Deep Techs e Startups

O que há de errado com os mentores de startups no Brasil?

17/dezembro/2014

O que há de errado com os mentores de startups no Brasil?

Esse post nasce de uma crítica ao universo de fotografia escrita por um renomado professor de São Paulo:

“(…)Quando eu era mais novo, acreditava que pessoas que ‘tinham voz’ tinham porque sua opinião era consistente, estudada; afinal alguém tinha dado um megafone para eles, certo?
Errado. Megafone está aí pelo chão para quem quiser pegar. Pega não quem tem algo a dizer, mas quem morre de vontade de dizer qualquer coisa. E aí vira um inferno.” (fonte e citação completa:
Alex Villegas)

E esse é o principal problema dos mentores do ecossistema de startups do Brasil: muito ego, pouca experiência. Não há nada de errado na figura do mentor de startups, inclusive autores renomados (Bluestein e Barret, 2010; Katz e Green, 2009) na academia apontam que o elemento “mentor” é um dos maiores diferenciais em casos de sucesso nas startups, o que se questiona aqui é o ethos que os mentores têm adotado em suas práticas no nosso país. Por definição, mentor é aquele que carrega consigo experiências e vivências capazes de auxiliar pessoas em estágios mais iniciais em sua carreira ou em seu negócio.

O termo tem sua origem na mitologia grega, na qual mentor era a personificação da deusa Atena, que se incorporava na figura de um humano (de nome Mentor) para direcionar Telêmaco devido à proximidade com Ulisses e sua família. Ou seja, o elemento da experiência para nortear o mentorado em uma específica jornada é fundamental, coisa muitas vezes desconsiderada na realidade brasileira.

Photo by Jason Rosewell on Unsplash

Em que pé estamos?
O ecossistema brasileiro ainda passa por estágio de amadurecimento, como todos sabemos, e tal fato influencia na ausência de experiência e vivência por parte de alguns mentores. Devido a isso, a busca por mentores em fundos/clubes de investimentos internacionais tem sido prática bastante comum para aqueles que tem tal acesso. Aos outros, cabe a busca por pessoas mais experientes que tiveram alguma vivência em seu mercado específico — às vezes pessoas que viveram os mesmos problemas iniciais em outras startups, às vezes pessoas com muito tempo de casa em grandes empresas que atuam no mesmo segmento do empreendedor.

O ponto negativo aqui ocorre quando surgem mentores que nada tiveram de vivência, mas que buscam se posicionar como “mentor do mercado de startups” e oferecer direcionamentos muitas vezes invasivos e incabíveis à realidade da startup. O resultado? Empreendedores que não têm segurança, pelo simples fato de serem novatos, sendo bombardeados por pessoas que muitas vezes desconhecem a realidade daquele mercado, e isso mina a inovação.

Quais os principais problemas?
Excesso de autoridade, auto-centramento, falta de vivência e interferências que fogem à esfera de execução da startup.

  1. Excesso de autoridade: como já colocado, o mentor que dita ordens e afirma que o caminho x é o correto sempre comete o erro de forçar decisões. É importante que empreendedores aprendam, e isso não se faz com ordens, se faz de maneira socrática — questionando e levando os mesmos à reflexão (mesmo que no post-mortem da startup mentorada). E quem é autoridade em uma relação mentor-mentorado? A realidade mostra que ambos se encontram, muitas vezes, no mesmo estágio, e aprendem em conjunto. O mentor está ali para ajudar a startup a evitar possíveis erros que ele já aprendeu, mas constantemente ele aprende tanto quanto o mentorado.
  2. Auto-centramento: basicamente ego. Infelizmente, a realidade do empreendedorismo no Brasil ainda é cercada de muito ego e pouca execução. E para alimentar a imagem de uma “figura de sucesso” nesse mercado, tem se a busca pelos títulos de mentor, facilitador, palestrante e tantos outros. Em suma, muito palco pra pouco backstage.
  3. Falta de vivência: decorrente do excesso de palco, sobra pouco tempo pra execução. E com pouca execução, temos apenas a experiência de ouvir os outros falarem sobre suas realidades — fazendo com que muitos mentores caiam na armadilha de repetir discursos vazios e dar conselhos sem profundidade alguma.
  4. Interferências sem uma dose de realidade: trata-se aqui do ato de esquecer da esfera de execução da startup. Compreender o que ela pode entregar e o que ela acredita como direcionamento estratégico é saber respeitar limites, construir em conjunto e oferecer direcionamento prático — nada de grandes sonhos sem pouca realidade, como muitos mentores têm feito.

Colocando um fim ao mimimi: o que pode ser feito?
Acreditamos profundamente que não basta reclamar do ecossistema, é preciso dar direcionamento para o mesmo — e é para isso que temos na nossa missão esse suporte bem embasado. Para isso, separamos um Manifesto do Mentor, criado pela aceleradora Techstars, com o objetivo de dar um melhor direcionamento a aceleradoras e outras instituições que trabalham com a figura dos mentores, ressaltada aqui como de suma importância. O download pode ser feito aqui: Wylinka — Mentor Manifesto (fonte: Startup Communities, Brad Feld — esse é um print de uma página do livro).

Por fim, o post é uma crítica, mas uma crítica que espera se transformar em impacto através de aprendizagem para futuros mentores. E que a figura do mentor lidere sempre pelo exemplo — com casos reais de sucesso influenciando futuras gerações de empreendedores.

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