Deep techs: o papel do Fórum Brasileiro de Deep Techs na definição do termo e proposição de novas agendas
Não poderia ser diferente: este post sobre Deep Techs marca um momento especial para a Wylinka, a realização do Fórum Brasileiro de Deep Techs em uma jornada por cidades-chave da inovação científica no Brasil. A rota começou em junho por São Paulo e Recife, e segue ganhando força: nos próximos encontros, Manaus e Rio de Janeiro entram em cena para ampliar ainda mais esse movimento que conecta ciência, tecnologia e impacto no coração dos ecossistemas brasileiros. A vantagem é que nem precisamos falar sobre o quão importante a pauta das Deep Techs é para a gente, né? Mas podemos aproveitar um debate do Fórum em São Paulo pra abrir o texto – a importância das Deep Techs para o Brasil.
Como reforçou Rafael Fassio, Procurador do Estado de São Paulo, Deep Techs não são somente o tema quente do momento, elas também são bastante estratégicas quando falamos de mudanças climáticas, transição energética sustentável, segurança alimentar, saúde, bem-estar e neoindustrialização do Brasil. Em momentos de transição econômica, as Deep Techs são chave para que nós, como nação, nos tornemos protagonistas em pautas estratégicas, repensando nossas indústrias para um futuro que virá bem acelerado. Mas antes de falar dos impactos, temos uma pauta que a Ana Calçado, CEO da Wylinka, reforçou muito durante os debates e que precisamos tratar aqui. Como definir uma Deep Tech?
Deep Techs: definindo para garantir apoio estratégico
Como reforçou nossa CEO, a definição do que é uma Deep Tech é fundamental para evitar que aportes sejam feitos de maneira pouco fundamentada. Sabemos que esse é um caminho clássico para uma alocação ruim de recursos, que depois se traduz em críticas às empresas, e não ao desenho da estratégia de alocação.
E quando falamos da definição de Deep Tech, a coisa fica realmente confusa: é todo negócio que envolve ciência? Se utilizou alguma pesquisa acadêmica para pensar na solução, isso já é suficiente para considerar? Empresas de IA são Deep Techs, dado o uso intensivo de conhecimento? Como podem perceber, há muita margem para distorções e interpretações distintas por aqui, e isso é algo que queremos evitar.
Uma definição inicial que nos inspira – e pode ajudar nessa tarefa – é uma mais antiga, da época em que o debate sobre empreendedorismo acadêmico ganhava força. Nela, Pisano (2006) afirma que esse tipo de negócio não é composto por empresas que apenas utilizam a ciência de forma passiva, mas sim por organizações que assumem o papel de participantes ativos no processo de avanço científico. Nesse sentido, temos a Deep Tech como uma organização cujo progresso comercial está diretamente ligado ao progresso da ciência – como, por exemplo, o surgimento de novos materiais. Gostamos dessa ideia.
Uma segunda lente, menos formal mas que traz debates relevantes, foi discutida recentemente pelo pessoal da Y Combinator em um videocast recentemente. Nessa visão mais prática, Deep Techs são definidas como organizações nas quais o risco tecnológico supera os riscos de mercado. Apesar disso, há uma provocação interessante trazida pela imagem abaixo: em alguns contextos com alto risco de mercado, também existe um risco científico significativo (embora inferior), o que ainda poderia caracterizar o negócio como uma Deep Tech.
Como podem ver, esse modelo de “risco tecnológico superando risco de mercado” como definição cria margens de interpretação complicadas. Ainda assim, é uma perspectiva interessante. No mesmo debate, eles buscaram apresentar outra visão sobre a relação entre risco de mercado e risco tecnológico, que se reflete no formato que desenhamos abaixo.
Nessa abordagem, os quatro quadrantes permitem contemplar todo tipo de risco tecnológico, mas introduzem uma nova categoria (hard techs) — o que, conceitualmente, sempre carrega certa problemática. Ainda assim, a ideia de que existem negócios intensivos em tecnologia com diferentes tipos de demanda (ex: tecnologia militar com demanda comprovada versus dermocosmético para algum mercado emergente) parece promissora. Nesse caso, a Deep Tech seria aquela que apresenta tanto risco de mercado quanto risco tecnológico elevados.
Como comentamos, essas duas variações ainda apresentam problemas. Por isso, na Wylinka — especialmente por iniciativa da nossa CEO, Ana Calçado — temos debatido intensamente para chegar a uma definição que não gere conflitos. Nesse processo, Ana encontrou duas excelentes definições acadêmicas e recentes, que já reconhecem a Deep Tech como um fenômeno específico.
A primeira, mais concisa, foi proposta pela investidora Swati Chatuverdi, sendo considerada uma das primeiras definições do conceito: “Deep Techs são empresas fundadas a partir de uma descoberta científica ou inovação tecnológica significativa.” A segunda, de caráter mais acadêmico e amplamente utilizada pela Wylinka, afirma: “tecnologias em estágio inicial baseadas em avanços científicos ou de engenharia — tecnologias que requerem um longo tempo de desenvolvimento, integração sistêmica e conhecimento sofisticado para criar ofertas resultantes com potencial de enfrentar grandes desafios sociais” (Romasanta et al., 2021).
E qual o impacto da definição?
Como dissemos, a clareza da definição impacta bastante na alocação de recursos. E agora que temos a definição posta, a pergunta que fica é – qual o impacto disso tudo? Bom, em primeiro lugar, as Deep Techs têm essa natureza única de temporalidade (duração da validação), de riscos envolvidos, e de complexidade da cadeia de valor dada a integração e conhecimentos exigidos. Disso surgem uma série de problemas que foram debatidos no Fórum em São Paulo: desafios nas plataformas industriais para permitir os avanços; necessidade de avanços nos aspectos regulatórios; expectativa de maior colaboração entre atores públicos e privados necessários; (adicionar mais do MAC).
E o segundo aspecto se reflete nas questões de financiamento – quem financia as Deep Techs? E como pode ocorrer esse financiamento? No fórum, foram apresentadas uma série de vias que já existem em São Paulo – Sebrae junto à FAPESP aportando recursos financeiros nas Deep Techs, programas PIPE da FAPESP, fundos de capital privado (GridX, Green Rock, Vesper e Pitanga – como detalhado aqui). Além disso, gostamos sempre de tocar em horizontes como Blended Finance (financiamento público e privado em conjunto), filantropia, fundos de impacto, entre outros. Essa foi uma pauta central no fórum: como construir uma integração coesa entre as muitas oportunidades que estão surgindo, como o fundo de transição energética do BNDES, para garantir a superação do clássico vale da morte das Deep Techs.
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