Políticas de Inovação

Entrevista: Como o Design está gerando políticas mais inovadoras para nossa educação básica

23/junho/2019

Entrevista: Como o Design está gerando políticas mais inovadoras para nossa educação básica

Photo by Element5 Digital on Unsplash

Design + Políticas Públicas. Já abordamos a conexão entre esses dois temas no artigo “E se os políticos brasileiros estudassem design.” Lá, a gente explicou como o processo do design — e suas inúmeras ferramentas — podem ajudar gestores públicos a compreender de forma mais profunda as necessidades e os problemas das pessoas e dos territórios influenciados pelos seus projetos e decisões. Além dessa visão mais completa e empática, as ferramentas de prototipagem e iteração permitem o aprendizado rápido, gerando mais eficácia e eficiência nas soluções criadas.

O design está sendo a base metodológica utilizada no GIPA — programa de aceleração para a criação de políticas públicas para a inovação conduzido globalmente pelo NESTA (National Endowment for Science Technology and Arts — United Kingdom). A edição brasileira do programa começou em 2018 e está sendo rodada em parceria com a Wylinka, o que está trazendo grandes aprendizados para o nosso time.

Dentro desse aprendizado, nosso radar detectou o trabalho do designer Bruno Rizardi, consultor de inovação, gestão e design thinking no MEC e no GNOVA — Laboratório de Inovação em Governo. Nos projetos liderados por ele, o design entra como uma abordagem para desenhar programas mais inovadores na área de educação básica, o que é chamado de Policy Design. Nesse contexto, as metodologias criadas capacitam os gestores para fazer o desenho, o monitoramento e a avaliação dessas políticas.

Exemplos de boas práticas merecem ser acompanhados mais de perto e por isso fizemos uma entrevista com o Bruno para entender os desafios de trabalhar de forma inovadora dentro de ambientes mais robustos e burocráticos como ministérios e secretarias.

Estamos testando também um formato novo, que traz parte do nosso bate papo em áudio, para que vocês possam aproveitar melhor as experiências que ele contou.

  1. No que consiste o trabalho de inovação e gestão dentro da diretoria do MEC que você faz parte?

“A Diretoria de Acompanhamento de Políticas da Educação Básica busca criar modelos de gestão para o desenho, monitoramento e avaliação dos programas de educação básica do Ministério. Na prática, isso quer dizer que focamos no desenvolvimento de metodologias para o desenho da política (policy design), monitoramento e avaliação. A partir disso buscamos inovar nos métodos e nos desenhos, para apoiarmos na construção de políticas cada vez mais eficientes e de potencial transformador.”

2) Como a sua equipe utiliza o design para a construção de desafios e soluções dentro do Ministério?

“O design inspira nossos métodos para desenho de políticas educacionais. Atualmente, o modelo de construção de programas do ministério não é padronizado, dando margem a desenhos confusos e com grandes lacunas. O design nos ajuda a pensar métodos de elaboração de políticas baseados na empatia, colaboração e experimentação, propondo que os gestores possam entender o cidadão brasileiro, construir soluções colaborativas e até mesmo testar essas ideias de alguma forma. É um grande desafio, em vista que as políticas de educação básica são extremamente amplas e envolvem muitos atores.”

3) O ambiente governamental é comumente associado à burocracia e pouca celeridade em processos. Quais os desafios de implementar metodologias que agilizam a geração e teste de soluções dentro desse ambiente?

“Acredito que existam algumas barreiras derivadas da tradição de dependência de caminhos (“path dependance”) — ou o famoso “sempre foi feito dessa maneira”. Essa visão acaba enrijecendo os processos e deixando-os quase herméticos, descolados da realidade e imunes à inovação. Quebrar essa cultura envolve, antes de tudo, mudar o modelo mental dos agentes públicos e desenhar processos que sejam suficientemente inovadores, mas que possam ser assimilados e utilizados pelas pessoas. Isso tudo é extremamente incremental, um trabalho de formiguinha, mesmo — precisamos olhar para os modelos mentais, os processos e a cultura se quisermos promover grandes mudanças no setor público.”

4) Na sua opinião, qual o principal valor que o Design pode gerar na criação de soluções dentro de ambientes de estrutura complexa como os órgãos públicos?

“Acredito que o grande potencial do design é criar ambientes colaborativos. Isso quer dizer que, por meio do design, podemos promover um trabalho em que as pessoas se sintam confortáveis em trabalhar em conjunto para um objetivo em comum, a partir de ferramentas que estimulem a troca — assim as pessoas passam a ter uma perspectiva mais propositiva e inovadora, combinando seus valores, conhecimentos e experiências na construção de soluções mais robustas e complexas — justamente o tipo de ação que o estado precisa empreender para lidar com os problemas complexos da educação que temos hoje.”

O formato de entrevista e o uso de áudio é uma novidade nos nossos conteúdos. Estamos curiosos para saber se você gostou. Deixa sua opinião nos comentários pra gente?!

Autora: Maristela Meireles

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