Comportamento Empreendedor

Ecossistemas de empreendedorismo: o problema dos superficiais.

17/dezembro/2015

Ecossistemas de empreendedorismo: o problema dos superficiais.

Efeito Dunning-Kruger: fenômeno pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais que outros melhor preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a resultados ruins, porém, esta própria incompetência os restringe da habilidade de reconhecer seus erros. Possuem, assim, uma superioridade ilusória. (fonte: wikipedia)

Acerca deste efeito em ecossistemas de empreendedorismo, Paul Graham abriu uma ótima via de reflexão ao apresentar seus conceitos sobre ideias que parecem boas, mas no fundo são ruins — e recentemente o texto “How to save yourself from a bad startup idea that looks good” aprofundou a questão discutindo sobre como alguns modelos de negócios fracassam por entrar nesse erro. Um dos pontos foi a superficialidade na criação de startups, especialmente em marketplaces, ou o Uber para (adicione algum setor de sua preferência aqui): “This template is as old as the Internet. Take what’s working in one sector, and plonk it into another. It was ‘Website for X’ in the 90s, and ‘Social network for Y’ in the 2000s. But it’s a dangerous stratagem.”

E a questão não é somente apenas sobre marketplaces — o efeito Dunning-Kruger se multiplica em diversos outros ambientes. Há muito espaço para a materialização do mesmo no mercado, especialmente em mercados que vivenciam um processo de amadurecimento recente, sendo o Brasil um ótimo espaço para o florescimento deste perfil. Inunda-se o ecossistema de palestrantes motivacionais, coachs profissionais, consultores estratégicos, aceleradoras, investidores-anjo, meetups e workshops diversos. Todos estes poderiam ser bons e com a profundidade necessária? Sim. Seguindo a mesma regra aplicada ao marketplace: quando se há um profundo conhecimento e experiência do mercado em que se atua, uma proposta de facilitação carrega consigo muita coisa boa. Mas, como já dito, quando esses meios são vistos por profissionais como uma maneira de criar um modelo de negócio próprio (seja no caso de startups, de aceleradoras, de investidores) sem muita profundidade, temos as anomalias, os excessos.

“Qual a definição de insanidade? Repetir as coisas de modo igual e esperar resultados diferentes. Se esse for o padrão, a maioria de nós não é sã, mas não ao mesmo tempo. Mas e se, em algum determinado tema, mais e mais pessoas forem insanas ao mesmo tempo? Isso torna-se sistêmico, como um câncer. O que acontece então? Temos as bolhas: algo incômodo, ansiando por mudanças, que se acumula com o passar do tempo e, de repente, como num estalo, se rompe — explode. Nesse sentido, as bolhas são evolutivas, elas eliminam os excessos, reduzem as manadas, unificam os rebanhos. Elas nunca deixarão de existir, apenas voltarão de formas diferentes. Mas quando explodem, dão a luz a um novo dia, sempre gerando mudanças.”
(Do filme “O lobo de wall street”)

Como surge um superficial?

Não é por mal, acreditem. Essas propostas geralmente nascem com boas intenções — mas em uma jornada carregada de medo, de ego e de falta de ação. Os riscos envolvidos acabam gerando estratégias para minimizá-los, evitando propostas mais ousadas e articulações de qualidade, a falta de maturidade emocional geralmente está ligada a decisões que priorizam o curto prazo em detrimento do longo prazo. Com o ego, vem a mentalidade de competição, a relação “nós versus eles” comum no ecossistema, além de uma falta de honestidade consigo mesmo, com os outros, com a mídia, que coloca mitos em pedestais e constrói personas arrogantes para proteger as fragilidades que carregam dentro de si. E na soma dos dois, temos falta de produtividade por gastar tempo em coisas que não são prioridade, temos também a procrastinação que paraliza.

“Somos assim: sonhamos o voo mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.”
(Irmãos Karamazov, Fiódor Dostoiévski)

do-yoda

Como isso é ruim para o ecossistema (e como podemos melhorar).

Como isso é ruim? Egossistema. E, além disso, um mar de superficialidades imperando nos modelos de negócios, nos programas de aceleração e, como já falamos em um post — nas propostas dos mentores de startups. Os discursos acabam sendo os mesmos, as propostas quase iguais e pouca disrupção ocorre, prejudicando inclusive a imagem das startups no Brasil por conta do hype criado (sobre hype, ler o ótimo artigo “O canto das startups”).

E como podemos melhorar tudo isso? Profundidade e atenção. Compreender nossas limitações, buscar profundidade nas coisas que produzimos e compartilhar colaborativamente o que se propõe a fazer é um caminho interessante para melhorar as entregas — em vez de se fechar e posicionar as entregas como únicas, pensar, de maneira humilde, como os outros podem nos ajudar e enriquecer as construções, assumindo erros e riscos dessa jornada — e, por favor, produtos/experiências com alto valor agregado deveria ser o mínimo.

Por último, saber dizer não — ou seja, ter um sistema de priorização na alocação do seu tempo. Saber dizer não é uma arte de grandes líderes, sendo Steve Jobs uma das maiores representações desse traço. Dizer não para propostas superficiais, dizer não para o que não conseguimos entregar, dizer não para o que não consideramos certo. Foco é saber dizer não, e o nosso ecossistema só tende a amadurecer quando aprendermos a dizer não e mergulharmos em entregas de qualidade.

Enfim, a proposta desse post era a de trazer reflexão sobre o problema da superficialidade no ecossistema de empreendedorismo brasileiro — coisa que nós na Wylinka nos preocupamos muito e tentamos sempre tentar direcionar nossos esforços, embora muitas vezes possamos também cometer nossos erros e ter limitações que buscamos melhorar. Se você considera importante que outras pessoas leiam esse conteúdo, compartilhe e acompanhe nossa página!

Quer ir mais a fundo no tema? #godeep:
-Livro: Modernidade Líquida, Zygmunt Bauman
-Vídeo aula: Hamlet é o anti-facebook, Leandro Karnal — assista aqui.

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