Investindo em startups: mapear oportunidades com o modelo Promised Land
Estamos começando uma série que consideramos bastante importante para empreendedores(as) e investidores(as) – a série investindo em startups. Nela, pretendemos apresentar uma série de ferramentas e frameworks que podem ajudar as pessoas que investem em startups – e por investir não tratamos apenas a que alocam dinheiro esperando um retorno em equity futuro, mas também empreendedores(as) que dedicam sua vida à suas empresas, agentes de aceleração, incubadoras e muito mais.
Começaremos a nossa série com o framework “Promised Land”, desenvolvido por um empreendedor da USP com base em uma série de materiais de Stanford e do Vale do Silício. O modelo, apresentado por Pedro Mauro – fundador da startup Salars, organiza uma abordagem para melhor entender as apostas de investidores de capital de risco, e com base em uma sistematização de dados, construir um mapa de oportunidades ainda não tão exploradas no Brasil. Esperamos que gostem!
Idea Maze: a base de tudo
O modelo Promised Land começa no Idea Maze – e o que é isso? O Idea Maze apareceu pela primeira vez em uma aula de Stanford oferecida pelo professor Balaji Srinivasan (também grande investidor no Vale do Silício). Recentemente, ela voltou à tona com um dos maiores investidores do mundo, Marc Andreessen (do A16Z), falando que espera que os fundadores(as) venham preparados para falar com investidores(as) com o Idea Maze realizado.
A ferramenta, que já apresentamos brevemente há mais de um ano aqui, é uma maneira de organizar as principais “teses” de um mercado específico na forma de um labirinto de possibilidades. Exemplo: se você quer empreender com uma startup no mercado de Pets, você pode seguir por alguns caminhos – lojas online, “uber” de vets/passeadores/etc, ferramentas de gestão de clínicas, telessaúde, hardware, entre outros.
Dentro de cada uma dessas possibilidades, podem haver algumas outras especificidades (hardware para monitorar saúde versus hardware para evitar fugas). Estudando bem o mercado, como por meio de algum portal de notícias tipo TechCrunch, você consegue montar um “labirinto de ideias já existentes” como o que temos abaixo:
Complementar ao Idea Maze, pode-se levantar também – utilizando sites como o Crunchbase – o investimento levantado pelas principais empresas do setor, entendendo assim alguns espaços mais ou menos aquecidos. Isso nos leva ao segundo item do processo, mas, antes disso, vamos à operacionalização da criação do Idea Maze:
- Passo 1: Entre em sites de notícias de startups e procure pelo termo do mercado que se está analisando. Prefira buscas mais abertas para encontrar amplitudes nos negócios (em vez de “e-commerce para pets”, busque apenas “pets”).
- Passo 2: Organize todas as empresas identificadas e tente resumir suas teses em palavras-chave (ex: “e-commerce”; “plataforma de gestão”; “wearables”). Organize esses agrupamentos e veja se há subagrupamentos (ex: “shopping” > “tradicional + e-commerce” *versus “*e-commerce”). Com isso, você já começa a entender as apostas do mercado.
- Passo 3: Entre em sites de acompanhamento, como o Crunchbase, para identificar quanto de investimento as startups mapeadas já levantaram. Adicionar o investimento ao Idea Maze.
Identificando oportunidades: o Promised Land
Agora vamos à segunda etapa do processo, que consiste em entender as apostas dos fundos de investimento. Aqui tem-se uma premissa arriscada: o modelo acredita que o volume de capital levantado é um bom proxy para o potencial de sucesso da empresa.
Sabemos que é uma premissa perigosa, pois, especialmente em cenários de grande liquidez, a alocação de capital pode ficar menos criteriosa. Apesar disso, a tese de doutoramento de um dos gestores da Wylinka aponta boa associação (0.6) entre faturamento da startup e investimento levantado, o que minimiza problemas da abordagem.
Ao levantar os investimentos no passo 3 da etapa do Idea Maze, investidores podem encontrar algumas frentes de análise:
- Onde há maior concentração de funding? Há alguma tendência? Aqui, a depender da qualidade de quem analisa, muitas conclusões podem ser tiradas. Como a melhor referência de cenário, temos os materiais do Benedict Evans, como o estudo “The Great Unbundling” (atenção: usa dados além de funding e valuation).
- Sobre os intervalos de funding – quais startups estão mais “quentes” e quais não conseguiram captar outras rodadas? Geralmente, rodadas subsequentes em intervalos curtos (até 2-3 anos, dependendo do cenário econômico), indica que o modelo tem performado bem e atrai mais gente apostando que pode ser um grande sucesso. Variáveis como intervalo curto entre rodadas, participação dos fundos anteriores nas rodadas futuras e tamanho/valuation dos investimentos ajudam em um bom ballpark. Lembrando que tudo precisa ser analisado com critério, entendendo o modelo, o cenário econômico e outras variáveis contingenciais.
- Existe algum modelo funcionando bem lá fora que ainda não foi criado no Brasil? Se sim, por qual motivo ainda não foi executado por aqui? Dado que muitos unicórnios brasileiros são basicamente a versão tropicalizada de modelos que estavam funcionando fora do país, esse é um bom ponto de atenção.
Juntando as variáveis “concentração de funding” com “intervalos de funding”, temos um gráfico, chamado de Promised Land pelo empreendedor Pedro Mauro – relatado em seu trabalho de formatura apresentado à Escola Politécnica da USP (imagem abaixo retirada do trabalho):
Por fim, busca-se, especialmente avaliando “as promissoras”, mas também “as estabelecidas”, identificar qual modelo de startup ainda não foi executado no Brasil (a terceira variável apresentada acima). Com isso, temos o framework Promised Land, que auxilia na identificação de grandes oportunidades de startups ainda não executadas no país. Novamente operacionalizando:
- Passo 4: com o idea maze em mãos e os valores de investimentos organizados, identifique a idade da empresa.
- Passo 5: organize um gráfico cruzando a idade da startup e o investimento já levantado. Aqui, também podem ser utilizadas variáveis mais sofisticadas, baseadas em intervalo de funding, participação dos mesmos fundos em rodadas futuras, relevância dos fundos que participam, etc.
- Passo 6: com o gráfico estruturado e clareza das “promissoras” e das “estabelecidas”, investigue o que já existe no Brasil e o que não existe, bem como os principais motivos para a não existência. Consultar especialistas/insiders sobre a viabilidade dos modelos para o Brasil ajuda bastante nessa fase.
Conclusões
O bom do empreender é que o mercado está sempre se reinventando, e a introdução de novas tecnologias sempre permite novos modelos. O modelo “Promised Land” auxilia no processo de mapeamento e entendimento das principais teses existentes no mercado.
Significa que teses não presentes em um estudo não vão funcionar? Não necessariamente, mas funciona como uma excelente ferramenta para identificar para onde empreendedores(as), e especialmente investidores(as), estão olhando e apostando.
O “Promised Land” traz repertório e enriquece a capacidade analítica de quem investe em inovação, facilitando o processo de construção de teses e identificação de oportunidades. Com as principais teses mapeadas, pelo menos você sabe como está o seu mercado e pode tomar decisões melhor fundamentadas.
Caso queira conhecer mais o processo de criação de um Promised Land, recomendamos o trabalho do Pedro Mauro (clicando aqui). Uma outra boa leitura, aplicando o conceito do Idea Maze para gestão de produtos, pode ser encontrada clicando aqui. E recomendamos também seguir a gente para receber atualizações sobre as próximas ferramentas que estamos preparando para quem investe em startups.
Esperamos que tenha gostado! Because when you rock, wyrock.
Autor: Artur Vilas Boas – Pesquisador na USP em empreendedorismo e inovação (Linkedin)