Empreendedorismo na Universidade

Universidades empreendedoras: o papel do estágio em startups

13/abril/2023

Conheça o papel do estágio em startups para a formação de pessoas empreendedoras nas universidades. Confira!

Universidades empreendedoras talvez seja o tópico que mais tratamos aqui na Wylinka – isso porque um dos pontos centrais da nossa missão é garantir que o conhecimento produzido dentro das universidades possa transbordar e melhorar a sociedade como um todo. Na maioria dos casos, falamos sobre boas práticas em transferência de tecnologia, programas de empreendedorismo, entidades estudantis e tópicos ligados às atividades que acontecem dentro dos muros da instituição, porém, hoje falaremos de um tema que acontece fora dos muros: os estágios profissionais. 

Os estágios profissionais contribuem com a formação “hands-on” dos estudantes, oferecendo contato com ferramentas mais atualizadas, com pessoas em estágio mais avançado de carreira, além de relacionamento com parceiros de mercado. No texto de hoje, aprofundaremos no papel dos estágios em startups para a formação de pessoas empreendedoras nas universidades, um combo reconhecido por alavancar bastante a efetividade de universidades no fomento ao empreendedorismo. 

Este é o resultado de uma pesquisa acadêmica de um dos gestores da Wylinka que recentemente ficou bastante famosa, então se prepare que lá vem leitura! =)

Estágio em startups e o fenômeno “entrepreneurial spawning”

O fenômeno “Entrepreneurial Spawning” é famoso tanto nas universidades quanto em ambientes de mercado, mas neste último é conhecido como as “Startup Mafias”. A premissa aqui é que ambientes empreendedores, como startups, geralmente são terreno fértil para o surgimento de novas startups. 

Diversos estudos mostram como uma série de novas startups nascem de “empresas-mãe” – ou seja, ex-funcionários de uma empresa que saem para montar sua própria empresa. A mafia de startups mais famosa no mainstream é a Paypal Mafia, responsável por uma série de “empresas-filha” famosas, tais como Youtube, Linkedin, Reddit, Yelp e SpaceX. Sim, todas essas empresas foram criadas por pessoas que trabalhavam no Paypal. 

E, como nesse gráfico interativo aqui, o impacto parece ser maior ainda em termos de empresas criadas – indo à casa de dezenas de grandes sucessos. Loucura, não é mesmo?

Analisando em profundidade o fenômeno, não parece tanta loucura assim. Quando trabalhando em uma empresa de tecnologia bem sucedida como o Paypal, todas essas pessoas tiveram (i) contato com outras pessoas relevantes na própria empresa, fortalecendo o network com pessoas de alto nível, (ii) contato com parceiros estratégicos, como investidores e fornecedores, (iii) em alguns casos, sucesso financeiro consequente do sucesso do Paypal, e (iv) reconhecimento por parte do mercado de que a experiência no Paypal é digna de grandes talentos. Um combo perfeito para quem quer empreender, não é mesmo? 

Adicione a isso tudo uma dose de maior autoconfiança vivenciando uma trajetória de sucesso e temos o ambiente perfeito para o surgimento de muitos novos negócios. Temos uma Startup Mafia – e esse é considerado um dos elementos centrais no surgimento do Vale do Silício.

Um fato interessante é que toda essa trajetória não se aplica somente a cargos elevados nessas empresas, mas também à figura dos estagiários. Inclusive, alguns estudos mostram que o estágio em startup tem um fator “crescimento acelerado” que fortalece mais ainda a tese do “entrepreneurial spawning”. Estagiar em uma startup é, para muitos, uma oportunidade de crescer junto com o rápido crescimento da empresa, e isso se traduz em acúmulo de responsabilidade, competências e habilidades de liderança ocorrendo ainda durante a graduação.

O contexto brasileiro para as Startup Mafias

Recentemente, tivemos um período de muita atividade econômica positiva para as startups: o mercado de VC estava aquecido com os juros baixos e a liquidez do mercado ajudou a haver muito dinheiro disponível para quem estava arriscando com empresas de tecnologia. Por um lado, o fenômeno veio com distorções negativas – contratações aceleradas mal planejadas (que hoje se traduzem em layoffs), perda de eficiência por excesso de pujança e má alocação de capital. Porém, por outro lado, muitas startups cresceram rapidamente e criaram um ambiente similar ao das Startup Mafias no Vale do Silício: muita startup sendo criada e muito funcionário talentoso saindo para também montar sua empresa.

O pessoal da Endeavor Brasil, por exemplo, mapeou alguns casos bem emblemáticos desse “Efeito Multiplicador”. Para a Endeavor, o efeito não se limita somente ao trabalhar nas “empresas-mãe”, mas também ao papel do fundador destas na mentoria de novas empresas, bem como no apoio financeiro (investimento) às mesmas. 

A imagem abaixo, retirada do site da Endeavor Brasil, por exemplo, mostra um pouquinho do efeito multiplicador da startup brasileira 99, o primeiro unicórnio brasileiro, e de seu fundador, Paulo Véras.

Em um estudo recente de um dos gestores da Wylinka, foi analisado o que há por trás deste fenômeno no contexto brasileiro. Seus achados foram bem interessantes, e muitos dos respondentes destacaram que a vivência nas empresas-mãe ocorreu em um contexto de Estágio Profissional, reforçando nosso ponto aqui no texto. Detalhando em tópicos resumidos, o estudo identificou que:

  • Trabalhar em uma startup oferece a possibilidade de atuar em diversas áreas diferentes, e esse “amplo escopo de funções” durante a jornada profissional capacita bastante o estagiário como futuro empreendedor(a) – dado que este precisará ser um “jack of all trades”;
  • Há grande possibilidade de aumento de responsabilidades, e até mesmo de colocação em posições de liderança, quando se entra no estágio inicial de uma startup de rápido crescimento. Com isso, o estagiário desenvolve habilidades de comunicação e liderança com maior velocidade;
  • Trabalhar em startups oferece contato direto com o time fundador, e esse contato aumenta tanto a motivação para empreender quanto a capacidade de enfrentar os dilemas e crises que ocorrem no dia-a-dia de uma startup. Estagiários relataram que o contato com os fundadores acontecia não somente no dia-a-dia profissional, mas se estendia para uma relação de amizade – envolvendo atividades sociais juntas e entendimento muito próximo dos traços pessoais necessários para um bom fundador(a). Além disso, essa relação de confiança se traduz no futuro com os fundadores das empresas-mãe se tornando investidores e mentores das empresas-filha.
  • Trabalhar em startup é uma oportunidade de entrar em contato com uma série de parceiros que são “startup-friendly”, como fundos de investimento, escritórios de advocacia e parceiros de tecnologia, muitos destes pouco acessíveis para a maioria das pessoas.
  • Atuar na área de operações é uma das melhores “escolas” para empreendedores, dado que esse tipo de área geralmente envolve expansão regional (abrindo novas frentes, como um empreendedor), resolução constante de problemas e pensamento estratégico. Aqui, desenvolve-se tanto habilidades “comerciais” ligadas à expansão como pensamento crítico ligado à contínua necessidade de inventividade e resolução de problemas.

E como as universidades brasileiras podem incentivar mais isso?

O fenômeno “entrepreneurial spawning” é algo muito importante para que as universidades brasileiras se tornem mais empreendedoras. Algumas Universidades já reconhecidas como destaque em empreendedorismo, como a USP e a Universidade Federal de Itajubá, possuem práticas dignas de serem replicadas, mas também adicionaremos aqui algumas outras boas práticas internacionais.

No Brasil, como acima citado, a USP e a UNIFEI são um super case no uso de programas de estágio em startups como elemento de incentivo ao empreendedorismo. Da USP, destacamos três programas: (i) o programa de formação de novos piratas, voltado para a capacitação de estudantes para trabalhar em startups – apresentando ferramentas e boas práticas usadas no contexto de empresas de tecnologia; (ii) o programa de estágio em startups, voltado para conectar estudantes para trabalhar em startups; (iii) o programa de summer jobs, aproveitando as férias de verão de estudantes para oferecer uma vivência pontual nas startups, o que é interessante tanto para o aluno quanto para a startup, que consegue atrair talentos a um custo menor (apenas 2-3 meses de salário). 

Na UNIFEI, há o Ninja Startup Job, programa de conexão para trabalhar em startups, e também o Startup Bus – uma experiência super interessante para vivenciar um dia de trabalho em uma startup. Como a Universidade fica no interior de Minas, a possibilidade de colocar estudantes em um ônibus e levar para uma experiência pontual em startups de grandes centros urbanos foi uma saída super inventiva que recomendamos.

Já lá fora, recomendamos esse excelente estudo sobre boas práticas no Vale do Silício – em especial Stanford e Berkeley. O artigo destaca boas práticas como feiras de recrutamento, eventos de networking com startups, sessões de informação sobre estágio em startups no campus, programas de entrevistas de estágio dentro da universidade, divulgações em sala de aula, palestras com estudantes (ou alumni) que trabalham em startups e programas de matchmaking para estágios em startups.

Enfim, as possibilidades são muitas. Caso tenha interesse em desenhar um programa de empreendedorismo baseado em estágios em startups na sua universidade ou no seu ecossistema, não deixe de nos procurar – sempre temos alguns projetos guardados na manga com base nessas estratégias de fronteira que estamos estudando. Querendo bater um papo, é só mandar um email para o Ricardo Bueno (ricardo.bueno@wylinka.org.br), nosso Gestor de Relacionamentos e Captação! 

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Complementos:

Autor: Artur Vilas Boas – Pesquisador na USP em empreendedorismo e inovação (Linkedin)

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