Deep Techs e Startups

O SEED voltou! E o que aprendemos?

19/outubro/2015

O SEED voltou! E o que aprendemos?

Sim, é oficial: o SEED voltou. Para quem não sabe, o SEED — Statups and Entrepreneurship Ecosystem Development é um programa do Governo de Minas Gerais voltado para aceleração de startups e desenvolvimento de um ecossistema de empreendedorismo vibrante no Estado, programa este que teve sua continuidade questionada nos últimos meses por conta de transições de governos e dificuldades diversas, tendo sido noticiado em diversos jornais, como nessa notícia do Estadão: Seed fecha as portas em Minas Gerais e startups são ‘despejadas’.

Apesar dos altos e baixos desse ano com as notícias, é oficial: após as devidas revisões e reavaliações, o SEED voltou. Teremos algumas mudanças, tais como a residência das startups — que agora passa a ser ao lado do CIV 104 (edit: falha nossa, havíamos colocado que seria no CIV, mas será ao lado — SEED com casa própria!), e, como gostariam muitos empreendedores e apaixonados pelo SEED, muita coisa se mantendo estritamente igual ao que era antes. Ou seja, além de um novo espaço bem legal em Belo Horizonte, os empreendedores selecionados terão o incentivo financeiro similar ao da turma passada (que era um capital semente de até 80 mil reais, sem qualquer participação acionária) e passarão por um processo de aceleração bastante intenso durante o período de 6 meses. Para os interessados, o edital da próxima rodada abre em dezembro desse ano.

Porém, o objetivo do post não é somente noticiar a novidade (que não é tão novidade para muitos), mas sim apresentar de modo breve os aprendizados que nós da Wylinka tivemos como entidade executora das duas primeiras rodadas do SEED-Mg. Vale ressaltar aqui que há muito dos nossos aprendizados sobre o SEED e outras participações nossas em outros posts, tais como: O que há de errado com os mentores de startups no Brasil? / 7 aspectos nos quais o SEED contribuiu para a revolução do empreendedorismo mineiro / Pare de emular o Vale do Silício: duas regiões empreendedoras das quais você talvez nunca ouviu falar.

E aí, o que aprendemos?

Desafio 1: startups fracassam.
Um dos maiores dissabores de estar à frente de programas como o SEED é ver startups de grande potencial fracassarem, como o vimos o caso da Cucco, uma startup do San Pedro Valley que relatou essa jornada na ótima leitura “From hero to zero: What I learned screwing up 0.5 million as startup co founder”. É duro e não são poucas, mas acontece e é preciso ter esse desafio em mente quando se pensa em um desenvolvimento de ecossistemas de empreendedorismo. Mas ainda assim, é um ponto a se atentar e buscar melhorias. No caso do SEED, nas primeiras rodadas já teve-se um pouco mais de atenção no processo de seleção pensando em selecionar times sólidos e com boa bagagem. O que aprendemos foi atentar-se a padrões que podem indicar menor potencial de fracasso, tais como:

(i) Habilidade de definir uma visão e executar de maneira consistente. Leitura indicada: The most important factor of startup success.

“My colleagues would be jet lagged, food deprived, sleep deprived –and they would have a meeting. You have to perform. Imagine you’re a marine. Be on top of your game. You’re on a mission and a lot of times it’s like a battle, but with the right team and the right beliefs you are going to get through it.”

(ii) Constantemente ouvir seu público e rodar pilotos. Leitura indicada: 500 Startups Marvin Lao — ‘I don’t invest in PowerPoint startups’.

“It’s about finding the missionaries versus the mercenaries. We try to fund the missionaries — those people who are meaningfully trying to solve real problems. Is there a real market for what they are doing? Have they a team with the right backgrounds and will they stick through the start-up journey? I’m not interested in pre-launch companies. Do you have something working? I’m not taking on people who just have a wonderful idea, I don’t invest in PowerPoint start-ups.”

(iii) Time composto por jedis. Leitura indicada: You don’t have what it takes.

“I can see the non-Jedi a mile away. People who are willing to start companies if you give them money. People who start companies if they find a developer to work for free. People who are willing to start companies, but need to go to TED and Necker Island first. People who are willing to start companies, but only if they can make the same money they made at Google. Let’s be realistic: Giving up everything material and important in your life to go on a suicide mission is the work of Jedi, not civilians.”

(iv) Seja complementar, e saiba mudar rapidamente. Leitura indicada: The startup team.

“In a perfect world you build your vision and your customers would run to buy your first product exactly as you spec’d and built it. We now know that this ‘build it and they will come” is a prayer rather than a business strategy. In reality, a startup is a temporary organization designed to search for a repeatable and scalable business model. This means the brilliant idea you started with will change as you iterate and pivot your business model until you find product/market fit. The above paragraph is worth reading a few times. It basically says that a startup team needs to be capable of making sudden and rapid shifts — because it will be wrong a lot. Startups are inherently chaos. Conditions on the ground will change so rapidly that the original well-thought-out business plan becomes irrelevant.”

jedis

Desafio 2: O lock-in no ecossistema.
Uma das principais críticas a programas como o SEED, Startup Chile e afins é a questão de os mesmos perderem grande parte das startups após a aceleração para outros ecossistemas (sejam os de origem, sejam outros com novos programas), e isso reduzir o potencial de impacto local das startups aceleradas. Esse é um questionamento importante, embora acreditemos na liberdade das startups de irem para os ambientes que melhor lhes ofereçam oportunidades. O que aprendemos é que o melhor é construir boas bases das startups com o ecossistema, criando um senso de retribuição à comunidade que o desenvolveu etc. Porém, para fins de políticas públicas, algumas estratégias poderiam favorecer: a primeira delas seria concentrar-se em vendas — estimular a aproximação e fechamento de contratos com empresas/órgãos públicos da região é uma ótima maneira de fortalecer laços (e colocar produtos na rua é papel básico de um programa de aceleração de ponta), foco no empreendedor — foco em resultados locais através do sucesso dos empreendedores. Em segundo lugar, estimular a contratação de gente da região, de estagiários de universidades etc. é um caminho interessante — os primeiros funcionários são sempre grandes nomes nas startups, e isso seria um fator de peso em uma decisão futura de sair da região.

Leitura recomendada: O que é um ecossistema de startups.

“Mas então, qual é o grande ‘show’ do empreendedor? FAZER SEU NEGÓCIO ACONTECER. Simples assim, sem muxoxos e sem enrolação. Empreendedor bom é empreendedor que coloca o resultado na mesa. Os empreendedores são os grandes líderes de um ecossistema. Jamais uma associação ou uma aceleradora será capaz de liderar um ecossistema. Mesmo que queiram, nunca terão a ‘autoridade’ reconhecida para isso. Sempre serão os empreendedores. E, para que essa liderança seja devidamente reconhecida, é preciso mostrar resultados. Portanto, o primeiro e mais importante passo de um empreendedor é fazer seu negócio dar certo. Se não der certo, é começar de novo, e novamente e novamente até o resultado aparecer.”

Outros desafios mais específicos
Alguns desafios mais específicos são importantes questões a se atentar, portanto resolvemos compilar aqui para não deixar as atenções passarem. Pontos como atenção às potencialidades da região (biotecnologia, hardware etc.) e adaptação do programa às demandas desse perfil; maior interação com universidades e laboratórios; cuidados com startups turistas — que estão mais atentas em pular por programas de aceleração pela hype e pelo dinheiro.

Os desafios são sempre constantes — e isso nos move a redesenhar e melhorar os programas constantemente. Esse compilado, contudo, vem para auxiliar outros ecossistemas, programas e startups a melhor se desenvolver em ambientes cuja atmosfera de startups seja vibrante e crescente — e esperamos pode ajudar com nossos conteúdos e conhecimento produzido. Por falar em ajuda através de abertura, gostaríamos de agradecer toda abertura que a SECTES — Secretaria de Ciência Tecnologia e Ensino Superior, encabeçada pelo secretário Miguel Correa e Leonardo Dias, tem dado à Wylinka e a todos os envolvidos no ecossistema de Minas Gerais. Considerar a opinião não só dos agentes, mas especialmente dos empreendedores foi uma grande atitude e acreditamos que isso trará coisas muito boas para nosso Estado!

E você, que desafio do seu ecoossistema gostaria de trabalhar? Compartilhe conosco!

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