Comportamento Empreendedor

Resiliência em tempos de crise

01/junho/2020

Resiliência em tempos de crise

Tempos difíceis. Em meio à complexa crise em que vivemos, que tem suas diversas facetas — econômica dada a redução de consumo, de saúde pública dada a pandemia, emocional dada aos efeitos da clausura na quarentena etc. — será difícil encontrar alguém que não tenha vivido, ou conhecido alguém que viveu, uma sensação de “Quebrei. Cheguei fundo do poço.”. Essa sensação de perda de chão, como destacamos a complexidade da crise, poderá emergir de múltiplas fontes: seja um emprego perdido, a perda de alguém querido, términos de relacionamento, crises de ansiedade, burnout no trabalho, intensificação de condições depressivas, solidão ou tantos outros motivos.

Nesse texto, iremos organizar as coisas que aprendemos sobre resiliência, e especialmente apresentar estratégias para seu desenvolvimento, de modo a minimizar os impactos difíceis desse momento. Então vamos ao texto!

Fundamentos sobre Resiliência

Ao aprofundar no conceito de Resiliência, os pesquisadores Karen Reivich e Andrew Shatte identificaram 7 competências fundamentais que caracterizam pessoas mais resilientes:

  1. Regulação emocional: se manter calmo sobre pressão;
  2. Controle de impulsos: não se deixar entregar pela situação e não desistir facilmente;
  3. Otimismo: crença de que as coisas podem melhorar;
  4. Capacidade analítica: conseguir analisar de maneira precisa as causas dos problemas;
  5. Empatia: capacidade de se conectar e aprender com os outros;
  6. Autoconfiança: crença de que somos capazes de resolver os problemas;
  7. Coragem para se expor: capacidade para se movimentar e assumir riscos.

E como esses itens se relacionam com a resiliência? A resposta mora nas dinâmicas para conseguir se reerguer. Algumas competências nos ajudam a não desistir, outras nos ajudam a nos movimentar e outras nos ajudam a aprender. Basicamente, resiliência é sobre, quando tudo parece sombrio, continuar tentando se movimentar, mesmo que aos poucos, e desenhar estratégias para se reconstruir, implementando-as. É importante reforçarmos que essas competências não são inatas, podemos desenvolvê-las ao longo da vida (especialmente ao longo das crises) e implementar ações deliberadas para esse processo de reerguer-se. O momento também importa, pois às vezes a queda é tão dura que precisamos de um tempo para tudo se encaixar e começarmos a nos organizar.

Mas e se eu não tenho essas competências?, você pode nos perguntar. Por isso que esse texto será sobre ações deliberadas para se adotar quando enfrentando alguma crise pessoal. Vamos a elas!

Reerguendo-se

Algumas ações podem nos ajudar bastante no processo de reerguer-se após uma queda brusca e dolorosa. Destacamos algumas:

Mudar de contexto

Uma das melhores práticas para se adotar nesse processo de reconstrução é, por exemplo, a adoção de um hobbie. Jardinagem, fotografia, pequenos projetos DIY, culinária, religião e outros podem ser uma boa válvula de escape para encontrarmos outros significados na vida. Quando em crise, é comum ficarmos remoendo pensamentos negativos que só nos tiram mais a energia, e a adoção de algum hobbie gera uma quebra nesse padrão — nos colocando em novos espaços, em diferentes contextos que nos ajudam a reduzir essa carga negativa em loop inifinito. É por isso que muitas pessoas recorrem a adoção de pets ou outras atividades similares: além de serem benéficas pelo prazer natural que trazem, ajudam a mudar o contexto e aliviar a pressão.

Expressar-se

Colocar para fora também é um grande mecanismo de descompressão. Não precisa ser de uma forma explosiva, agressiva e com outras pessoas. Podemos colocar para fora por meio de um caderno de anotações ao final do dia em que registramos o que estamos sentindo. Podemos falar com nós mesmos em exercícios meditativos simples (parar para respirar e conversar com seus pensamentos, por exemplo). Além disso, podemos conversar com outros, sejam amigos ou profissionais. Por fim, expressar gratidão é comprovadamente terapêutico. Um exercício diário de anotar 3 motivos pelo qual você é grato podem fazer um bem sem precedentes para momentos difíceis — recomendamos.

Cuidar do seu ambiente

A saúde mental vem do nosso cuidado com o ambiente em que estamos. Ele influencia nosso humor e pode, inclusive, catalisar nossas tristezas. Fazer uma faxina na casa, organizando as coisas, embora possa parecer um trabalho hercúleo, traz bem estar. Também devemos cuidar do nosso ambiente mental: (i) atentar-se ao consumo de notícias ruins (temos o hábito de fugir das dores consumindo coisas que nos trazem outras sensações, como vícios que trazem prazer ou revolta), (ii) praticar exercícios físicos (veja esses dados reforçando a importância), (iii) separar ambientes de lazer, trabalho, sono (por isso não se deve trabalhar na cama); (iv) meditar (apps ajudam, como Headspace). Recomendamos esse excelente vídeo sobre como cuidar do seu ambiente em meio ao confinamento.

Respeitar seu tempo

Às vezes, tudo que a gente precisa é não se cobrar. Deitar na cama e se desligar um pouco do mundo, e está tudo bem. A autocompaixão também é importante, e não podemos nos exigir tanto, especialmente em períodos de crise generalizada (no momento desse texto, havia uma pandemia descontrolada e uma crise econômica consequente). Está todo mundo deixando pratinhos cair e isso faz parte de momentos difíceis. É como as 5 fases do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Passamos por essas fases e respeitá-las é importante. Só devemos cuidar para não ficar tempo demais em um estado específico (ou tempo demais jogado na cama), pois isso pode agravar estados depressivos.

Em suma…

Sair do buraco, ou desenvolver a resiliência, pode vir de competências ou de ação deliberada. Praticar as ações acima podem ajudar a atravessar situações complexas desse nosso momento atual. E, para encerrar com um resumo poético dos quatro pontos acima, deixamos um texto de Antonio Prata que adoramos:

Olhe, não fique assim não, vai passar.

Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, ‘hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu’).

Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom.Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta: as dores da vida.Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa.Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe.A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo — é difícil de acreditar, eu sei — vai virar só umamemória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou.Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: ‘É melhor viver do que ser feliz’. Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida.

A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente.Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o unico jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz.

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.”

Esperamos que esse texto tenha ajudado! Lembre-se sempre: não personifique os fracassos. Você não se limita a eles, a vida é mais complexa que isso. Desenvolver resiliência é descontruir uma narrativa interna de “me…always…everything”, passando do clássico “Eu (me) sempre (always) faço isso! Eu destruí tudo (everything)!” para um “isso aconteceu comigo, mas existem diversos fatores envolvidos, há oportunidade para melhoria. Vamos tentar corrigir o que deu problema e olhar para as coisas que ainda se mantém positivas.”. Pegue leve com você mesmo, isso vai passar 🙂

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