimento desse tipo de negócio — neste aspecto o objetivo é trazer mais negócios de hard science para o fluxo de inovação dos ecossistemas, gerando mais massa crítica e projetos de melhor qualidade nesse sentido. Inicialmente, estimular a atenção a esse tipo de mercado foi sempre uma atuação nossa dentro das incubadoras, núcleos de inovação tecnológica, universidades etc. com quem trabalhamos. Depois disso, acreditamos ser necessário para desenvolver um ecossistema a organização das seguintes interfaces:
1) Construção de eventos envolvendo os agentes corretos (universitários, pesquisadores, empreendedores, investidores etc.) de modo a tornar o ecossistema mais vibrante e conectado;
2) Produzir conteúdos de suporte e realizar programas nas universidades buscando estimular a aplicação real da hard science. É o momento inicial em que se concentra em trazer um drive empreendedor a um público que não está tão acostumado com o tema;
3) Articulação para estimular a continuidade de projetos e negócios nascentes no fluxo da inovação, conectando de empreendedores em estágio de amadurecimento com grandes empresas, aceleradoras e incubadoras, por exemplo;
4) Programas de transferência ou comercialização de tecnologias, concentrando-se no alinhamento e mediação entre os envolvidos, além de trazer facilitação e direcionamento estratégico nos processos ligados à geração de negócios e produtos de base tecnológica.
Se quiser saber mais sobre como trabalhamos, nos mande um email no contato@wylinka.org.br 🙂
Depois desse mergulho no tema, hora de aprofundar.
Poderíamos continuar escrevendo por parágrafos sobre o tema e sobre como temos estimulado ecossistemas nesse sentido, porém, é preciso ser mais enxuto por aqui. Como colocamos acima, a produção de conteúdo estratégico é fundamental para a conscientização desse mercado que começa a se desenvolver no Brasil. Compilamos, portanto, alguns conteúdos que consideramos interessantes para quem quer se aprofundar no tema — o ebook nos foi cedido pelo próprio autor, não podendo ser feito o uso comercial do material.
Ebook:
The Ultimate Guide To Bootstrapping A Hardware Startup
Série techcrunch (Aceleradora HAXLR8R):
The Lean Hardware Startup: From prototype to production.
Reflexões sobre o desenvolvimento high tech (Aceleradora Bolt):
(i) 4 Vital Pieces of Hardware Startup Advice for Smarter Manufacturing
(ii) Speed Can Kill: the Importance of Process for Hardware
Análise sobre o mercado de alta tecnologia:
(i) The Future May Belong to Hardware Startup Accelerators — 6 to know about.
(ii) Análise sobre tendências em startups hard science based (Techcrunch)
(iii) Imersão na aceleradora de Biotech, IndieBio, no Vale do Silício
Esperamos ter sido úteis na apresentação tanto do tema quanto da maneira como temos nos esforçado para desenvolver tal ecossistema! =)
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Autor: Artur Vilas Boas