Deep Techs e Startups

A era pós-natural: o impacto da bioengenharia no nosso futuro

28/março/2021

A era pós-natural: o impacto da bioengenharia no nosso futuro

Recentemente, a Amy Webb, fundadora do The Future Today Institute, lançou um excelente report de 504 páginas sobre 12 tendências que transformarão o futuro da humanidade: inteligência artificial; scoring e reconhecimento; novas realidades, mídia e informação; trabalho, cultura e diversão; saúde, medicina e wearables; automação residencial e eletrônicos; política e governo; privacidade e segurança; blockchain, cripto e fintechs; 5G, robôs e transportes; energia, clima e espaço; biologia sintética, biotecnologia e agricultura. O report pode ser encontrado clicando aqui, e nesse link você também vai encontrar os subtemas em reports separados, um formato mais palatável.

Apesar de trabalharmos com diversas frentes na Wylinka, biotecnologia sempre nos inspirou devido à proximidade de muitos fundadores e membros do nosso conselho ligados ao assunto, algo que reflete em muitos dos nossos clientes/parceiros: Fiocruz, Embrapa, Instituto Sabin, Eurofarma, Oxiteno, Solvay, entre outros. E, por isso, resolvemos trazer o que foi trazido por Amy Webb e colegas no que tange à biotecnologia, destacando tendências, e, especialmente, as aplicações que vão nos impactar cada vez mais no futuro.

Photo by National Cancer Institute on Unsplash

Os avanços nas técnicas

Em décadas passadas, grande parte das ciências biológicas estavam orientadas ao entendimento do ser humano — desvendar como nosso corpo funciona para, daí, realizar intervenções preventivas ou curativas. Porém, com o avanço da engenharia genética e da biologia sintética, chegamos a uma nova era: post-natural age, ou era pós-natural, como coloca o The Future Today Institute, trata-se da era em que criamos novos organismos, seja do zero ou por modificações e, com isso, temos uma série de aplicações. Nessa era, o organismo não segue seu curso natural, mas é um produto de inúmeras intervenções e manipulações em um nível profundo de sua biologia, como edições genéticas e produção de órgãos sintéticos. Dentre os avanços, temos, em especial os as técnicas de edição genética, como CRISPR e seus aperfeiçoamentos (Prime Editing e Daisy Drives), melhor domínio sobre a biologia molecular, bioinformática, bioengenharia e biologia sintética, que abriram diversas fronteiras para aplicações que veremos a seguir.

O ser humano sintético

A capacidade desenvolvida para criar órgãos, células e afins se desdobra no conceito de “engineering synthetic humans” — algo de muito longo prazo, mas com passos iniciais importantes sendo dados, como a produção de órgãos sintéticos em laboratório e a possibilidade de criar ambientes sintéticos que simulam organismos vivos (conhecido como organ in a chip, como já escreveu uma analista da Wylinka nesse texto aqui). Alguns casos legais estão na testagem de remédios em modelos in vitro, permitindo analisar efeitos colaterais e outros impactos de longo prazo de medicamentos sem a necessidade de teste com humanos (algo que acelera processos). Uma outra aplicação é o uso de órgãos sintéticos para suprir deficiências em organismos, como a implantação de um útero sintético em ratos feita pela Northwestern University, nos EUA, gerando uma bem sucedida gravidez. Empresas atuando nessa esfera são Organovo, Hurel, Nortis, TissUse, Tara e AxoSim, além da brasileira Tissuelabs.

Vacinas de mRNA

Famosas pelo combate ao Coronavírus (sendo a técnica utilizada nas vacinas da Moderna e Pfizer, duas das principais mais aplicadas na atualidade), as vacinas de mRNA, ou RNA mensageiro, são capazes de estimular a produção de diversos biocompostos pelo nosso organismo, como anticorpos. Além da vacina para Covid, já temos vacina para Malária e outras sendo desenvolvidas por empresas como Moderna e Luina Bio.

DNA Storage

O armazenamento de dados é um desafio que aumenta ao passo que produzimos mais informações, e é por isso que gigantes da TI, como a Microsoft, têm olhado para o campo da biotecnologia em busca de soluções inovadoras. Em um experimento recente, a empresa conseguiu, ao codificar informação em códigos genéticos (conversão dos 1’s e 0’s nos ACTG’s do DNA), armazenar 200mb de dados em uma forma de cadeias moleculares de tamanho inferior à ponta de um lápis. Outros avanços nesse sentido já foram realizados na China, pela Tianjin University, e também por startups, como a Twist Biosciences.

Micróbios manipulados

A engenharia genética tem permitido a manipulação de microorganismos, como no contexto de Microbe Engineering as a Sevice, oferecido pela startup Zymergen (investida por Softbank, Goldman Sachs e outros). A empresa desenvolve micróbios para criação de polímeros que são aplicados na indústria de cuidados pessoais (cremes), agricultura (controle de pragas) e até mesmo aplicações militares. Temos também a Ginkgo Bioworks, conhecida por produzir bactérias personalizadas para facilitar a fertilização de plantações.

Explorando insetos

Mosquitos são vetores de muitas doenças, e controlá-los é um horizonte muito importante para evitar problemas como Dengue, Malária, Febre do Nilo Ociental e outros. A capacidade de modificar mosquitos geneticamente de modo a reduzir sua população (com excesso de mosquitos machos, que não picam, por exemplo) tem sido explorado pelo arquipélago de Florida Keys, que sofre com doenças transmitidas por mosquitos. Nessa abordagem, evita-se o uso de inceticidas e outros químicos no combate às pragas (e nosso sono agradece!). Em outro espaço, temos a manipulação dos mesmos para o uso em alimentação, robótica (soft-robots) e proteína recombinante, como apontado nesse paper de pesquisadores da Tufts University. Dialogando com um post que fizemos sobre o futuro do mercado de alimentação, já há um entendimento que carnes baseadas em insetos representarão um passo importante para combate à fome com crescimento populacional exponencial.

Revertendo envelhecimento

Um tópico um pouco assustador, mas que cresce cada vez mais é a capacidade de utilizar terapias gênicas para reverter o envelhecimento, como fez George Church, do Wyss Institute (Harvard), que conseguiu reduzir o impacto do envelhecimento nas funções renais e cardiovasculares de camundongos. Já na Columbia University, usa-se o CRISPR para quantificar o envelhecimento de células e revertê-lo. No tópico de reverse-aging ou anti-anging, algumas startups se destacam, como a Samumed (US$658MM captados), Calico (US$1.5bi captados) e Juvenescence (US$220MM captados).

E como fica o futuro?

Um dos principais debates em torno desses avanços envolvem regulações e questões éticas. Há muito sendo feito no campo da biotecnologia que navega em zonas cincentas perigosas, como o caso de manipulação de fetos na China, clonagem de pets e biohacking. Como temos visto em casos recentes de problemas de saúde relacionados ao uso de terapias não comprovadas, os efeitos colaterais são infinitos, e, em alguns casos, podem fazer surgir armas biológicas perigosas. O importante, como sempre defendemos, é o investimento em ciência, de modo que estejamos sempre preparados e avançando para a melhoria da condição de vida das pessoas, combatendo doenças e produzindo avanços para maior bem estar.

E se você, empresa ou universidade, quer transformar pesquisas em tecnologias comercializáveis, não deixe de nos procurar — pois trabalhos como geração de tecnologias, análise de portfólios de patentes e engajamento de centros de pesquisa para empreendedorismo e inovação são a nossa praia! Caso tenha interesse, mande um email para a gente no (novosnegocios@wylinka.org.br) que a gente cria o futuro junto! 😀

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