Incubadoras e aceleradoras são diferentes, mas por que não construímos um modelo complementar?
Incubadoras e aceleradoras são diferentes, mas por que não construímos um modelo complementar?
Com o crescimento do movimento de aceleradoras no país, ocorreu de muitas incubadoras de empresas (e muitas organizações diversas além das incubadoras) começarem a se concentrar em construir um modelo de negócios próximo das aceleradoras. O resultado? Um boom de aceleradoras, uma confusão quanto às definições e um claro descaso com os empreendedores envolvidos. O mais importante não era desenvolver as startups, mas criar um modelo que — até então — parecia lucrativo. A regra era simples: você organiza alguns mentores, estrutura (ou copia) um programa de desenvolvimento e oferece uma infra-estrutura, podendo assim ganhar um percentil sobre empresas que apostavam em mercados de milhões. Funcionou? Não para a maioria. Os modelos de aceleração começaram a se mostrar problemáticos e deficitários, o Brasil contou com poucos casos de grandes saídas, mas ainda se acredita em uma possível melhoria — visto que faz-se necessária uma curva de aprendizagem. Concordamos. Inclusive na compreensão de que é importante entender o conceito de aceleração — e realmente construir algo bem estruturado.
Em paralelo, a escassez de recursos destinados às incubadoras era cada vez mais gritante — elas não tinham o mesmo appeal que as aceleradoras e eram vistas como grandes dinossauros, muitos deles parando no tempo por falta de verbas para manutenção e por falta de atualização na gestão do conhecimento (por vezes resultante da escassez de recursos enfrentados).
Portanto, como o ecossistema de empreendedorismo do Brasil se encontra no momento? Aprendendo algumas definições, compreendendo a necessidade da competência na estruturação de modelos de suporte a empreendedores e, por último, amadurecendo em meio a uma crise que tem evidenciado os que estão realmente comprometidos para a melhoria da comunidade (enquanto os que se viam em uma “corrida do ouro” se afastam cada vez mais).
Sobre possíveis definições, nos comprometemos em trazer neste artigo uma diferenciação clara de incubadora para aceleradora, pois acreditamos profundamente que esse tipo de conhecimento melhora nossos ambientes de inovação. Sendo assim, separamos a explanação que melhor elucida as diferenças:
“Filosoficamente, incubadoras foram desenhadas para nutrir negócios nascentes amortecendo-os de seu ambiente, provendo aos mesmos local para crescer em um espaço protegido das forças de mercado. Aceleradoras, em contraste, são desenhadas para aumentar a velocidade das interações com o mercado visando ajudar negócios nascentes a se adaptar rapidamente e aprender.” (COHEN, S. HOCHBERG, Y. V. Accelerating Startups: The seed accelerator phenomenon. Available at SSRN 2418000. 2014.)
Essa citação reflete muito as bases sobre as quais incubadoras e aceleradoras nasceram. Ainda assim, nós vemos que existem muitas incubadoras que já entendem o valor e praticam a exposição através de suas redes (como a iniciativa do Café Empresarial, já em funcionamento na Incubadora do CENTEV/UFV), assim como várias aceleradoras também tentam proteger as aceleradas de algumas das pressões de um novo negócio quando dão suporte de infra-estrutura (como o coworking do SEED, da Techmall, da Acelera MGTI e muitas outras). Com intuito de inspirar os agentes do ecossistema, cada um com sua importância, vamos discutir o que cada uma delas tem de melhor e a desenvolver.
Os prós e contras dos modelos de incubadoras
Uma incubadora, como já falamos, tem o papel de amortecer negócios nascentes de forças ambientais — oferecendo suporte físico (geralmente com custos subsidiados), infra-estrutura de laboratórios de pesquisa, proximidade com ambientes acadêmicos e mecanismos que garantam um apoio em questões envolvendo áreas como administrativo-financeiro.
Por que isso é bom? Pois muitos negócios precisam desse tipo de suporte para se estruturar, especialmente negócios envolvendo desenvolvimento de tecnologias, produtos e mecanismos que se baseiam em uso intensivo de conhecimento.
Por que isso é ruim? Pesquisas já mostraram que as incubadoras garantem maior taxa de sobrevivência às empresas, o que é natural de um ambiente protegido, porém, geram menores taxas de crescimento — um comum efeito apresentado por muitas empresas incubadas: a acomodação. Soma-se isso à escassez de recursos atualmente enfrentada temos grandes dificuldades para esses agentes de inovação.
Os prós e contras de modelos de aceleradoras
Já as aceleradoras, como também já citado, criam uma estrutura baseada em “turmas” (batchs ou cohorts), oferecendo mentoria intensiva, ambiente compartilhado, recursos para desenvolvimento e tudo isso em um período bastante reduzido (geralmente de 3 a 6 meses, podendo variar).
Por que isso é bom? A estrutura de mentoria intensiva é um grande ganho para manter o ambiente vibrante, bem conectado e rico em conhecimento atualizado, isso agregado ao período reduzido de tempo maximiza o aprendizado e amadurecimento das startups.
Por que isso é ruim? O curto período de tempo e alto risco envolvido ao perfil de empresas aceleradas (geralmente TIC’s) acaba direcionando as aceleradoras para um modelo onde a seleção é mais importante que a formação. Juntando esse perfil à baixa compreensão de mercado e preparo por parte dos gestores (e mentores) das aceleradoras, tem-se o desenvolvimento de, basicamente, casas de apostas. Se a aceleradora não é capaz de formar, é melhor que selecione bem — e isso gera as anomalias de um ecossistema concentrado mais em exposição do que em desenvolvimento de bons negócios.
Como criar, portanto, um modelo complementar?
As aceleradoras muito podem agregar devido ao bom relacionamento com agentes de financiamento privado (investidores individuais, fundos, anjos etc), à estrutura de mentorias e ao bom fluxo de informações relacionadas a novos modelos de negócios e mercados em expansão. Em paralelo, incubadoras oferecem um bom ambiente para o desenvolvimento do produto — quesito que deve tornar-se primordial após as reflexões em relação ao modelo de negócios geralmente realizadas em aceleradoras. Em suma, as aceleradoras podem amadurecer o modelo e a estrutura de um negócio, além de conectar ativamente com o mercado, ao passo que as incubadoras fornecem um rico ambiente para desenvolvimento de produto e fortalecimento das bases competitivas da organização nascente.
Esse texto foi baseado em um estudo científico produzido por um dos gestores da Wylinka junto a outros pesquisadores da USP, para ler o estudo completo, faça o download clicando aqui.
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