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Por que precisamos falar de mulheres em tecnologia

08/março/2015

Por que precisamos falar de mulheres em tecnologia

Há mais de um século, o dia 8 de março representa a luta por condições justas frente à falta de proporcionalidade no tratamento dado às mulheres em ambientes de trabalho — e na sociedade como um todo-, e ainda assim há muito a ser feito para melhorar tais condições, especialmente no universo da tecnologia — onde as salas de aulas de formações técnicas são de maioria masculina.

Em um brilhante artigo intitulado “Silicon valley is more Flintstones than Jetsons when it comes to women”, a empreendedora Elena Favilli destaca os problemas de uma mulher empreender em ambientes de tecnologia: comentários como “é sempre um prazer estar em tão bela companhia” (seguidos de uma piscada ou um sorriso diferente) e os “feedbacks”, muitas vezes subentendidos, relacionados a fragilidades de uma empresa encabeçada por mulheres são comumente vivenciados. Esses problemas, e muitos outros, também são apontados no artigo da Harvard Business Review “Hacking techs diversity problem” e no recente artigo da revista Times de Los Angeles “Why are women leaving the tech industry in droves?”.

Frente a esse ambiente repleto de dificuldades, decidimos para o dia de hoje apresentar 3 pontos que demonstram a necessidade de se falar de mulheres em tecnologia:

Vivemos em um baralho viciado

Pegando carona em uma leitura recomendadíssima do blog Papo de Homem, é importante destacar que, no Brasil, carregamos historicamente uma estrutura que caracteriza a figura masculina como superior e digna de mais benefícios. Como apresentado pelo autor, “o baralho que herdamos dos nossos antepassados já está viciado para beneficiar sempre um tipo específico de jogador. Não basta somente que nós, os jogadores beneficiados, simplesmente não trapaceemos. É necessário trocar de baralho.”

A consequência do baralho viciado, além de cruel, é comum: mulheres têm abandonado suas ambições em ambientes de trabalho, optando por não seguir sua carreira (geralmente estacionando em posições mais baixas) e até mesmo largando seus empregos. Tais escolhas são justificadas, afinal, a cultura faz com que as mesmas trabalhem em dobro, abdiquem de sua feminilidade, abram mão da flexibilidade — traços que oprimem até mesmo os homens, que também se adequam ao baralho para terem seus benefícios, não podendo, por exemplo, ter uma licença paternidade justa.

Portanto, o problema do baralho viciado mostra a necessidade de um esforço diferenciado para aumentar a densidade de mulheres no ecossistema e mudar a mentalidade que configura tal baralho.

A era da síndrome do impostor atingindo massivamente o sexo feminino

Atenção: esse é o ponto mais importante desse artigo. É um dos temas que menos se fala sobre o ambiente de negócios para mulheres, e talvez seja um dos mais relevantes a serem abordados.

A cultura que oprime e caracteriza as mulheres como inferiores em ambientes de trabalho gera consequências que muitas vezes atuam no inconsciente das mesmas, tais como o fenômeno da “síndrome do impostor”, que tem atingido a grande maioria de profissionais bem sucedidos e tendo alta frequência no sexo feminino, contemplando inclusive grandes figuras, como Emma Watson — que muito tem feito pelos movimentos de maior igualdade para as mulheres.

A síndrome do impostor se caracteriza por uma crença profunda de que o seu sucesso não foi realmente merecido, sem dar créditos às próprias competências e sempre buscando justificativas como sorte ou acaso, carregando consigo uma grande sensação de que tudo não passa de uma farsa, de um perfil impostor que carrega junto com sua baixa autoestima. É bastante corriqueiro em ambientes nos quais a personalidade da pessoa sempre foi rebaixada e minimizada, o que é comum para a realidade das mulheres em nossa sociedade.

Esse é um grande problema e traz ansiedade, procrastinação e baixa produtividade para todos aqueles acometidos, tornando fundamental abordar o assunto com mais seriedade e cuidado. Para aprofundar no problema da síndrome, confira esse texto. Há também um estudo científico sobre o problema na realidade de mulheres bem sucedidas, faça o download aqui: wylinka-imposter syndrome.

É bom para o ecossistema como um todo

Ecossistemas de empreendedorismo são prejudicados em ambientes de desigualdade, consequência levantada no livro “Startup Nation”, que conta a história da construção do ecossistema de Israel: “Finalmente, um fator talvez ainda mais importante nas limitações às economias empreendedoras de alto crescimento é o papel das mulheres. David Landes, da Universidade de Harvard, autor do livro seminal ‘A riqueza e a pobreza das nações’, sustenta que o melhor barômetro para o potencial de crescimento de uma economia são os direitos legais e a posição das mulheres na sociedade. ‘Negar as mulheres é privar o país de mão de obra e talento, e prejudicar a motivação para a realização entre meninos e homens.’ Landes acredita que nada debilita mais a motivação e a ambição do que o sentimento de merecimento. Toda sociedade tem elites, e várias delas já nascem em sua posição de alto escalão. Porém, não existe um sentimento mais amplamente disperso de merecimento do que incutir na mente de metade das pessoas de um país que elas são superiores, o que, segundo ele, reduz a sua ‘necessidade de aprender e realizar’. Esse tipo de distorção torna uma economia inerentemente não competitiva e é o resultado da condição economicamente subordinada das mulheres no mundo árabe.”

Conclusão: há muito a ser feito, e temos bons motivos para acreditar em melhorias

Embora existam muitos problemas, enxergamos muita coisa sendo feita para melhorar tais condições no Brasil, e preferimos encerrar o artigo indicando alguns casos interessantes, tais como o da engenheira de software Camila Achutti e seu incrível esforço para dar suporte a mulheres na computação; o programa Technovation Challenge Brasil, que representa a organização internacional atuando no país para ensinar meninas a programarem; o Rede Mulher Empreendedora, encabeçado pela genial Ana Fontes, que conecta e estimula o empreendedorismo feminino; e a mais recente descoberta, o projeto Itaú Mulher Empreendedora, voltado para empoderar mulheres empreendedoras no país. Todos estes nos dão esperança em um futuro mais decente e com mais respeito para as mulheres em tecnologia.

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Um feliz dia da mulher a todos!

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