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Blended Finance: Reduzindo Riscos e Impulsionando Inovações Transformadoras

30/outubro/2023

Blended Finance – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelas Nações Unidas (ONU), representam um desafio global ambicioso, visando resolver uma série de questões críticas, desde as mudanças climáticas até a erradicação da pobreza e da fome. No entanto, ainda temos um longo caminho a percorrer para alcançá-los. A própria ONU apresentou no Fórum Econômico Mundial, em 2019, uma estimativa de que os investimentos necessários para viabilizar os ODS estariam em uma faixa  de US$ 5 a US$ 7 trilhões anuais. 

Neste contexto, o Blended Finance tem se destacado ao financiar o desenvolvimento de mercados e soluções financeiras em conformidade com a Agenda 2030 da ONU. Isso é alcançado através do uso estratégico de capital catalítico (filantrópico ou de fomento) para mitigar o risco dos projetos e atrair investimento comercial (público e/ou privado).

De acordo com a Convergence, até o momento, essa abordagem conseguiu mobilizar 198 bilhões de dólares em capital para o desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento, com cerca de 5.700 compromissos financeiros identificados para essas transações financeiras combinadas. Saiba mais sobre o universo do Blended Finance neste artigo.

O que é o Blended Finance?

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Blended Finance é a estratégia de utilização de fundos de desenvolvimento para mobilizar fluxos adicionais de capital em prol do desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento.

Podemos também definir o Blended Finance como o uso de capital catalítico proveniente de fontes públicas ou filantrópicas para atrair investimentos do setor privado em projetos de desenvolvimento sustentável. Sua ênfase recai principalmente sobre objetivos passíveis de investimento, como a “Ação Climática”, enquanto está menos alinhado com objetivos como “Paz, Justiça e Instituições Fortes”.

Em geral, essas transações se baseiam em quatro pilares centrais, conforme ilustrado na imagem abaixo:

Como funciona o Blended Finance?

O Blended Finance é uma abordagem estruturante que permite que organizações com objetivos diferentes invistam lado a lado e, ao mesmo tempo, alcancem suas próprias metas, sejam eles retorno financeiro, impacto social ou uma combinação de ambos. Para isso, ele mobiliza capital comercial originalmente investido em projetos com perfil tradicional para a estruturação financeira de operações que atendam aos ODS. Essas operações podem envolver:

  • Fundos de Desenvolvimento (também denominados recursos concessionais ou capital catalítico): esses fundos são providos por investidores cujo objetivo principal é gerar desenvolvimento sustentável e impacto positivo. Muitas vezes, esses investidores estão dispostos a renunciar à parte ou à totalidade de sua remuneração para potencializar o impacto socioambiental positivo do projeto.
  • Capital comercial: Esse tipo de financiamento é fornecido por investidores que desejam contribuir para o financiamento do desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, esperam ser remunerados a taxas compatíveis com o mercado tradicional. Com o mecanismo de Blended Finance, os fundos de desenvolvimento investem com o objetivo de equilibrar a relação real ou percebida entre risco e retorno e, assim, atrair o capital comercial. Isso contribui para o fortalecimento da cultura empreendedora e do investimento de impacto socioambiental.

Essas estruturas híbridas de financiamento podem combinar diversos instrumentos, como capital subordinado (dívida, equity ou híbrido), garantias/seguros, grants (doações) para apoio a projetos, pagamento por resultados e assistência técnica.

Além dos investidores, existe também a figura do intermediário, cuja responsabilidade é intermediar essas transações, desempenhando ações como alinhar as partes para definir os objetivos, definir os participantes envolvidos e facilitar a formalização dos acordos entre os participantes do mecanismo, entre outras funções. Já os desenvolvedores do ecossistema, como a Wylinka, embora não participem formalmente do mecanismo, proporcionam apoio técnico e institucional para a agenda, seja diretamente nos projetos, seja fomentando a articulação entre os atores.

Cenário brasileiro

No Brasil, o tema ainda é incipiente; contudo, observa-se um momento propício para fomentar essas estruturas por aqui. Há convergência entre o interesse de agentes que demandam investimentos com elevados padrões de ESG. Isso se alinha à necessidade crescente de canalizar recursos para projetos socioambientais que contribuam com o desenvolvimento do país e a melhoria da qualidade de vida da população, tornando o Brasil um terreno fértil para iniciativas de Blended Finance.

Para isso, o BNDES destaca uma série de desafios e fatores que enfrentamos, os quais podem tanto impulsionar quanto dificultar a difusão do Blended Finance no Brasil. São eles:

Fatores Impulsionadores:

  • Complexidade dos Problemas: os desafios complexos que o Brasil enfrenta em termos de problemas sociais e ambientais tornam o Blended Finance uma abordagem atraente para lidar com essas questões.
  • Conscientização e Demanda Crescente dos Investidores: os investidores privados estão cada vez mais conscientes da importância do impacto socioambiental e estão buscando oportunidades de investimento alinhadas com elevados padrões ESG.
  • Direcionamento de Capital Catalítico de IFDs: as instituições financeiras de desenvolvimento (IFDs) estão direcionando cada vez mais capital catalítico para estruturas de Blended Finance, fortalecendo a capacidade de atrair investimentos privados.

Desafios:

  • Restrições Fiscais do Setor Público: o setor público enfrenta restrições fiscais, dificultando o suprimento dos recursos necessários para investimentos socioambientais.
  • Falta de Recursos para o Terceiro Setor: a falta de recursos para organizações do terceiro setor limita a capacidade de implementação de projetos de desenvolvimento sustentável.
  • Instabilidade Política e Econômica: a instabilidade nos ambientes político e econômico do Brasil pode criar incertezas para investidores.
  • Aversão ao Risco por Parte dos Investidores Privados: a aversão ao risco por parte dos investidores privados pode representar um obstáculo à participação em projetos de Blended Finance.
  • Taxas de Juros em Tendência de Queda/Negativas: taxas de juros reais em tendência de queda ou negativas podem afetar os retornos dos investidores privados em projetos de Blended Finance.
  • Mercado de Capitais Limitado para Impacto Socioambiental: o mercado de capitais no Brasil ainda atua de forma tímida e pouco diversificada em relação ao impacto socioambiental.

Blended Finance e a Amazônia

As operações de Blended Finance são essenciais em mercados onde as taxas de risco e retorno apresentam desequilíbrios ou não são plenamente compreendidas pelos investidores. Isso ocorre porque os fundos de desenvolvimento desempenham um papel fundamental ao estabelecer um equilíbrio na relação entre risco e retorno nos investimentos. 

Nesse caso, as estruturas de Blended Finance podem ser eficazes em mercados em estágio inicial de desenvolvimento, como por exemplo, quando é necessário não apenas a criação de novos produtos, mas também a estruturação de toda a cadeia de valor. É o caso das ações de Nature-based solutions (NBS), ações que visam proteger, gerenciar e restaurar ecossistemas naturais de forma sustentável, eficaz e levando em consideração as complexidades e bem-estar humano e da biodiversidade. Dentro do conceito, também são realizadas práticas de gestão inteligente de terras a fim de reduzir ou remover emissões de gases do efeito estufa. 

Um exemplo de iniciativa que se vale disso é o Impact Earth, instituição que busca catalisadores da inovação para gerar impacto ambiental e social em escala. Focando nas lacunas de financiamento/ineficiências do mercado para promover mudanças reais, a empresa utiliza estruturas inovadoras, a partilha justa dos benefícios para todas as partes interessadas, a confiança da comunidade e o investimento em mercados emergentes para gerar o máximo de impacto. 

Rumo a Agenda de 2030

Em conclusão, acreditamos que o Blended Finance emerge como uma abordagem inovadora e promissora para enfrentar os desafios globais de desenvolvimento sustentável delineados pelos ODS. No cenário brasileiro, seu potencial se revela como uma ferramenta essencial para atrair investimentos e promover o progresso socioambiental, especialmente na Amazônia, onde as complexidades dos problemas ambientais exigem soluções inovadoras. É um caminho que combina interesse financeiro com ações transformadoras, promovendo uma visão de futuro mais sustentável e equitativa para todos.

Fonte: Relatório Financiamento para o alcance dos ODS: A Agenda do Blended Finance no Brasil

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