A carta de Biden que pode mudar a história da ciência
A carta de Biden que pode mudar a história da ciência
17 de Novembro de 1944: o então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, escreveu uma carta para o então Diretor do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico da nação, Vannevar Bush (antes, ocupava a posição de Reitor da Escola de Engenharia do MIT), e essa carta se tornou um relatório considerado como um dos documentos mais importantes do século XX. O documento, entitulado “Science — The Endless Frontier”, foi um marco por ter sido entregue em Julho de 1945, alguns meses antes do fim da segunda guerra, que ocorreu após Hiroshima e Nagasaki, o momento no qual a supremacia de uma nação foi determinada por seu poder científico. Nele, Bush destacou a importância da ciência para a competitividade de uma nação por refletir em saúde pública, geração de tecnologias e, consequentemente empregos, fortalecimento da indústria e, como se mostrou na época, segurança nacional. O relatório é excelente, mas não nos estenderemos nele por aqui, somente reforçamos sua leitura, pois fala sobre o papel da atenção, e investimentos, na ciência básica (mesmo que sem retornos explícitos), na tradução da ciência em empregos e na liberdade fundamental para que cientistas busquem a verdade acima de tudo. O material se tornou a base para a criação da National Science Foundation, fundamentando toda a ciência americana daí para frente. Abaixo, um trecho de cada carta, para dar um gostinho da riqueza do material:
“The pioneer spirit is still vigorous within this nation. Science offers a largely unexplored hinterland for the pioneer who has the tools for his task. The rewards of such exploration both for the Nation and the individual are great. Scientific progress is one essential key to our security as a nation, to our better health, to more jobs, to a higher standard of living, and to our cultural progress.” — Vannevar Bush
“New frontiers of the mind are before us, and if they are pioneered with the same vision, boldness, and drive with which we have waged this war we can create a fuller and more fruitful employment and a fuller and more fruitful life.” — Franklin D. Roosevelt
Voltamos para 2021: ao assumir a posição de presidente dos EUA, Joe Biden, fazendo menção à carta original de Roosevelt, endereçou uma carta similar ao seu recém-indicado assessor científico com questionamentos similares, mas referentes ao momento atual. Buscando a mesma praticidade demandada por Rosevelt, Biden explicitou estar buscando, como seu antecessor, “estratégias gerais, ações específicas e novas estruturas que o governo federal deveria adotar para garantir que nossa nação continue extraindo poder total da ciência e tecnologia para o bem dos americanos”. Nesse artigo, destacamos as 5 prioridades e horizontes apresentados por Biden a Eric Lander, renomado cientista e professor de Harvard e MIT, seu assessor. Sua leitura é fundamental para todos os que, como nós da Wylinka, e nossos parceiros/clientes, acreditam e desenham programas de desenvolvimento para Ciência e Tecnologia.
O que podemos aprender com a pandemia sobre o que é possível — ou o que deveria ser possível — para endereçar de forma mais ampla possível as necessidades relativas à nossa saúde pública?
No primeiro tópico, Biden reforça a necessidade de aprendermos a reagir rapidamente a ameaças patogênicas, sejam elas na forma de pandemia, armas biológicas ou bactérias super resistentes. As pautas versam sobre velocidade no desenvolvimento clínico, bom uso (consentido) de dados de saúde para um sistema mais inteligente e o papel da telemedicina para melhoria na saúde de todos.
Como breakthroughs em ciência e tecnologia podem criar novas soluções para combater a mudança climática — e como isso pode alavancar mudanças de mercado, saltos econômicos, melhoria de saúde e expansão de empregos, especialmente em comunidades negligenciadas?
Endereçando a questão de mudança climática, Biden traz uma ótica de desenvolvimento econômico: encarando-a como uma oportunidade para investimentos no fortalecimento da indústria americana e um consequente aumento de empregos bem remunerados para milhões de americanos. Aqui, há uma consideração interessante do presidente: os Estados Unidos tem uma história bem sucedida, e apartidária, de atuação proativa do governo para acelerar o surgimento de novas indústrias, como a de semicondutores. Isso ocorreu por meio de políticas de incentivo, orçamentos de pesquisa básica e encomendas tecnológicas, 3 pilares fundamentais para o desenvolvimento industrial de uma nação.
Como os Estados Unidos garantirão que são a liderança global em tecnologias e indústrias futuras que serão críticas para a prosperidade e segurança nacional, especialmente competindo com a China?
Em seu terceiro ponto, Biden destaca que outros países, especialmente a China, estão fazendo investimentos sem precedentes e fazendo o possível para o crescimento de novas indústrias de modo a tentar eclipsar a hegemonia americana em ciência e tecnologia. A estratégia vitoriosa, segundo Biden, será diferente do que os outros estão fazendo, mas também deverá ser diferente do que já foi feito pela nação americana. Repensar e redefinir o nível de investimentos em ciência, os pilares da estratégia nacional, as estruturas e as políticas públicas será um dos desafios de sua gestão. Tudo isso sem canibalizar empregos bem remunerados. Um tema que gostamos muito foi reforçado pelo presidente: fortalecer e expandir a relação entre academia, indústria e governo, que historicamente são cruciais para o avanço tecnológico e proteção da segurança nacional do país. Ler isso esquentou nosso coração 🙂 (se precisar, chama a Wylinka, Mr. President!)
Como garantir que os frutos de ciência e tecnologia possam ser totalmente compartilhados por todos os EUA, e por todos os americanos?
Reforçando o fato de que os benefícios gerados pelos avanços ainda são desigualmente distribuídos por raça, gênero, classe social e geografia, Biden provoca seu assessor sobre como fazer com que esse florescimento possa ocorrer por todas as partes do país. Além disso, destaca a necessidade de avanços da ciência em saúde sejam benéficos para todos.
Como garantir que a ciência e tecnologia se mantenham saudáveis a longo prazo?
Utilizando um termo que adoramos, ecossistemas, Biden reforça que o florescimento da ciência da tecnologia americanas é dependente de um ecossistema de pessoas, políticas e instituições bem integradas, mas que isso precisa ser nutrido e revitalizado continuamente, especialmente em um mundo de rápida mudança. Nesse aspecto, o presidente provoca a necessidade de se criar um governo no qual a ciência seja sempre valorizada, e no qual os cientistas queiram trabalhar. E, ao valorizar a ciência, criar mecanismos para repensar a forma de trabalho de laboratórios de pesquisa, e também repensar na maneira de se treinar pessoas para STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Por fim, ressalta a necessidade de garantir que os EUA se mantenham um imã que atrai as mentes mais brilhantes do mundo inteiro.
E o Brasil, como fica?
Quando a pandemia chegou ao Brasil e as instabilidades se instauraram, fizemos uma reunião com as cabeças da Wylinka para discutir sobre presente e futuro. Em uma das discussões, lembramos dos tratados e conferências pós-guerra: “se a pandemia vai ser encarado como uma guerra mundial travada entre a ciência global e o coronavirus, qual vai ser o tratado de versalhes que vai o suceder?”. Aí mora uma crença que começa a ser fortalecida com a carta de Biden: acreditamos que o papel da ciência vai ser repensado após a pandemia. Na nossa opnião, veremos um grande tratado emergir destacando a necessidade de investimentos em ciência como uma condição essencial para saúde pública, e saúde pública passará a ser tratada como saúde global, dado o potencial pandêmico da globalização. Ao Brasil, vai restar acompanhar ou acompanhar, e nossas instituições, bem como todo o ecossistema composto por P&D privado, incentivo a startups, novos modelos educacionais e de suporte à geração e transferência de tecnologia, serão forçados a reinventar.
Se depender da gente, aqui na Wylinka, estaremos prontos, pois essa é uma missão para a qual nos dedicamos há quase uma década. A nossa expectativa é que o nosso país adote posturas proativas, sejam públicas ou privadas, e desde já comece a desenhar seus programas de incentivo à ciência e geração de tecnologias.
Uma das iniciativas que apoiam a inovação como motor para a construção da prosperidade dos países é a Catalyze. Criada pela especialista Christimara Garcia, a Catalyze é um action tank que estuda e implementa a teoria das Inovações Criadoras de Mercado, desenvolvida pelo Clayton Christensen Institute (aquele mesmo das inovações disruptivas!). A Wylinka está nessa junto com a Christimara, apoiando a operação de todas as ações do action tank em países emergentes. Para conhecer mais, acesse: https://catalyzeinnovations.org/!
Se você faz parte de alguma organização que esteja já se preparando para um futuro mais inovador, mande um email para a gente no (novosnegocios@wylinka.org.br) que a gente pode pensar em coisas juntos!
Cartas originais e artigos que já escrevemos sobre o assunto: