Investindo em Startups

Investindo em startups: como identificar grandes founders?

04/julho/2023

Como identificar grandes founders? Confira!

No último ano, temos escrito uma série muito bem recebida por leitores aqui da DEEP – a “Investindo em Startups”. Nela, falamos sobre coisas importantes que investidores(as) devem considerar na sua tomada de decisão, como tamanho de mercado e willingness to pay, bem como ferramentas e processos que auxiliam nessa tomada de decisão.

No post de hoje, trataremos de um outro tema de bastante relevância: a identificação de bons founders. Organizamos aqui algumas características e evidências de estudos, ensaios e até mesmo pesquisas que realizamos como Wylinka. Esperamos que gostem!

Entendendo o escopo

Em primeiro lugar, o tipo de pessoa fundadora depende bastante do escopo do negócio em questão. Quando falamos de startups no espaço de investimentos, estamos falando de alguém que consiga ser capaz de (i) atrair recursos de todo tipo, mas especialmente humanos, para rápido crescimento, (ii) gerenciar a escala rápida – ou seja, saltos de um time de 20 pessoas para 100 pessoas em intervalos curtos de tempo – sem prejudicar processos, agilidade ou cultura da empresa, (iii) ter visão estratégica para entender o usuário e lidar criativamente com forças competitivas de players dominantes e de novos entrantes, bem como (iv) sobreviver à montanha-russa emocional que é fundar uma startup

Encontrar uma pessoa, ou um time, que consiga cumprir com esses pontos não é nada trivial – e esse é um dos principais motivos pelo qual grande parte das startups não sobrevivem.

Lembrando que esse é o escopo que se alinha à série – para outros casos, como Deep Techs, a competência técnica ligada à tecnologia e o acesso a uma rede de parceiros estratégicos pode ser bem mais importante, e é por isso que vemos casos nos quais o time fundador tinha exatamente essa característica, como a empresa Moderna, das vacinas para COVID. Há também o cenário de empresas com outras pretensões de crescimento, como uma casa cultural que quer fortalecer suas raízes e sua comunidade, sendo intencionalmente voltada para um crescimento lento – e nesse caso, a ambição e habilidades de uma pessoa de startup pode até mesmo prejudicar. Desta forma, reforçamos – este post volta-se mais para founders de startups.

O que dizem as estatísticas

Alguns estudos já foram produzidos sobre o perfil de fundadores de sucesso (destacamos o livro “Super Founders”), e aqui tentamos compilar algumas características. Interessante notar que as estatísticas destacam o olhar não só para o fundador individual, mas também para o time fundador, tentando analisar fatores como complementaridade e qualidade do relacionamento. Alguns pontos:

  • Esses fundadores vêm de empresas atraentes para candidatos ambiciosos (nos EUA, temos Google, Facebook, Amazon e afins, enquanto no Brasil temos McKinsey, posições em Investment Banking e Ambev).
  • Em termos de escolaridade, grande parte vêm das melhores Universidades, sendo alguns com MBAs. No Brasil, embora seja comum vermos fundadores de unicórnios vindo de MBAs famosos dos EUA, isso não aparenta ser significante. Aqui há o risco de investidores utilizarem esse “pedigree” como filtro, não sendo necessariamente um elemento causal.
  • Uma boa parcela empreendeu previamente, e isso reflete em uma faixa etária entre 30-35 anos. Na mesma faixa etária também são capturadas pessoas que tiveram experiência em gestão ou no mercado que está empreendendo, outros bons sinais para talentos.
  • Fundadores que trabalharam juntos previamente são uma grande pedida, pois evita problemas de conflitos entre os sócios – dado que já passaram pela fase de conhecer os defeitos uns dos outros e já sabem trabalhar tirando o melhor de cada um em grupo.

Traços de comportamento que investidores buscam

Em alguns ensaios e livros, é comum encontrarmos investidores(as) falando do “what we look for in founders”, e os traços mais presentes são:

  • Competência técnica, pois permite iteração rápida do produto. Como destaca Sam Altman (ex-presidente da Y Combinator e fundador da OpenAI): “o maior preditor de sucesso em uma startup de estágio inicial é a velocidade que o time itera o produto”.
  • Drive, usualmente capturado por traços como dedicação, competitividade, auto-motivação e ambição. Tyler Cowen, também da Y Combinator, aponta que um dos sinais que o faz querer investir em um fundador é, ao entrevistá-lo, sentir uma sensação de quase medo dado o tamanho da energia e drive da pessoa.
  • Complementando o Drive, boa moral/ética é fundamental. Sem ela, a ambição da pessoa passa a ser nociva e vai sair pela culatra. Como destaca Paul Graham: pessoas ruins são founders ruins, pois a natureza exploradora de alguém não consegue ser bem sucedida na dinâmica de uma startup, que exige bons relacionamentos, confiança, resiliência organizacional e saltos de fé.
  • Paixão pelo problema e pelo usuário, algo que se reflete em traços de empatia nas pequenas coisas, em uma curiosidade quanto ao comportamento das pessoas e um “senso de audiência” em reuniões e apresentações. A obsessão pelo usuário é o que constrói grandes produtos, fazendo com que essa curiosidade e empatia sejam chave.

E como reconhecer antes dos outros?

Como também diz Sam Altman, reconhecer talentos antes que as outras pessoas o façam é um dos maiores super-poderes que alguém pode ter. Bons investidores(as) geralmente são bons olheiros – sabem identificar inteligência, curiosidade, ambição, ética etc. como ninguém. Maus investidores acabam deixando para “os sinais de mercado”, como uma posição de gestão em uma grande startup ou ter feito MBA em Harvard, decidirem por eles. É o que o pessoal do fundo Bolt defende: investir no coeficiente angular (slope, ou a capacidade de crescer rapidamente), e não no coeficiente linear (y-intercept, ou os marcos da carreira).

Mas como reconhecer potencial de crescimento? Novamente, nada trivial.

Primeiro, boas conversas revelam muito sobre uma pessoa, mas isso demanda que o “entrevistador” seja afiado(a) o suficiente para identificar os traços (ex: é preciso uma pessoa bem inteligente para identificar outra pessoa bem inteligente). Isso pode acontecer não somente por meio de inteligência pura, mas experiência, feeling e reconhecimento de padrão também ajudam. 

Segundo, pode-se desenvolver a habilidade de reconhecer outros “sinais” não tão comuns – como uma habilidade fenomenal em esportes/música, o engajamento por anos em organizações como Escoteiros, hobbies e paixões de infância, assim como comportamentos não-diretamente ligados à vida profissional, mas que indicam espírito empreendedor. É comum, por exemplo, que empreendedores(as) em algum momento da infância tenham sido vendedores de qualquer coisa no colégio (de figurinhas a lanches para colegas). Realizações ligadas à tecnologia na infância, como alguma liderança em comunidade gamer ou participação de grupos de robótica, também são outro sinal comum.

Em suma, saber navegar pela identificação de talentos não é um passe de mágica que qualquer pessoa consegue realizar com um “guia de 7 passos” nas mãos. Apesar disso, entender alguns fundamentos nos processos de decisão ajudam a desenvolvermos cada vez mais essa astúcia. Esperamos que esse texto tenha te ajudado a se guiar um pouquinho mais nesse caminho! 

E se você tem interesse em fazer um programa de empreendedorismo focado na identificação de founders brilhantes conosco, é só entrar em contato com o Ricardo Bueno (ricardo.bueno@wylinka.org.br), nosso Gestor de Relacionamentos e Captação. Também não deixe de nos acompanhar nas redes sociais – Linkedin e Instagram – para saber quando tem texto novo no ar! Because when you rock, #wyrock!

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